Mar 2022
20
Tiago Pessotti
MERCADO DIÁRIO

porTiago Pessotti

Mar 2022
20
Tiago Pessotti
MERCADO DIÁRIO

porTiago Pessotti

Entendendo o contexto

Em 2018, ano em que ocorreu a paralisação nacional dos caminhoneiros, havia diversos fatores que incomodavam a categoria. Aumentos constantes do diesel, que segundo eles, ocorriam sem qualquer forma de aviso prévio, aliados à uma insatisfação com a cobrança de pedágio de eixos suspensos e tributação do PIS/Cofins em cima do diesel, contribuíram com a greve iniciada em 21 de maio daquele ano.

Passado os anos, há evidências que sugerem que não foi somente uma greve, havendo também evidências da prática do locaute, quando a paralisação vem por partes dos empregadores, em vez de trabalhadores, com seus funcionários tendo aderido a empresas e sindicâncias que ditavam os movimentos que a categoria deveria seguir, e é prática proibida por lei.

E no cenário atual, como a situação se encontra?

Com o aumento expressivo dos combustíveis, o diesel se encontra no maior patamar dos últimos 12 meses (há 1 ano atrás o preço médio do diesel se encontrava em torno de R$4,73) e com isso surgiu-se novamente o medo de uma nova paralisação.

Conversamos com  Sperandio, editor-chefe da APEX Partners e colunista de análise política da Folha Vitória, que nos trouxe um escopo da situação atual em comparação com a ocorrida em 2018.

Para ele, o movimento em torno de uma nova paralisação agora é mais enfraquecido. “Não há hoje, uma conjuntura de fatores que nos leva a crer em uma paralisação estrutural da categoria, como ocorrida em 2018. Há uma falta de adesão e consenso entre as entidades e sindicatos representantes. Temos também uma maior proximidade do governo com a categoria, maior inteligência e monitoramento da Polícia Rodoviária para identificar quando, onde e quem começou a manifestação, desbloqueando avenidas, e, por decisão do STF, agora há maior poder de responsabilização cível aos caminhoneiros que bloquearam vias públicas”, comentou.

Outros fatores que enfraquecem a adesão da categoria inteira, é a resposta que o governo tem apresentado. Além da proximidade, Bolsonaro e Ministros têm criticado publicamente a política de preços praticada pela Petrobras, embora ao mesmo tempo negam qualquer intervenção nela.

Há também a aprovação da PLP 11/20, que diz respeito à cobrança monofásica (que só ocorre em uma etapa da cadeia de produção) do PIS/Cofins dos combustíveis e traz uma redução efetiva no preço do diesel, de aproximadamente 60 centavos na média nacional.

De modo alternativo, já existe a discussão de novas medidas, embora algumas o governo seja contra, como a aprovação de um fundo de estabilização, que visa estabelecer a fixação dos preços, por exemplo:

Suponhamos que a gasolina esteja sendo vendida a R$5,00, porém no mercado internacional está valendo R$4,80, ela continuaria sendo vendida a R$5,00 e essa diferença de 20 centavos em relação ao mercado externo iria para um fundo, que teria como objetivo segurar os preços em R$5,00. Desta forma, caso aconteça da gasolina passar a ser vendida no mercado internacional a R$5,20, o preço de R$5,00 no mercado interno seria mantido e o valor arrecadado pelo fundo de estabilização durante a disparidade dos preços de R$4,80 e R$5,00 iria ser utilizado para financiar o “prejuízo” decorrente dos preços menores para com o mercado externo. O governo é contra, com Paulo Guedes dizendo que fixação de preços é “coisa de maluco”.

A gasolina é sempre um tema problemático para qualquer governo e para a sociedade. Porém, devido aos fatores mencionados e a falta de semelhança com a conjuntura de 2018, a tendência é que não ocorra uma paralisação geral, mas há a possibilidade de movimentos isolados ocorrerem. Em suma, o momento é de atenção, mas devemos sempre enxergar as situações de mercado com calma, com o objetivo de não tomar decisões precipitadas, principalmente aquelas que podem comprometer nosso patrimônio.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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