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Com um histórico de crescimento agressivo nos últimos anos, a Kora Saúde (KRSA3) — holding dona da Rede Meridional, hoje proprietária de 17 hospitais pelo Brasil — teve o rating de crédito recentemente rebaixado pela agência de classificação de risco Fitch. A agência declarou que a queda foi reflexo de questões no fluxo de caixa, decorrente de maiores despesas financeiras por conta do aumento da taxa básica de juros (um movimento que pegou grande parte do setor de ‘calças curtas’, diga-se de passagem), e também devido ao aumento das necessidades de capital de giro, em virtude da pressão das operadoras de saúde para estender o prazo médio de pagamento aos prestadores de serviços. Em conversa com a coluna, o CEO da Kora, Antônio Benjamim Neto, sinaliza que vai frear o ritmo de aquisições e desalavancar a companhia.
Mundo Business: A Kora Saúde, um dos maiores grupos hospitalares do Brasil, tem um histórico de rápido crescimento, mas teve sua classificação de risco rebaixada. Como você avalia essa notícia?
Antônio Benjamin: Vale lembrar que a companhia dobrou de tamanho em 2021. A Kora tem uma posição de alavancagem realmente um pouco mais alta do que a gente queria, mas totalmente saneável.
A ideia é negociar 700 milhões de ativos imobiliários neste ano, fazer sale and leaseback, vender os ativos imobiliários que nós operamos e passar a pagar aluguel e, assim, colocar dinheiro para dentro da companhia.
A discussão agora é qual cap [taxa de capitalização] que vamos pagar. Estamos esperando um retorno de capital entre 8,5% e 9,5%, isso vai fazer uma desalavancagem na Kora em um médio espaço de tempo.
O setor de prestação de serviço não deve realizar grandes aquisições neste momento. Será um ano de aquisições marginais. Neste momento, estamos trabalhando para fazer caixa, realizar investimentos pequenos, azeitar as operações, cortar custos e operar de forma mais enxuta.
Vamos gerar caixa positivo para também desalavancar a companhia junto com a venda dos imóveis. Por isso, devemos chegar no final do ano dentro do patamar de dívida EBITDA bastante razoável dentro dos parâmetros esperados para a nossa indústria.
MB: A expectativa é que o setor se normalize a partir do segundo semestre de 2023 e primeiro semestre de 2024. Por quais motivos?
AB: Em 2020 e 2021 a indústria sofreu um desarranjo. No primeiro ano da pandemia, as operadoras ganharam dinheiro com o aumento das sinistralidades, mas por algum motivo o dinheiro acabou se esvaindo. Já em 2021, as sinistralidades ficaram muito mais altas do que o esperado.
Como a situação fugiu do controle, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) reduziu em 8,5% o percentual de reajuste dos planos de saúde. Só para destacar que a ANS libera o índice de reajuste das mensalidades sempre nos meses de maio, abril e maio.
Quem pagava R$ 1.000 no plano de saúde teve desconto e passou a pagar R$ 915,00 porque teve desconto. Na época, a pessoa jurídica era muito balizada pela pessoa física, e as médias e grandes empresas tinham uma sinistralidade muito baixa. Em 2021, o reajuste foi zerado. Na pessoa jurídica ficou em torno de zero e na pessoa física -8%. Isso desestruturou a indústria.
Em maio de 2022, o reajuste foi de 15,5% em cima da margem de -8,5%, que gerou cerca de 6% de aumento real. O aumento começou em maio e como 80% das pessoas são jurídicas aumentou em 1/12 (um doze avos) por mês da carteira dos operadores. De forma que em maio de 2023 completa-se um ano e deve ser liberado um novo aumento entre 10% e 11% em cima do reajuste de 15,5%. No segundo semestre, metade da carteira terá um reajuste de 25% a 30%.
Para ter uma ideia, só o rol da ANS adicional tem um impacto de 1,5% nas operadoras. Isso significa que as operadoras vão se reorganizar via receita e não por controle de sinistralidade, mas a receita deve aumentar ao ponto de conseguir pagar as despesas. Eu acredito que a sinistralidade média vai voltar a um patamar de 80 a 85% e o mercado vai voltar a ficar saudável.
MB: Como foi o cenário de 2022?
AB: Nós tivemos que ampliar o prazo de pagamento das operadoras de saúde, ou seja, quem pagava com 90 dias passou a pagar com 120 dias. Uma outra alternativa que poderíamos ter adotado era a ruptura com o parceiro, mas este não era o caminho a ser adotado no momento. As operadoras estavam pedindo a extensão do prazo e não podíamos romper uma relação comercial de 20 anos por causa de dificuldades pontuais.
Por outro lado, registramos o aumento de glosas [faturamentos não recebidos ou recusados nas organizações] pelo mesmo motivo. No momento de aperto financeiro, as operadoras não só pediram para ampliar o prazo de pagamento como também o número de glosas praticamente dobrou, com práticas não vistas há tempos.
Este cenário não deve voltar a acontecer neste ano. Com a melhora da receita das operadoras, as glosas devem voltar ao mesmo patamar de antes e no prazo de pagamento anterior. A expectativa é que o dinheiro que não chegou no ano passado, por conta do prazo maior para as operadoras, comece a entrar no caixa neste ano.
Por isso, eu estimo que no segundo semestre de 2023 a situação volte praticamente para a normalidade. No ano que vem as aquisições devem voltar a crescer, acredito que o pior já passou.
MB: Quais são as próximas operações do grupo?
AB: Estamos com algumas possibilidades no radar neste momento. A mais provável é o desinvestimento nos imóveis, mas temos várias outras possibilidades para atravessar o ano com responsabilidade e tranquilidade.
A realização de investimentos deve ficar abaixo do que era previsto inicialmente. A nossa tese era de continuar fazendo investimentos, mas o momento não pede isso.
Nós temos que colocar o pé no freio e fazer menos investimentos. Eles devem acontecer, mas em oportunidades pontuais e que gerem valor quase imediatamente.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória