Viés de alta da Selic não desanima setor imobiliário em 2021
A aproximação política e diplomática do governo Bolsonaro com o governo Trump não foi suficiente para sustentar o comércio exterior entre os dois países durante o ano da pandemia. Os americanos tiveram a maior redução de volume comercial entre todos os parceiros do Brasil em 2020– o pior resultado desde a última crise mundial. Agora, com dois presidentes– Biden e Bolsonaro– com discursos divergentes em muitos temas, fica a dúvida se os dois países conseguirão avançar em pautas comerciais e quais serão os impactos disso para o Espírito Santo. A seguir, reunimos dados e conversamos com especialistas para entender o cenário
*em colaboração com João Flávio Figueiredo e Luan Sperandio // acompanhe os bastidores do Mundo Business no Instagram e no WhatsApp.
Por ocasião da posse do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente Jair Bolsonaro enviou uma carta ao chefe de estado destacando o interesse do Brasil em estreitar laços com o país norte-americano.
No documento, além de parabenizar Biden, Bolsonaro ressalta o histórico de cooperação entre os dois países e diz que “no campo econômico, o Brasil, assim como os empresários dos dois países, têm interesse em um abrangente acordo de livre comércio, que gere mais empregos e investimentos e aumente a competitividade global de nossas empresas”.
Ao mesmo tempo que alfineta a China, Bolsonaro oferece cooperação aos EUA na “reforma da governança internacional”, se referindo às mudanças pretendidas por Bolsonaro na Organização Mundial do Comércio (OMC) para “destravar as negociações e evitar as distorções de economias que não seguem as regras de mercado”. Ele também cita a indicação do Brasil à OCDE por parte dos EUA e diz que a adesão terá “impacto fundamental para as reformas econômicas e sociais em curso em nosso país”.
O texto também trata sobre as questões climáticas, tema de desgaste recente entre os dois presidentes. Diz que “para o êxito no combate à mudança do clima, será fundamental aprofundar o diálogo na área energética” e que “o Brasil está pronto para aumentar a cooperação na temática das energias limpas”.
Apesar da retórica comercial construtiva, Arilton Teixeira, economista-chefe da Apex Partners e pesquisador convidado do Banco Central Americano, avalia que a área de comércio exterior com os EUA e o mundo avançou muito aquém do esperado durante os dois primeiros anos do governo Bolsonaro. “Muitos pensavam que o governo faria uma reforma tarifária a despeito do Mercosul, mas pouco foi feito”.
A baixa entrega de resultados na agenda comercial contribuiu para resultados ruins nas exportações brasileiras, principalmente com os EUA, durante a pandemia. Em comparação com 2019, 2020 registrou uma redução de -23,8% do fluxo bilateral de comércio entre os EUA e o Brasil. O valor de importações e exportações bilaterais passou de 59,8 bilhões de dólares para 45,6 bilhões de dólares em 2020.
Com esse resultado, as trocas comerciais entre Brasil e EUA têm o pior resultado desde a crise mundial de 2009, quando esse valor registrou 35,6 bilhões de dólares.
Quando isolamos apenas as exportações brasileiras aos EUA, a queda em 2020 foi de 8,3 bilhões de dólares, a maior retração entre todos os parceiros comerciais. A cada dia útil de 2020, o Brasil deixou de exportar pouco mais de 32 milhões de dólares aos EUA.
De mesma forma, as exportações do Espírito Santo foram afetadas no ano da pandemia. Resultados preliminares publicados pelo Instituto Jones dos Santos Neves apontam que no acumulado do ano de 2020, comparado à 2019, houve queda de -24,64% no comércio exterior capixaba. Foi registrada uma queda de US$ 15,1 bilhões para US$ 11,4 bilhões, de corrente de comércio, quebrando os três anos consecutivos anteriores de alta.
