Mar 2022
6
Ricardo Frizera
MUNDO BUSINESS

porRicardo Frizera

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porRicardo Frizera

Queda dos 737 Max foi resultado de negligência com as boas práticas ESG

Uma das siglas mais populares no mundo corporativo atual, ESG, se refere às melhores práticas ambientais, sociais e de governança das companhias. O “Queda Livre: Um Caso Contra a Boeing” evidencia como a negligência com relação a uma letra dessa sigla, apesar do compromisso com as demais, levou à maior crise da história da fabricante de aviões norte-americana Boeing

Apesar da responsabilidade com a comunidade e esforços para reduzir o impacto ambiental, uma série de falhas na governança, resultaram na queda de dois aviões e na morte de mais de 300 tripulantes e passageiros. Em tempo, podemos definir a governança corporativa como um conjunto de práticas que regem o sistema de poder e mecanismos de gestão de uma companhia. Dentre seus princípios estão a transparência, equidade de tratamento, prestação de contas e responsabilidade financeira.

A cadeia de falhas de governança da Boeing começou quando a companhia estava correndo contra o relógio para lançar um concorrente para o A320Neo da Airbus, a nova geração dos jatos de corredor único da Airbus que estava sendo um sucesso de vendas.

Para não perder o momento de mercado, a companhia precisava de contornar o máximo de burocracia da FAA (Federal Aviation Administration), órgão regulador da aviação nos EUA, para lançar sua nova geração de jatos.

A forma mais rápida de colocar um novo avião no ar seria remodelar o consagrado Boeing 737-800 (que é operado pela Gol no Brasil, por exemplo), tornando-o maior e mais eficiente. Criar um design do zero demandaria um extenso tempo de aprovação na FAA. E assim foi feito.

Porém, como o 737 Max foi redimensionado e ampliado, a turbina também precisou ser deslocada.  Essa modificação impactou o comportamento do avião durante manobras de subida, com risco da aeronave perder sustentação e ‘estolar’ no jargão aeronáutico.

Para evitar movimentos que colocassem em risco a segurança de voo, os engenheiros criaram um software que corrige a inclinação do nariz do avião caso estivesse em um ângulo muito alto, chamado de MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System).

A adição desse sistema ao 737 Max, porém, traria mais custo e complexidade ao treinamento dos pilotos desse modelo. Como economizar tempo era um mandamento, a Boeing decidiu tratar o MCAS como uma mudança a um sistema pré-existente no avião, e não um novo sistema. Essa tecnicidade dispensou treinamentos mais aprofundados com relação a esse software, levando em consideração os regulamentos da agência reguladora americana.

Apesar da preocupação dos engenheiros sobre essa situação, a direção da companhia decidiu ocultar o MCAS dos manuais e treinamentos. Como resultado, os pilotos da Lion Air e da Ethiopian Airlines não souberam interromper o sistema MCAS quando ele apresentou falha e empurrou o nariz dos dois aviões em direção ao solo, matando mais de 346 pessoas em cinco meses.

Quando as primeiras análises revelaram que o mau funcionamento do MCAS poderia ter sido a causa dos dois acidentes, a relação dos pilotos do 737 MAX foi: “Nem sabíamos que esse dispositivo existia!”.

Companhias não podem ser seletivas– ESG é uma sigla com termos complementares

A falta de transparência com os pilotos e o mercado de aviação, a repressão dos engenheiros que traziam aos seus superiores as falhas do 737 Max e a omissão de responsabilidade dos executivos da Boeing– três graves transgressões aos princípios de governança corporativa– levaram uma das mais respeitadas fabricantes de aviões do mundo a levar uma aeronave insegura ao ar.

No aspecto social (a letra ‘S’) a Boeing poderia ser considerada uma boa empregadora, a companhia remunera seus funcionários de forma adequada. Já no que tange ao ambiental (a letra ‘E’), a Boeing também empenha esforços para atingir boas práticas. A cada nova geração de aeronaves, a fabricante entrega mais eficiência energética, permitindo transportar maior número de passageiros com menor gasto de combustível. Porém, a negligência com relação à governança contribuiu para uma das maiores tragédias da aviação moderna.

Assim, fica evidente que não pode existir uma seletividade com relação às boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa. A Boeing passou por uma grave crise pela falta de governança transparente e equitativa, apesar dos cuidados com o meio ambiente e social. Os três pilares que compõem a sigla ESG devem ser tratados como complementares e interdependentes.

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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