Recorde histórico: comércio exterior do ES alcança US$ 12,7 bilhões no primeiro semestre
O comércio exterior capixaba renovou recordes em 2024 e o sistema portuário está operando na capacidade máxima. Uma boa notícia para economia, que vem acompanhada de um alerta. Exportadores de rochas naturais e café se manifestaram na última sexta-feira (12) sobre as dificuldades de manter suas operações dentro da normalidade com o aumento de fluxo nos portos. Para o diretor de Terminais da Log-In, Gustavo Paixão, que é responsável pelo principal terminal de contêineres do Porto de Vitória, o Terminal de Vila Velha (TVV) todos os “elos da corrente” precisam agir para retomar a normalidade. Ele concedeu entrevista à Mundo Business para falar sobre o tema.
Mundo Business: O Espírito Santo bateu recordes de comércio e os portos estão operando no limite. Como isso foi sentido no TVV?
Gustavo Paixão: Temos sofrido com esse cenário de altíssima demanda e capacidade exaurida. Atingimos níveis de ocupação de atracação e estocagem em níveis históricos. Fizemos investimentos colaborando para que o cenário não esteja pior. No primeiro trimestre trabalhamos com a estrutura ocupada em média 95%, há picos que ultrapassam essa capacidade. A ANTAQ define como 65% o ideal.
MB: Quais mercadorias contribuíram para o aumento da ocupação do TVV?
Gustavo Paixão: Importação automóveis de forma antecipada é uma estratégia para evitar a taxação, mas temos também a contribuição da exportação. Há uma retomada muito forte do café capixaba no cenário mundial, batendo recordes de preço e volume. Começamos a perceber esse aumento no segundo semestre do ano passado. Como havia previsibilidade do imposto de carros elétricos, a partir do final do terceiro trimestre houve maior exportação de carros.
MB: Qual é a saída para restabelecer a normalidade nos portos capixabas?
Gustavo Paixão: A infraestrutura portuária brasileira tem limitações. Qualquer evento não planejado gera caos no sistema e aqui não é diferente.
Investimentos em infraestrutura de acesso e área de armazenagem precisam ser decididos para ontem para garantir a sobrevivência do porto, que é administrado da VPorts. Hoje temos áreas subutilizadas e dá para crescer.
MB: O TVV tem investido para se adaptar a esses novos níveis de movimentação de mercadorias?
Gustavo Paixão: Os últimos investimentos do TVV estão ligados à operação de contêineres. Por outro lado, o acesso rodoviário, que é limitante, precisa ser olhado – só temos um caminho de acesso ao terminal. Acessos marítimos podem ser melhorados – temos limitações com relação ao calado. Existem estudos que provam a viabilidade de aumentar a boca dos navios que acessam.
MB: As áreas de armazenagem tanto no porto quanto nos portos secos também operam no limite. Como enfrentar esse desafio de espaço?
Gustavo Paixão: Temos carência de área de armazenagem no Porto. Se ela fosse maior, talvez conseguiríamos atender melhor os clientes. Para lidar com isso, temos alugado áreas imediatamente ao lado do TVV como solução paliativa. Mas carecemos que as autoridades olhem para as questões desse movimento.
MB: Quais são os riscos dessa situação extrema dos portos para a economia capixaba?
Gustavo Paixão: Essas questões devem ser endereçadas no curto prazo porque a capacidade está exaurida. Temos risco de essa carga migrar para outros portos e não voltar mais. Estamos na fase final de modernização do terminal para ampliar nossa capacidade. Além desses investimentos, que são parte obrigatória, outra não, a gente precisa que mais elos dessa mesma corrente se movimentem.
Até o fim do ano, após os investimentos, teremos um refresco. Fizemos aumento de máquinas, pessoal e teremos melhor qualidade de atendimento dos serviços portuários.
MB: Como o TVV vai trabalhar em conjunto com os exportadores de rocha e café para retomar a normalidade, tendo em vista a carta divulgada na última sexta pelo CCCV e Centrorochas?
O Terminal de Vila Velha a a Log-In têm colaborado para a construção de melhores soluções, investindo em mão de obra, inovação e novas tecnologias, o que está refletido, inclusive, no aumento recorde na movimentação do primeiro trimestre do ano de 2024, se comparado a 2023.
Entretanto, é necessário a contribuição de todas as partes, com investimento em infraestrutura portuária, como estrutura de armazenagem, acesso marítimo e acesso rodoviário, para a garantia de que esses problemas sejam resolvidos em curto e médio prazo, fazendo com que não percamos a competitividade para outros portos brasileiros.
É uma demanda colaborativa, cujas conversas estão sendo realizadas junto ao Centro de Comércio e Café, ao Sindicato de Rochas, ao Governo do Estado e à própria Vports.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória