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Em 2018, a aviação civil registrava um de seus períodos mais seguros de sua história, quando uma tragédia que não acontecia há tempos espalhou o medo em pilotos e passageiros de todo o mundo. Dois Boeing 737 Max, aeronaves de última geração com pouquíssimo tempo de uso, subitamente despencaram em voo com um espaçamento de poucas semanas sem que houvesse sobreviventes. O documentário “Queda Livre: Um Caso Contra a Boeing”, lançado na Netflix, reúne documentos e relatos que mostram como a negligência e falhas graves de governança da fabricante do 737 Max colocaram um avião inseguro no ar. Veja nossa resenha sobre a série a seguir (atenção, contém spoiler!).
Uma das siglas mais populares no mundo corporativo atual, ESG, se refere às melhores práticas ambientais, sociais e de governança das companhias. O “Queda Livre: Um Caso Contra a Boeing” evidencia como a negligência com relação a uma letra dessa sigla, apesar do compromisso com as demais, levou à maior crise da história da fabricante de aviões norte-americana Boeing
Apesar da responsabilidade com a comunidade e esforços para reduzir o impacto ambiental, uma série de falhas na governança, resultaram na queda de dois aviões e na morte de mais de 300 tripulantes e passageiros. Em tempo, podemos definir a governança corporativa como um conjunto de práticas que regem o sistema de poder e mecanismos de gestão de uma companhia. Dentre seus princípios estão a transparência, equidade de tratamento, prestação de contas e responsabilidade financeira.
A cadeia de falhas de governança da Boeing começou quando a companhia estava correndo contra o relógio para lançar um concorrente para o A320Neo da Airbus, a nova geração dos jatos de corredor único da Airbus que estava sendo um sucesso de vendas.
Para não perder o momento de mercado, a companhia precisava de contornar o máximo de burocracia da FAA (Federal Aviation Administration), órgão regulador da aviação nos EUA, para lançar sua nova geração de jatos.
A forma mais rápida de colocar um novo avião no ar seria remodelar o consagrado Boeing 737-800 (que é operado pela Gol no Brasil, por exemplo), tornando-o maior e mais eficiente. Criar um design do zero demandaria um extenso tempo de aprovação na FAA. E assim foi feito.
Porém, como o 737 Max foi redimensionado e ampliado, a turbina também precisou ser deslocada. Essa modificação impactou o comportamento do avião durante manobras de subida, com risco da aeronave perder sustentação e ‘estolar’ no jargão aeronáutico.
Para evitar movimentos que colocassem em risco a segurança de voo, os engenheiros criaram um software que corrige a inclinação do nariz do avião caso estivesse em um ângulo muito alto, chamado de MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System).
A adição desse sistema ao 737 Max, porém, traria mais custo e complexidade ao treinamento dos pilotos desse modelo. Como economizar tempo era um mandamento, a Boeing decidiu tratar o MCAS como uma mudança a um sistema pré-existente no avião, e não um novo sistema. Essa tecnicidade dispensou treinamentos mais aprofundados com relação a esse software, levando em consideração os regulamentos da agência reguladora americana.
Apesar da preocupação dos engenheiros sobre essa situação, a direção da companhia decidiu ocultar o MCAS dos manuais e treinamentos. Como resultado, os pilotos da Lion Air e da Ethiopian Airlines não souberam interromper o sistema MCAS quando ele apresentou falha e empurrou o nariz dos dois aviões em direção ao solo, matando mais de 346 pessoas em cinco meses.
Quando as primeiras análises revelaram que o mau funcionamento do MCAS poderia ter sido a causa dos dois acidentes, a relação dos pilotos do 737 MAX foi: “Nem sabíamos que esse dispositivo existia!”.
A falta de transparência com os pilotos e o mercado de aviação, a repressão dos engenheiros que traziam aos seus superiores as falhas do 737 Max e a omissão de responsabilidade dos executivos da Boeing– três graves transgressões aos princípios de governança corporativa– levaram uma das mais respeitadas fabricantes de aviões do mundo a levar uma aeronave insegura ao ar.
No aspecto social (a letra ‘S’) a Boeing poderia ser considerada uma boa empregadora, a companhia remunera seus funcionários de forma adequada. Já no que tange ao ambiental (a letra ‘E’), a Boeing também empenha esforços para atingir boas práticas. A cada nova geração de aeronaves, a fabricante entrega mais eficiência energética, permitindo transportar maior número de passageiros com menor gasto de combustível. Porém, a negligência com relação à governança contribuiu para uma das maiores tragédias da aviação moderna.
Assim, fica evidente que não pode existir uma seletividade com relação às boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa. A Boeing passou por uma grave crise pela falta de governança transparente e equitativa, apesar dos cuidados com o meio ambiente e social. Os três pilares que compõem a sigla ESG devem ser tratados como complementares e interdependentes.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória