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O setor de saúde passa por uma era de consolidação. Com a corrida de grandes grupos para adquirir hospitais e planos de saúde, a concorrência estimula novos investimentos, melhorias operacionais e inovação das empresas do setor. Sobre esse novo momento do mercado de saúde e suas principais mudanças no Espírito Santo, fomos recebidos pelo médico e gestor Alexandre Ruschi, presidente da Central Nacional Unimed e da Federação Unimed no Espírito Santo. Ruschi é tido por seus pares como “o melhor gestor de saúde do Brasil”, em referência aos resultados positivos que apresentou ao longo de sua carreira.
Nos últimos anos, o Espírito Santo foi invadido de maneira inédita por grupos internacionais que aplicaram recursos no setor da saúde. Uma lei aprovada em 2015 passou a permitir o capital estrangeiro em empresas do setor de saúde, e desde então o setor vem sendo visado por fundos de investimentos internacionais.
Esse movimento se iniciou com mais força nos grandes centros do país e chegou no Espírito Santo mais recentemente, há cerca de 2 anos, movimentando um valor estimado (de acordo com fontes), em torno de R$500 milhões, em movimentos que passaram pela aquisição de empresas como o Hospital Metropolitano, o laboratório Multiscan e a operadora de saúde SAMP.
Segundo o presidente da Central Nacional Unimed (CNU), Alexandre Ruschi, esse movimento foi mais agressivo que o esperado: “essa chegada dos grandes investidores foi surpreendente pois o mercado de saúde capixaba nunca foi um tão atrativo. Mas eles chegaram com força”.
O fundo Pátria – capitalizado pelo megafundo novaiorquino BlackStone, com $545 bilhões de dólares sob gestão -, adotou no estado uma estratégia com planos de saúde de baixo custo. Mas ao mesmo tempo em que comprou planos de saúde com ticket médio menor [São Bernardo Saúde e SAMP], tornou-se dono de um dos hospitais mais caros e complexos do estado, o Vitória Apart Hospital.
Já o HIG, grupo que gere $30 bilhões de dólares globalmente, se tornou acionista majoritário do Grupo Meridional, dono do Hospital Meridional e acionista de outros 8 hospitais (como Metropolitano, Praia da Costa, São Francisco e São Luiz), e aposta na estratégia de multiparcerias, atuando com rede mais completa e aberta.
Para Ruschi, esse movimento de consolidação do setor de saúde no Espírito Santo ainda está sob avaliação. Ainda não é claro como esses grupos pretendem estruturar suas operações de maneira eficiente, já que a sustentabilidade desses empreendimentos demanda uma rede mais numerosa e completa de hospitais.
Ruschi pontua que essa onda de fusões e aquisições é um dos sinais do forte crescimento do mercado saúde privado no Brasil. Ele acredita que no contexto atual é impensável acreditar no domínio do setor público: “cabe ao Sistema Único de Saúde (SUS) garantir o acesso mínimo para boa parte da população, mas é incabível pensar que ele seria capaz de suprir as necessidades de todos”.
Apesar de crescer em ritmo acelerado, Alexandre acredita que ainda há espaço no mercado de saúde privada: “as oportunidades ainda são muitas no segmento, o que me leva a acreditar que o mercado tende a se expandir muito nos próximos anos, inclusive com apoio de investimentos estrangeiros, seja no setor hospitalar ou de planos de saúde”.
Os números não deixam mentir: o mercado de saúde complementar brasileiro ainda não se recuperou de sua máxima histórica, quando tinha 55 milhões de clientes. Hoje, o mercado opera com cerca de 48 milhões de vidas.
Contudo, ainda são numerosos os desafios para crescimento no setor. Na visão de Alexandre Ruschi, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vem atuando de forma punitiva ao invés de fomentadora do segmento de saúde. “É quase um órgão de defesa do consumidor”, define.
Ruschi evidencia que a falta de gestão no segmento é um entrave para o desenvolvimento da saúde pública e privada. “É normal haver desperdício no setor e as grandes redes hospitalares resolvem isso por meio da centralização de contratos, como os de compra de materiais, e também compartilhando informações”.
Ele avalia que o modelo ineficiente praticado no Brasil é “uma cópia mal sucedida do modelo de saúde americano: nos tornamos permissivos, sem controle e descentralizados. O Brasil passou a ser uma ‘ilha da fantasia em saúde'”, aponta, em referência aos grandes desperdícios nos hospitais.
Outro ponto a se pensar é a forma de atender o paciente durante a vida. “O melhor modelo para os médicos e pacientes prevê como porta de entrada o médico de atenção primária, que está na comunidade, que conhece a família e acompanha o paciente desde o nascimento. Os modelos mais bem sucedidos privilegiam a qualidade — para o gestor, Vitória é modelo nacional nesse tipo de medicina.
Nessa nova era da concorrência, a Unimed ainda deve passar por mudanças inovadoras no sistema de governança e de gestão. “Para nos mantermos à frente mesmo com a pressão concorrencial, uma das metas é realizar uma integração entre os 120 hospitais Unimed do país, que atualmente não são interligados. A ideia é fazer compras conjuntas, manutenção conjunta e reduzir custos e desperdícios”, o que gerará ganhos de eficiência para o sistema.
Ruschi comenta que a Unimed “está conversando com o mercado todo. Vamos anunciar algumas parcerias estratégicas importantes ainda no primeiro trimestre de 2020”. Recentemente a Unimed lançou o Fundo Imobiliário Hospital Unimed Sul Capixaba (negociado na bolsa de valores pelo código HUSC11), cujo ativo é um hospital que foi inaugurado em 18 meses com muito sucesso na cidade de Cachoeiro de Itapemirim.
“Não foi levantado em 10 dias como fizeram os chineses, mas consideramos um grande sucesso”, brinca. “É um modo dos médicos participarem do hospital não só com trabalho”. Ruschi nos contou que o fundo começa a distribuir dividendos para os acionistas a partir do mês de março de 2020.
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