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Durante muitos anos, um dos principais cartões postais do Espírito Santo ficou esquecido. A orla da Curva da Jurema, em Vitória, que possui uma beleza natural singular em meio à paisagem urbana, era ocupada por moradores de rua e conhecida por ser um ponto de uso de drogas e prática de crimes, afastando turistas e empreendedores. Hoje, a Curva da Jurema passa por um processo de revitalização promovida pela iniciativa privada e pela Prefeitura de Vitória, e está se tornando um polo gastronômico, turístico, esportivo e cultural. Visitamos o local para entender o que está acontecendo.
Com segurança e infraestrutura, a região recebeu novos empreendedores que apostaram no potencial da Curva da Jurema e investiram na renovação dos ‘quiosques’. Em visita à região, a coluna buscou conhecer o que levou esses empresários a se instalarem na Jurema, bem como suas perspectivas para o futuro da região.
Quando o empresário capixaba Rodrigo Martins Moura Sá decidiu abrir o centro de condicionamento físico e treinamento funcional J3, optou por instalar seu ponto em um quiosque da Curva da Jurema por enxergar uma conexão da região com o esporte e o cuidado com a saúde. Mas para realizar esse sonho pessoal, ele teve que encarar um grande desafio.
“O quiosque estava abandonado e coberto por tapumes, o que não impedia que pessoas em situação de rua invadissem o imóvel para fixar residência e consumir entorpecentes. O local onde estamos– disse Rodrigo, apresentando a nova academia– era coberto por fezes e restos de drogas”, relata Rodrigo.
“Quando ganhamos a licitação para assumir o quiosque e iniciamos a ocupação, fomos por diversas vezes ameaçados de morte por moradores de rua que se recusavam a deixar o local”, continua.
O empresário diz que os novos investimentos em infraestrutura e segurança pública e privada na Curva da Jurema mudaram a cara da região, reaproximando moradores e turistas.
“Com a maior presença da polícia e a chegada de condomínios residenciais e o parque cultural, observamos um aumento da segurança, além do resgate da cultura, esporte, entretenimento, turismo e o aumento do interesse dos empreendedores pelo local. Com essa nova estrutura, as famílias podem usufruir a praia e a região se torna um polo turístico cada vez mais relevante”, afirmou.
Hoje, Rodrigo promove aulas de treinamento funcional e, logo ao lado, outros profissionais ensinam beach tennis em aulas regulares, nas quadras do ‘Oasis’.
No futuro, ele espera que a região possa se consolidar como um centro turístico e esportivo. “Acredito que com a conclusão revitalização, a região se tornará atrativa para turistas capixabas e de fora do estado, e um lugar procurado para a prática de esportes como beach tennis, futvôlei e canoa havaiana”.
GASTRONOMIA
Outros dois empreendedores que decidiram investir na “nova” Curva da Jurema foram Diogo Cypriano e Henrique Vigna, do quiosque Café Clericot.
O ambiente integra espaço interno climatizado próprio para reuniões e um espaço externo “pé na areia” com rede de descanso e cadeiras de praia. O Clericot oferece café da manhã, além de pratos para almoço e jantar e é especializado em drinks e cafés. A dupla conta que a intenção do investimento é construir um legado para a região.
“Por muito tempo morei em bairros adjacentes à Curva da Jurema e vi a região cair no esquecimento e ser ocupada por moradores de rua. Sempre acreditei que essa área natural em meio à cidade merecia ser valorizada, e por isso decidimos investir aqui. O resultado está sendo positivo: as famílias que moram nos bairros adjacentes passaram a usar a praia para lazer e esportes, realmente desfrutar de viver em uma cidade com orla”, conta Diogo.
Já Henrique relata a frustração que sentia por não poder aproveitar com conforto e segurança o espaço. “Vivemos em uma cidade que permite trabalhar em um centro comercial e almoçar na beira do mar. Sempre carreguei uma frustração de não poder aproveitar isso, mas com os novos quiosques e a revitalização da Curva, vamos aproximar capixabas e turistas”.
Confiante no futuro da Jurema, Henrique diz: “Olhando para praias referência em turismo como as do Nordeste, gostaria de ver a curva tendo um destaque nacional para o turismo e cada vez mais atrativa para empreendedores”.
*em colaboração com João Flávio Figueiredo
Quando assumiu um dos quiosques da Curva da Jurema para fundar o Litt Bar, Pedro Martins e Rapahel Tristão apostaram na renovação de todo o entorno, com a chegada de empreendimentos imobiliários, o parque, novos quiosques e as obras da prefeitura.
“Vitória viu nos últimos anos uma melhora no padrão de atendimento e produtos de bares e restaurantes, e agora a Curva da Jurema entra para esse circuito. Queremos incluir essa região na rota do turismo de entretenimento da capital para atrair cada vez mais turistas de fora do estado”, conta Pedro, que também organiza a festa anual Casa Sounds.
Martins ainda diz enxergar oportunidades de unir esses novos negócios com os trabalhadores que atuam tradicionalmente na orla. E ele é um exemplo disso: o bar atua em parceria com o ex-ambulante Melkzedek dos Santos Silva, conhecido como Melk, que hoje é regularizado e contratado pelo estabelecimento para operar a venda de bebidas do quiosque na faixa de areia.
“As novas regras da prefeitura determinam que os ambulantes devem ficar a 100 metros dos quiosques, o que inviabilizaria a atuação do Melk. Por conhecer o serviço de qualidade que ele prestava aos frequentadores da praia, fizemos uma proposta para profissionalizar a atuação de Melk e contratá-lo para comercializar as bebidas dos quiosques na praia”, diz Martins.
Por tudo isso, a revitalização da Curva da Jurema é um processo que beneficia a economia da região, gerando mais empregos e valorizando um cartão postal dos capixabas, que por tanto tempo foi dominado pelo abandono e insegurança. Esse é um exemplo do desenvolvimento e do impacto que, combinados, poderes público e privado podem gerar em uma cidade.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória