Abr 2022
2
Tiago Pessotti
MERCADO DIÁRIO

porTiago Pessotti

Abr 2022
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Tiago Pessotti
MERCADO DIÁRIO

porTiago Pessotti

Europa esfria enquanto os EUA superaquecem

No continente europeu, tivemos a divulgação do PMI em toda a zona do euro, e o resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, o que começa a ser um dos primeiros reflexos da Guerra. Ainda falando dos nossos amigos do velho continente, eles enfrentam agora um inimigo particularmente comum do brasileiro: a inflação. O Consumer Price Index – CPI – índice equivalente a nosso IPCA, se encontra em níveis recordes, chegando a 7,5% no acumulado de 12 meses.

Outro fator que contribui para o aumento é a incerteza em torno do fornecimento de energia, onde uma parcela significativa se origina da Rússia, que por conta do conflito e algumas declarações de Vladimir Putin sobre uma possível mudança na forma de pagamento dos contratos de gás natural, tem empurrado os preços para cima. Todos os fatores combinados indicam que a zona do euro mostra sinais de desaceleramento.

Por outro lado, a economia americana parece pujante, com o desemprego em níveis semelhantes aos anteriores da pandemia, estando em 3,6%, fora o PIB, que cresceu 6,9% no quarto trimestre de 2021. No entanto, conforme a divulgação do Payroll, ele veio abaixo do esperado pelo mercado, que precificava 490 mil novas vagas de emprego não relacionadas com o setor agrícola, mas foram 431 mil. O salário pago por hora trabalhada também aumentou 0,4%. Estes números causam uma reversão nos rendimentos das curvas de juros de 2 a 5 anos, o que pode sinalizar uma recessão a caminho.

Por conta disso, a pressão sobre o FED – Banco Central Americano – para aumentar os juros em 0,5% na próxima reunião em maio, aumenta. O movimento é esperado já há algum tempo, visto que a economia mostra sinais de estar em ritmo acelerado e pode superaquecer, mas o FED vinha evitando qualquer aumento desde o ano passado.

Entre os emergentes China dá indícios de pequeno recuo no crescimento e Brasil passa a ser a bola da vez

Do lado oriental, os dados do PMI industrial chinês foram divulgados e vieram abaixo do esperado. Os números mostram um desaquecimento da economia chinesa como um todo, principalmente com os temores de novos lockdowns, como o que está sendo feito em Xangai; contudo, não se trata de uma recessão e sim de uma redução no crescimento anual da China.

Mesmo que estejam do outro lado do planeta, um desaceleramento da economia chinesa pode impactar o bem-estar econômico do Brasil. Afinal, os chineses são os principais importadores de produtos brasileiros, e com a economia mais fraca, podem acabar demandando menos de nossas exportações e diminuir nossa receita.

Apesar disso, o Brasil é uma das poucas economias que está se aproveitando da delicadeza da situação global. A alta das commodities ocasionada pelo conflito beneficia, e muito o Brasil, pois temos uma economia calcada na exportação de commodities do agronegócio. Também tivemos na segunda-feira, a divulgação do Caged, dado referente ao número de novos postos de trabalho formais que surgiram, e que vieram acima do esperado.

Outro dado relevante foi o nível de produção industrial brasileira, que cresceu 0,7% entre janeiro e fevereiro. O maior inimigo, entretanto, continua sendo a inflação, que no acumulado de 12 meses, se encontra em 10,79%; isso sem refletir os impactos da Guerra, então a situação pode ser ainda pior quando estes chegarem.

Enquanto as bolsas americanas andaram de lado, a Bovespa decolou. O movimento de descolamento é impulsionado pelo fato de que Roberto Campos Neto, parece finalmente ter acertado a mão no ajuste de juros e na projeção para o fim do ciclo de alta, com os setores de varejo e construção civil, se recuperando levemente pois o mercado agora acredita nessa narrativa. O fluxo de capital estrangeiro também aumentou, e tem entrado cerca de R$ 1 bilhão de reais por dia de origem estrangeira, o que têm depreciado o dólar frente ao real.

Com a Guerra, houve um redirecionamento do capital alocado em outros países emergentes como a China, Rússia e Índia para o Brasil, que agora é visto como uma espécie de porto-seguro entre os países em desenvolvimento, tendo apresentado melhorias na gestão pública, que tem tido superávits, indicando um menor risco fiscal.

O Brasil tem um certo histórico de passar por bons momentos enquanto o mundo passa por uma turbulência, muito em parte, por conta de que nesses períodos, as commodities costumam valorizar. Resta agora, observamos os próximos passos da economia mundial para sabermos quando passaremos por mais dificuldades.

 

 

 

 

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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