O Livro Bege do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, foi divulgado ontem (02). O documento, que é publicado oito vezes ao ano, contém informações qualitativas sobre a situação da economia americana, sinalizando a visão do Fed sobre os rumos da economia americana e, principalmente, a respeito das decisões do Federal Reserve. Assim, mudanças na política monetária podem ser sinalizadas no relatório, por exemplo, o que impacta de forma ampla o mercado financeiro no mundo.
Para formular o relatório, o Fed realiza entrevistas com empresários, empregados e economistas. Assim, caso um empresário esteja abrindo vagas de emprego, por exemplo, pode ser um sinal de que a economia está crescendo ou que ele possui expectativas positivas para o cenário futuro.
Entre os principais destaques, o documento aborda vários exemplos de interrupções na cadeia de suprimentos devido à pandemia. Assim, a despeito da forte reabertura econômica no país, a escassez de mão de obra e insumos prejudicou a velocidade da retomada das atividades econômicas em várias regiões dos Estados Unidos.
Em outras palavras, o Federal Reserve enxerga que as pressões inflacionárias, que cresceram nos Estados Unidos desde abril, devem continuar para os próximos meses, com as empresas esperando um aumento contínuo dos custos e preços.
Dessa forma, é possível que o aperto monetário, com o aumento da taxa de juros americana, aconteça antes do esperado. Isso pode afetar outras economias, como o Brasil, porque com retorno maiores na renda fixa americana, a alocação de capital em outros países perde a atratividade, ao menos que os retornos também aumentem. Ou seja, neste caso, os juros no Brasil tendem a subir, assim como em outros emergentes, por meio de uma reação em cadeia.
Apesar disso, vale ressaltar que é natural um aumento inflacionário neste momento, principalmente tendo em vista a base de comparação fraca. A questão a ser observada nos próximos meses é se a pressão inflacionária é apenas um repique ou se será prolongada?
Além disso, investidores estão à espera do Federal Open Market Committee, uma espécie de Boletim Focus do Brasil, que atualizará suas previsões trimestrais para as taxas de juros, crescimento, desemprego e inflação em seu encontro de 15 a 16 de junho.
Além disso, o documento apontou que dois terços dos distritos tiveram um crescimento modesto em relação ao emprego. E, com a desaceleração da pandemia, o crescimento foi mais forte em setores como alimentação, hospitalidade e varejo.
Contudo, os problemas nas cadeias de suprimentos não impediram que o ritmo da recuperação aumentasse em abril e maio, à medida que os gastos do consumidor voltaram a crescer, com taxas de vacinação mais altas e medidas de distanciamento mais flexíveis. O problema, portanto, atingiu empresas que não conseguiram atender o crescimento da demanda de seus clientes.
“A economia nacional se expandiu em um ritmo moderado do início de abril ao final de maio, uma taxa um pouco mais rápida do que no período do relatório anterior”, constatou o Fed. Esse movimento foi impulsionado pelo avanço da vacinação, de forma a estimular o aumento de gastos dos consumidores.
Porém, destacou que a produção nas fábricas viu um aumento, mas que os desafios da cadeia de abastecimento continuam interrompendo a produção. Assim, “as pressões gerais sobre os preços aumentaram ainda mais desde o último relatório. Os preços de venda aumentaram moderadamente, enquanto os custos dos insumos aumentaram mais rapidamente”.
Contudo, de maneira geral, a visão apresentada pelo documento é que as expectativas sofreram poucas mudanças, com um cenário econômico otimista e sólido pela frente. Por fim, com uma perspectiva alinhada com o que o mercado esperava, os principais índices ficaram praticamente estáveis no fechamento do mercado de ontem.
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