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Recolhemos fatos e dados que mostram que COEs (Certificado de Operação Estruturada) escondem altas taxas de remuneração para vendedores sem transparência para seus investidores. Polêmicos no exterior (a venda indiscriminada de COEs – os Structured Notes americanos – rendeu uma multa violenta para os bancos americanos UBS e Merrill Lynch), os COEs chegam a pagar até 4% do valor aplicado para seus vendedores em corretoras brasileiras– enquanto um fundo imobiliário paga R$0 e uma ação cerca de R$2,49 a R$18,90 a depender da instituição financeira. De onde sai o dinheiro para remunerar quem vende produtos caros? Do bolso do investidor. A seguir, revelamos o quanto de fato esses produtos remuneram a seus vendedores, e os efeitos disso.
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QUANTO O COE REALMENTE PAGA DE COMISSÃO?
Consultamos as comissões que responsáveis pela distribuição de investimentos recebem ao alocar os recursos de seus clientes em COEs. Lembramos que problema não é o ativo aos quais os COEs se vinculam, e sim as altas taxas que prejudicam o investidor. E um agravante: não há publicidade desses dados para os clientes que investem nesses produtos.
1. CS Saúde Digital 5,5 anos – comissão imediata de 4% sobre o valor da aplicação para o vendedor
2. CS Índice E-Sports 5 anos; BNP Índice Fundos Internacionais – comissão imediata de 3,5% sobre o valor da aplicação para o vendedor
3. MS Autocall Vale, Suzano, Localiza e Via Varejo 5 anos – comissão imediata de 3,25% sobre o valor da aplicação para o vendedor
4. MS MAP Trend Bidirecional Alavancado- comissão imediata de 3% sobre o valor da aplicação para o vendedor
5. MS Morgan Stanley Global Opportunity Ganho Travado 5,5 anos – comissão imediata de 2,5% sobre o valor da aplicação para o vendedor
6. Fundo Imobiliário comprado em bolsa de valores – R$0
7. Ações compradas em bolsa de valores – 70% da corretagem por ação (a corretagem varia de R$2,49 a R$18,90 a depender da corretora)
As comissões mínimas consultada foi entre 1,00% e 2,25% para COEs distribuídas no mês de julho.
ALTAS COMISSÕES DISTORCEM INCENTIVOS E PREJUDICAM INVESTIDORES
O COE (Certificado de Operações Estruturadas) é uma modalidade de investimento que funciona como um ‘envelope’ que mistura ativos de renda fixa e renda variável e transmite sofisticação e sensação de segurança para o investidor, mas esconde um conflito de interesses: altas taxas de comissão que incentivam a venda do produto e acabam concentrando a carteira de investimentos de clientes em COEs muito além do devido de acordo com as melhores práticas de investimentos.
Em um mundo repleto de incertezas, mudanças e volatilidade, investir em um produto de renda variável que limite o prejuízo potencial e expõe a um grande potencial de valorização parece atrativo. E o COE faz exatamente isso. E muitas vezes acoplado em excelentes ativos, como ações de grandes empresas americanas ou brasileiras. Mas o problema não se origina do produto, e sim no quanto se cobra para investir nele. E não é nada barato.
As altas taxas embutidas nos COEs refletem em altas remunerações para os bancos, corretoras e seus respectivos gerentes e assessores que os distribuem. Isso se torna um incentivo direto para que vendedores de investimentos coloquem nas carteiras de seus clientes mais COEs do que deveriam, de forma descoordenada com o perfil de risco e o objetivo de investimento do cliente.
Como demonstram os pesquisadores de Yale Ibbotson e Kaplan em estudo, em média 90% do retorno de um portfólio está relacionado a composição de portfólio em diferentes classes de ativos e a exposição a diferentes fatores de risco.
Isso significa que a alocação indevida de portfólios, incluindo a concentração em COEs, gera prejuízos para o investidor no longo prazo.
No mesmo sentido, o gestor americano Ray Dalio coloca como fonte de aumento de retorno com redução de risco o investimento em “15 a 20 bons ativos descorrelacionados”.
O investidor americano Warren Buffet (assim como seu professor Benjamin Graham) entendem que um bom investimento é aquele realizado em bons ativos geradores de caixa e pagadores de dividendos a preços atrativos justamente para evitar pagamento de taxas, comissões e impostos na venda de ativos.
O dinheiro para comissões tem que sair de algum lugar; nesse caso sai do seu bolso, investidor.
Considere um gerente ou assessor que consiga captar um investidor com R$ 1 milhão neste mês. Se esses valores forem alocados em COEs, o escritório ou banco distribuidor terá remuneração (com base nos valores acima mencionados) entre R$ 22.500,00 e R$ 40.000,00 imediatamente.
Contudo, se esse R$ 1 milhão for alocado em 20 ações distintas (o número de ativos que o investidor americano Ray Dalio considera ideal para compor um portfólio de investimentos), a remuneração do escritório e do assessor deixa de ser atrativa. Considerando que algumas corretoras cobram 0 de corretagem em ações, a remuneração do escritório seria R$0. Considerando maior taxa de corretagem do mercado de R$ 18,90 por ordem, e a comissão do vendedor sendo 70% disso, a renda total fica em: R$ 264,60 (de 85x a 151x menor).
Em comparação com COEs e ações, outras classes de ativos importantes para um portfólio são ainda menos atrativas para distribuidores. Fundos Imobiliários comprados pelo próprio cliente na bolsa (sem participar de aumentos de capital) não remuneram o distribuidor, dado que a corretagem é zero. Fundos Multimercado remuneram algo em torno de 0,3% a 0,5% ao ano.
Atualmente é possível comprar a bolsa americana na bolsa brasileira com o ETF ‘IVVB11’, ou ações americanas via BDRs para quem for investidor qualificado. Algumas instituições como XP Investimentos e BTG Pactual oferecem fundos com baixas taxas para investimento no exterior para investidores de varejo.
Os COEs, chamados de Structured Notes ou Market Linked Investments em inglês, tem a reputação manchada também nos Estados Unidos. A falta de transparência sobre estratégias e taxas tornou bancos distribuidores do papel alvos de investigações e multas milionárias do SEC, órgão regulador do mercado financeiro americano.
O Banco Merrill Lynch e o UBS foram multados em dezenas de milhões de dólares por falta de transparência e omissão de informações referentes a taxas e estratégias de seus COEs.
Em vídeo publicado em seu canal do YouTube, Tiago Reis explica por quê não investe em COEs. Você pode visualizá-lo em https://www.youtube.com/watch?v=9_RYVoC9OtQ.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória