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O Governo Lula anunciou nesta segunda-feira (22) o plano “Nova Indústria Brasil”, que terá R$ 300 bilhões em financiamentos até 2026, sendo a maior parte de recursos do BNDES. Apesar do desenvolvimento da indústria nacional ser crucial para aumentar a competitividade do Brasil no mercado global, o mercado teme que o pacote comprometa o equilíbrio fiscal e repita uma receita que já se provou desastrosa nos mandatos anteriores do PT. Pelo menos, isso é o que pensa Orlando Caliman– diretor econômico e sócio-fundador da Futura Inteligência, co-fundador do ES em Ação e um dos economistas com maior tempo de atuação no Espírito Santo.
Hoje, Caliman traz para Mundo Business um novo ponto de vista sobre a ‘Nova Indústria Brasil’.
Orlando Caliman | O Governo Federal inaugurou a semana lançando a nova política industrial com o título “Nova Indústria”, e que vem estruturada sob a forma de um “Plano de Ação para a Neoindustrialização”. Não fosse uma certa semelhança com experiências de um passado bem recente, especialmente vividas nas gestões de Lula nos seus dois períodos, mas com maior ênfase na gestão de Dilma, com o desenvolvimentismo, até poderíamos imputar à iniciativa um certo ineditismo.
Mas, ao que nos parece, o mercado, pelo menos num primeiro momento, vem reagindo seguindo o ditado popular de que “gato escaldado tem medo de água fria”. Não há como não nos lembrarmos da derrocada sofrida pela economia entre os anos de 2014 e 2017, cujas consequências ainda nos travam e nos cerceiam em avançar mais celeremente.
Além do medo de repetir o passado, mesmo que o propósito venha sob nova roupagem, o mercado expõe o receio em relação aos potenciais impactos que essa nova política industrial possa causar nas já combalidas contas públicas, e por consequência nos juros e outras frentes mais. Também traz preocupações o conteúdo protecionista que carrega o “pacote”, que se não bem orientado tende, como no passado, a proteger a ineficiência.
Não se questiona o mérito do propósito, que atende sem dúvida a necessidade de o país dispor de um instrumento de política de desenvolvimento de um setor que é crucial para sua inserção competitiva global, e que vem perdendo força faz um bom tempo. Aliás, uma tendência que não nos é exclusiva.
O setor industrial vem perdendo peso relativo na produção de riquezas em muitos outros países, inclusive entre os mais desenvolvidos. Contexto que tem provocado um movimento de retorno às políticas industriais mais ativas e com maior peso do papel do Estado, e naturalmente mais protecionistas.
Não se trata, no entanto, de um movimento decorrente apenas do fenômeno da perda de espaço do setor industrial em escala global, mas, e talvez com maior força, de um novo fenômeno de resposta ao que poderíamos chamar de eventos globais adversos: Pandemias e seus riscos – Covid-19 -, mudanças climáticas e intensificação dos conflitos bélicos, atuais e em potencial.
Esses eventos adversos têm deflagrado movimentos fortes de reordenamento e reposicionamentos de grandes e complexas cadeias globais de suprimentos. Como consequência muitos países, principalmente aqueles de maior peso global, estão redefinindo suas estratégias e políticas de desenvolvimento, seja reforçando suas proteções, seja buscando “portos” mais seguros, mais próximos (nearshoring) ou mais amigos (friendlyshoring).
O que se espera de uma política industrial é que esta possa dar conta da tarefa de reduzir o “gap” estrutural e histórico que distancia o nosso país do bloco dos mais competitivos e abrir novos horizontes de crescimento e desenvolvimento, aproveitando as oportunidades que esse novo mundo, mesmo nas adversidades, oferece.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória