Out 2020
13
Ricardo Frizera
MUNDO BUSINESS

porRicardo Frizera

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Retomada dependerá de recursos privados

Por Fernando Cinelli | A retomada será possível a partir de recursos do setor privado brasileiro. Há, no país, um estoque de capital de cerca de R$ 10 trilhões, do quais, mais de 70% estão alocados em ativos de renda fixa.

Em paralelo, há enorme demanda de investimentos a serem feitos na infraestrutura e em empresas, com a migração desse estoque de capital pode suprir boa parte disso. Ou seja: a retomada será liderada por investimentos a partir da iniciativa privada e do estoque de capital privado dos próprios brasileiros.

Além disso, há um cenário político com relativo consenso da necessidade de reformas de marcos regulatórios em setores que demandam muitos investimentos. Já tivemos a promulgação do Novo Marco do Saneamento em julho, e que em apenas dois meses já rendeu frutos, com leilões que atraíram investimentos bilionários. Nesse sentido, estamos próximos da aprovação da Nova Lei do Gás no Senado e, a tendência para 2021 é a de avanços no Congresso com a nova lei da cabotagem e a lei das ferrovias, endossando esse cenário. Com juros baixos e melhorias na segurança jurídica, a histórica demanda por infraestrutura no Brasil será financiada pelo mercado de capitais, portanto.

Além disso, a continuidade desse cenário abre grandes possibilidades para investimentos no setor imobiliário e para o venture capital, impulsionando a inovação e ganhos de produtividade.

Há dois riscos principais para a economia brasileira: a crise sanitária e as incertezas fiscais.

RISCOS FISCAIS

Entretanto, para esse quadro de juros baixos se consolidar em oportunidades, não podemos perder a âncora fiscal, sem a qual não será possível a manutenção da Selic em apenas um dígito em longo prazo. E, para isso, o equilíbrio fiscal é fundamental.

Desde agosto o desempenho do mercado doméstico passou a ser prejudicado diante de incertezas fiscais, com alguns atores políticos defendendo a flexibilização da regra do teto de gastos. A ideia do governo Bolsonaro de implementar um programa de redistribuição de renda mais robusto do que o Bolsa Família após o fim do coronavoucher, em dezembro, também trouxe preocupações de como isso seria financiado dentro do Teto.

Contudo, é preciso saber separar o que é “fumaça” do que é “fogo” em Brasília. Afinal, o Renda Cidadã é possível se houver unificação de benefícios sociais já existentes e menos eficientes do que o modelo liberal de voucher alimentício proposto. Outras alternativas são o corte de despesas, desindexar gastos públicos e promover a desvinculação orçamentária e de fundos públicos federais.

Apesar da questão ainda estar em debates e precisar ser viabilizada politicamente, o cenário político contou nos últimos dias com diversas manifestações veementes de respeito à responsabilidade fiscal.

Elas partiram tanto da presidência, quanto do Ministério da Economia e de líderes partidários, convergindo que qualquer programa social respeitará o Teto e não será financiado a partir de soluções criativas, como a ventilada em relação aos precatórios.

Os últimos dias também foram marcados pelo entendimento entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Isso não apenas tem o efeito de tranquilizar o mercado, como abre espaço para o entendimento de viabilizar o Renda Cidadã.

A agenda de reformas continua avançando

Apesar do pouco barulho, a agenda econômica do Ministro da Economia Paulo Guedes mostra progressos.

Não obstante as privatizações não estejam sendo feitas em velocidade conforme o prometido, o avanço é melhor comparativamente em perspectiva histórica. Nos últimos dias, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) realizou uma operação de venda de ações da Suzano de R$ 6,91 bilhões. Além disso, prepara uma venda de R$ 6 bilhões em debêntures da Vale detidos desde o fim dos anos 1990.

As próximas semanas serão dominadas pelas eleições municipais, discussões do orçamento de 2021 e sucessão da presidência da Câmara e do Senado. Porém, a tendência é que os riscos sanitário e fiscal sejam afastados e que o próximo ano seja marcado por maior convergência entre o Executivo e o Legislativo, avançando a agenda de reformas.

Com equilíbrio fiscal, mantendo os juros baixos, e e avançando reformas estruturais, podemos ser otimistas com o Brasil.

 

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