Tratando apenas do comércio dos EUA com o Espírito Santo, foi registrada uma queda nas exportações para os Estados Unidos, fortemente impactada pela diminuição de valor de dois produtos: as pastas químicas de madeira (-29,4%) e os óleos brutos de petróleo (-85,1%), conforme divulgou o Ideies.
Mesmo com os resultados desanimadores, Arilton Teixeira mantém acesa a expectativa de avanço na pauta comercial. Ele enxerga que Biden conduzirá um governo de centro mais pragmático, e não “de esquerda”.
“Se o governo Bolsonaro de fato interromper o discurso ideológico e adotar o pragmatismo, vamos conseguir avanços na agenda econômica, como o Acordo de Livre Comércio com os EUA e possivelmente voltar a falar da entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Não vejo nenhum grande impedimento de Bolsonaro construir diálogo com Biden”, avalia Arilton.
O economista enfatiza ainda que, para estabelecer boas relações com o governo Biden, Bolsonaro deve considerar modernas e valorizadas pelo novo presidente americano, como sustentabilidade e proteção do meio ambiente.
O Espírito Santo possui forte vocação para o comércio exterior, seja por conta da localização costeira estratégica, seja pela produção industrial, extrativa e agrícola consideravelmente voltada ao mercado externo. Em 2019, o estado foi o 9º maior exportador do país e cresceu sua participação nas exportações brasileiras. Assim, analisar os diferentes fatores que afetam o comércio exterior do ES e do Brasil, é olhar para o futuro da economia capixaba.
Em diversos aspectos, o desempenho do comércio exterior do Espírito Santo depende da agenda do Governo Federal de negociações tarifárias, diplomacia e reformas do mercado comum. Contudo, as exportações do Espírito Santo também podem se beneficiar com um novo fator macroeconômico global, o novo ciclo de valorização de commodities; e um fator interno, a agenda de competitividade e infraestrutura.
Tiago Pessotti, estrategista-chefe da Apx Investimentos, aponta que os fundamentos apontam para uma possível alta de commodities, como minério de ferro, açúcar, celulose e petróleo para os próximos anos. A confirmação desse cenário valorizaria as exportações do Espírito Santo, compostas em grande parte por ferro e aço.
“A crescente demanda chinesa por commodities, a ascensão do PIB per capita da Índia e taxas de juros reais negativas são a base para um novo ciclo de valorização das commodities”, observa Pessotti.
Já na agenda interna de nível estadual, algumas ações são importantes para o fomento ao comércio internacional. Pautas como agenda de modernização, competitividade e melhoria do ambiente de negócios local devem ser prioridade tendo em vista o aumento da produtividade do setor produtivo capixaba.
Além disso, novas obras rodoviárias e a construção de portos são de elevada importância para o escoamento e transporte de cargas para o exterior. O projeto de maior importância nesse sentido, o Porto da Imetame, em Aracruz (ES), vai comportar navios gigantes e colocar o estado– e o Brasil– na rota de supernavios que antes não atracavam na costa do país.
Em dezembro de 2020, o comércio exterior do Espírito Santo apresentou aumento de +53,10%, no Espírito Santo, comparado ao mês imediatamente anterior, puxado tanto pelas exportações (+46,65%) quanto pelas importações (+58,00%). Na comparação com dezembro de 2019 houve expansão de +7,27%, devido ao incremento de +30,29% nas importações, uma vez que as exportações contraíram -14,21%, no período. (Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves)
No terceiro trimestre de 2020, o grau de abertura da economia capixaba caiu para 42,20%, após ter atingido 55,48% no mesmo trimestre do ano passado, segundo o IJSN. O grau de abertura da economia é um indicador que busca captar a inserção de determinada economia local no mercado internacional, relacionando a corrente de comércio exterior (soma das exportações com as importações) com o Produto Interno Bruto (PIB).
No Espírito Santo, empresas importadoras conseguem aliviar o peso dos impostos por meio do benefício fiscal Invest-ES, que zera o ICMS de importação e aumenta a competitividade das companhias a nível nacional.
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