Foto: divulgação/CREA-MS
Foto: divulgação/CREA-MS

Pensar e Agir

Número de engenheiras no ES dobra em 10 anos, mas desafios continuam

Cada vez mais mulheres têm escolhido a área da engenharia para seguir. São três mais procuradas: civil, segurança do trabalho e ambiental

Acompanhar as mulheres dominando profissões que, antes, eram consideradas masculinas, é fruto de anos de luta por igualdade de direitos. A área de engenharia, por exemplo, é uma das áreas historicamente associada aos homens. A história, porém, está mudando.

No Espírito Santo, segundo dados do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-ES), a engenharia civil é a área mais procurada pelas mulheres. Em 2014, o CREA tinha 1.985 engenheiras civis cadastradas e, em 2024, esse número subiu para 5.158, mais que o dobro.

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Naturalmente, a engenharia civil é, também, a mais procurada na academia. No curso oferecido pela Faesa, o número de mulheres que são estudantes corresponde 50%, segundo a coordenadora Joice Tosta. Apesar do número positivo, ela chama a atenção para a realidade das mulheres no mercado de trabalho.

“O total de horas gastas por mulheres semanalmente com afazeres domésticos é de 21,3 horas, enquanto homens gastam 11,7 horas. Sem falar da sobrecarga mental, porque você está no trabalho e pensando na lista do mercado, no médico que precisa marcar para o filho… E, mesmo com essa sobrecarga, você ainda consegue fazer a mesma entrega que seu colega do gênero oposto faz com o mesmo cargo”, explicou.

Joice Tosta. Foto: Reprodução/TV Vitória

Para a coordenadora, as mulheres estão se impondo muito mais, mesmo com a questão do assédio e da desigualdade salarial. Por isso, o trabalho na academia é importante para preparar essas futuras engenheiras a lidar com o que virá pela frente, no âmbito pessoal, técnico e profissional.

“Precisamos de políticas mais rígidas, de mais cobranças para melhorar esse cenário. Hoje, para conseguir seu espaço, você tem que quebrar uma série de barreiras”, completou.

Inspirada pelo padastro, estudante de engenharia aposta na topografia

Sthephany Siqueira é uma das estudantes de engenharia da Faesa que se arrisca no mercado de trabalho e já tem um cargo bem definido: a topografia. Inicialmente, ela era estudante de educação física, mas, durante a pandemia, teve a oportunidade de trabalhar como topógrafa com o padastro.

Então, se apaixonou e decidiu cursar engenharia para agregar conhecimento e, em um futuro próximo, ter sua própria empresa. Ela reconhece que a área é majoritariamente masculina, mas não deixa que isso seja um empecilho.

Sthephany Siqueira. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“O preconceito é visível em todo lugar, mas acredito que hoje em dia a mulher consegue exercer seu direito. Tem que correr atrás, tem que batalhar. Para mulher não é fácil, mas se tem um sonho, tem que correr atrás e fazer o possível independentemente da opinião alheia”, disse.

No mercado de trabalho, mulheres se apoiam

Cada vez mais mulheres têm escolhido a área da engenharia para seguir a carreira profissional. São três áreas mais procuradas: civil, segurança do trabalho e ambiental.

Para as engenheiras capixabas, como será o caso de Sthephany em breve, existe o Programa Mulher CREA ES, que oferece orientação e apoio para as mulheres que exercem a profissão. São, aproximadamente, 300 profissionais que fazem parte desse ambiente de suporte.

A coordenadora do programa, Mariana Munsk, explica que a ideia é atingir a igualdade de gênero no sistema, com a realização de diversos eventos e ações. Inclusive, é um canal de denúncia para assédio e disparidade salarial.

Mariana Munsk. Foto: Reprodução/TV Vitória

“Fazemos as capacitações necessárias, eventos, acolhimento e apoio para capacitar essa mulher. Incentivamos a equidade de gênero dentro do nosso sistema. Temos que tirar a predominância masculina e incentivar as mulheres e escolherem a engenharia. O ambiente está preparado, as mulheres podem alcançar casos de sucesso e empregos de alta gestão”, explicou.

Mesmo em cargos de liderança, mulheres ganham menos que homens

Mesmo com avanço em legislações para equidade de gênero nas condições de trabalho, as mulheres ainda sofrem com remunerações menores e menos oportunidades no emprego.

Um boletim especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que diretoras e gerentes ganharam, em média, por mês, R$ 6.798, enquanto homens, nos mesmos cargos, R$ 10.126, uma diferença de R$ 3.328 mensais. Por ano, esse valor equivale a R$ 40 mil a menos.

Sayury Otoni, coordenadora do curso de direito da Faesa, afirma que o mercado não é inclusivo para as mulheres em cargos de liderança e que, apesar de muitos avanços, ainda é preciso caminhar bastante para a paridade deixar de ser somente simbólica.

“É uma realidade ainda muito dura para as mulheres. Muitas têm preparo e condições de assumir cargos de liderança e, muitas vezes, por uma questão de paridade, elas chegam ao poder. Mas ainda não é dada a voz. Para obter o direito de fala e de ser ouvida, a gente tem que brigar muito. A paridade é simbólica e conquistada a duras penas”, contou.

A professora lembra, também, do esforço maior que as mulheres precisam ter para alcançar os cargos nos quais são ocupados, geralmente, por homens.

Sayury Otoni. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“Quando a mulher vem para o mercado, ela tem que se provar muito mais do que os homens. Parte-se do princípio que o homem tem capacidade natural e a mulher tem sempre que provar”, finalizou.

Carol Poleze, repórter do Folha Vitória
Carol Poleze Repórter
Repórter
Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).