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MERCADO DIÁRIO

por Tiago Pessotti

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Copom decide juros nesta quarta; projeção sobre o corte da Selic divide o mercado

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia hoje (7) um dos eventos mais aguardados da semana no Brasil, podendo confirmar amanhã (8) mais um corte da taxa de juros, a Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. Contudo, a magnitude da redução está gerando divergências entre analistas de diferentes instituições. Na última reunião realizada em março, o Copom anunciou o sexto corte consecutivo da taxa Selic, reduzindo-a para 10,75% ao ano. Essa decisão era amplamente esperada pelo mercado e foi tomada de forma unânime.

Qual o tamanho do corte esperado para a Selic?

A capacidade de reduzir os juros além das expectativas está se tornando mais desafiadora, à luz dos recentes indicadores econômicos. A taxa de desemprego atingiu uma nova mínima e a contratação no setor formal permanece sólida, sugerindo que o mercado de trabalho continua robusto. A PNAD revelou uma taxa de desemprego de 7,9%, abaixo do consenso de 8,1% esperado, enquanto o CAGED registrou a criação de 244 mil vagas, superando as 193 mil projetadas. Esta semana, a atenção volta para a reunião do COPOM na quarta-feira. Roberto Campos Neto, em sua palestra no FMI, discutiu as condições e o plano de ação para a decisão, levando em conta os juros nos Estados Unidos e a situação fiscal do Brasil. Ele enfatizou que o indicador de incerteza, refletido na cotação do dólar, será monitorado, observando que na última reunião do COPOM o dólar estava em 4,95, enquanto agora está em 5,10. Com as expectativas de inflação deteriorando-se nos próximos anos, mais de 50% do mercado espera um corte de 0,25% esta semana. No entanto, a análise da última ata sugere que um corte de 0,50% é mais provável, uma vez que a orientação futura de mais cortes já foi retirada. Algumas notícias recentes trouxeram uma perspectiva mais positiva para os ativos internos. A Moody's revisou a perspectiva de rating Ba2 do Brasil para positiva, devido às expectativas de um crescimento mais robusto impulsionado por reformas estruturais. No setor externo, as transações correntes registraram um déficit de US$ 4,6 bilhões em março, abaixo do esperado pelo mercado (US$ -3,1 bilhões), mas acima de nossa expectativa (US$ -5,8 bilhões). Esse déficit equivale a 1,5% do PIB nos últimos 12 meses. No mercado cambial, houve um saldo negativo de US$ 906 milhões entre os dias 22 e 26 de abril, refletindo um fluxo negativo de US$ 2,2 bilhões no segmento financeiro e um fluxo positivo de US$ 1,3 bilhão no segmento comercial. Por outro lado, a balança comercial registrou um superávit de US$ 1,1 bilhão entre os dias 22 e 28 de abril. Como resultado, o saldo dessazonalizado e anualizado atingiu US$ 75 bilhões e US$ 34 bilhões, respectivamente, excluindo petróleo. Um tema adicional que merece destaque é a desoneração da folha de pagamentos, atualmente em discussão entre o governo e o Judiciário. Um efeito imediato é a falta de um cronograma institucional para uma decisão. O Ministro Zanin declarou que só decidirá sobre a aplicação da liminar após o julgamento definitivo, mas isso depende de um pedido de vistas. Enquanto isso, a data de pagamento se aproxima e o Judiciário tem pouca capacidade de resistir à pressão do Congresso e dos empresários sobre o governo. Para evitar uma crise entre os poderes e as ameaças de retaliação do Congresso, a solução poderia ser retomar as negociações com os municípios e os parlamentares.

Cenário internacional

Houve a decisão sobre as taxas de juros nos Estados Unidos, mantendo-as, conforme amplamente esperado, entre 5,25% e 5,5%. O foco principal estava na comunicação após um início de ano com pressão inflacionária mais pressionada. No comunicado, foi reconhecido que a inflação no início do ano superou as expectativas, o que não favorece a perspectiva de flexibilização monetária. Além disso, foi divulgada uma atualização no ritmo mensal de QT, esperando-se uma redução para 30 bilhões, mas, na prática, foi reduzido um pouco menos para 25 bilhões. Durante a entrevista, uma das questões principais foi sobre a política de juros, questionando se o atual nível era restritivo. Powell considera que a taxa vigente é restritiva e impacta negativamente a demanda. Ele citou dados do mercado de trabalho, incluindo o JOLTS, que mostrou o número de vagas e a taxa de demissão voluntária diminuindo. Ele afirmou que, com o tempo e as taxas nesse patamar, a inflação poderia, teoricamente, retornar à meta. Quando questionado sobre um possível aumento dos juros, ele afirmou ser improvável, sugerindo que a alternativa seria manter as taxas mais altas por mais tempo. Após a reunião do FED, na sexta-feira, o Payroll divulgou um número positivo, em linha com as expectativas do FED, apesar de ainda ser um número elevado de contratações. A criação de vagas caiu para 175 mil em abril, destacando-se principalmente no setor de saúde, enquanto os demais setores mostraram desaceleração. Os salários também ficaram um pouco abaixo do esperado, com um aumento de 0,2% no mês, especialmente devido ao setor de serviços estar em um ritmo mais moderado, o que é positivo para o FED. No entanto, é importante ressaltar que ainda não há condições para considerar uma redução de juros, uma vez que a inflação permanece uma preocupação. Por outro lado, os ISM PMI de manufatura e serviços ficaram abaixo das expectativas, com os componentes de demanda e atividade desacelerando. No entanto, esses componentes aumentaram no mês, o que não resolve completamente as questões para o banco central, pois há dúvidas sobre o quanto a inflação pode desacelerar e se essa desaceleração é suficiente para reduzi-la, dada a persistência de preços elevados. A economia continua robusta, com alguns sinais de moderação, e o conjunto de dados do segundo semestre fornecerá respostas a essas questões.