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O Cais das Artes é um museu em construção desde 2010, localizado à beira da baía de Vitória na Praça do Papa. Suas obras estão paradas desde 2015, e custaram mais de R$ 129 milhões aos cofres públicos do Estado. Agora, o caso parece estar mais perto de um desfecho. Falas do governador Renato Casagrande e de integrantes do Governo Estadual levantaram debates sobre o futuro do espaço. A Secretaria de Estado da Cultura soma a esse debate com uma série de eventos que ocorre hoje (17) e quinta (19), em parceria com a Ufes. A seguir, o Secretário da pasta, Fabricio Noronha, escreve com exclusividade à Mundo Business sua visão sobre o tema.
Com cerca de 70% da obra concluída, o Cais das Artes com seus mais de 30 mil metros quadrados, tem enorme potencial de impacto positivo – seja o econômico, turístico, artístico, social ou no próprio senso de pertencimento do capixaba.
O Cais será um dos equipamentos culturais mais importantes do Espírito Santo e do Brasil e a sua retomada sempre foi uma das nossas prioridades.
Desde o primeiro dia desta segunda gestão do Governador Renato Casagrande – que tocou a obra em todo o período dos seus primeiros 4 anos de mandato – se constrói uma solução dentro da legalidade e da burocracia para um processo muito complexo e judicializado.
No caminho da solução, dentre muitas opções estudadas, está a homologação de um acordo com a empresa construtora para a imediata retomada da obra ou a antecipação da concessão de PPP, já prevista no projeto original, para que se inclua nela essa etapa final.
Em termos do seu uso, apesar do burburinho, sempre seguimos as premissas originais do projeto do grande e renomado Paulo Mendes da Rocha.
O espaço é um espaço cultural, constituído por um Museu e um Teatro equipados para receber eventos artísticos de médio e grande porte – e mesmo esses anos todos parados segue com sua estrutura brutalista intacta.
Importante nesse momento de retomada, envolvermos os fazedores da cultura e a sociedade como um todo em um franco debate.
O Cais das Artes pode e deve ter um papel fundamental para potencializar a arte produzida aqui e o diálogo com a arte produzida em outros lugares do Brasil e do mundo.
O foco sempre está nos milhões gastos, entretanto, podemos somar a isso os milhões e milhões de recursos e renda (direta e indireta) não gerados com a sua não conclusão, como por exemplo, os anos e anos de atividades culturais e turísticas que deixaram de acontecer.
Para o debate sério e qualificado, é importante olharmos sobre esse aspecto desnudado do senso comum que por vezes enxerga a cultura como uma atividade menor ou com menor impacto econômico.
A cultura representa em torno de 2,6% do PIB nacional, porcentagem maior que cadeias muito mais “bem vistas” economicamente – como a indústria extrativa e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana, em dados do Minc de 2010.
São 5,5 milhões de trabalhadores e melhores resultados de recuperação e resiliência econômica no pós-pandemia que outras cadeias.
O investimento público em cultura retorna rapidamente em geração de emprego, renda e impostos – variando em até 8x o valor investido a depender do segmento e de fatores territoriais.
Em levantamento encomendado pelo Ministério da Cultura (MinC) e realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2018, apontou que, em média, R$ 1,59 são gerados a cada R$ 1 investido pela Lei Federal – impacto de bilhões e bilhões todo ano.
O Cais ainda tem um aspecto turístico que não pode ser esquecido. Inaugurado, se tornará visita obrigatória aos visitantes do nosso Estado e atrai, por si só, outros milhares de turistas anualmente.
Segundo a Organização Mundial do Turismo, o setor representa 10% do PIB mundial e vem de uma tendência de crescimento com uma estimativa de 1,8 bilhão de viajantes internacionais em 2030.
A atratividade do turismo no pós-pandemia, apontam os especialistas, está relacionado à experiência do público e passa por aspectos da cultura – museus, eventos, arte, arquitetura, gastronomia e patrimônio. O Cais das Artes congrega exatamente o que se espera neste mercado para o futuro.
(…)
O arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha projetou uma jóia arquitetônica de relevância mundial e que mira a partir da arte num desenho de futuro possível para o nosso Espírito Santo. A arte é território e também forma territórios. Ela debate o mundo que vivemos e cria tensões a partir das múltiplas relações. Arte fala de política, de justiça, do contexto e da transformação do mundo. Da hiperconectividade à nossa ancestralidade, passando pela transição energética, ESG e blockchain.
Entretanto, o Cais das Artes não precisa ser visto como um espaço redentor da cultura capixaba. Como se só a partir dele teremos espaço e expressão. A produção artística capixaba acontecesse em cada canto desse Estado e terá o seu papel nessa proposta de escrita de futuro a partir da arte. Temos inúmeros fazedores da cultura talentosos e dispostos, com investimento público e privado, a ocupar esse mundo de possibilidades.
E é claro, integrar e interagir com um circuito nacional e internacional. Afinal de contas, o Espírito Santo carece de um complexo cultural deste porte – serão 3 mil metros de área expositiva e um Teatro com 1300 lugares. Estaremos aptos a dar as boas vindas a esse circuito num edifício de notável presença e inserido num cenário invejável.
A urgência e o desejo em finalizar a obra passa pela relação do equipamento cultural com as comunidades, com a sua formação de repertório a partir das exposições, espetáculos, cursos, seminários, oficinas e residências – e o que mais a criatividade permitir. Será o instrumento formador de uma rede para troca de experiências entre museus e outros equipamentos culturais, além de ações em parceria com universidades e escolas da rede pública e privada. Um espaço que pulse.
*Por Fabricio Noronha, Secretário de Estado da Cultura do Estado do Espírito Santo
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória