Indústria capixaba cresce 2,4%, mais que o dobro da média nacional
A eleição de Trump pode ter surpreendido o mundo pelo lado da força que lhe concedeu o eleitorado americano. Diante das projeções que se faziam, principalmente por conta das pesquisas, e das expectativas, revelou-se um verdadeiro tsunami. No jargão popular fez barba, cabelo e bigode. Mas, olhando especificamente para a economia capixaba, quais serão os principais impactos?
Orlando Caliman | Trump terá a seu favor, como em raras vezes da história eleitoral americana, a Câmara, Senado e a Suprema Corte. No entanto, não surpreende no que poderá representar em termos de impactos de dimensões globais, com potenciais implicações locais e regionais, especialmente em campos como geopolítica e geoeconomia.
São sobejamente conhecidas as apostas de Trump em confrontos tanto no ocidente, quanto no oriente: ONU, OTAN, Rússia e Ucrânia, Oriente Médio e em especial China; e em relação à economia, no protecionismo. Unilateralismo e isolamento são tendências com alta previsibilidade de ocorrência, cujos resultantes são bem conhecidos.
Não haverá espaço para imaginarmos que as economias brasileira e capixaba possam escapar de prováveis impactos, sejam eles negativos ou positivos. Até o momento, ao que nos parece, e dentro de um consenso entre analistas, o cenário mais provável é de mais turbulência. Afinal, a proposta de Trump é de protecionismo do mercado americano por meio de barreira tarifária e expansionismo interno, com consequências também previsíveis que podem resultar em inflação e perda de dinamismo na economia.
De maneira geral, turbulências tenderão a ocorrer no que podemos denominar de superfície da economia. Fenômeno bem comum em eventos de grande impacto como o que estamos observando no momento. Bolsa e moedas são as variáveis mais sensíveis e de precificação mais imediata. Outros impactos ocorrerão com o avançar da nova gestão que se instalará a partir de janeiro. Algumas mais previsíveis, outras a serem desveladas no tempo.
O mercado americano é o segundo mercado de destino das exportações brasileiras, com China no topo. Já para o Espírito Santo o mercado americano, segundo dados relativos a 2023, aparece na primeira posição com 28%, seguindo-se a China com cerca de 10%. E nesse aspecto é importante registrar que o Espírito Santo tem um alto grau de abertura externa, algo em torno de 43% do PIB. Fato que o torna mais vulnerável a fatores externos.
Olhando especificamente para a economia capixaba podemos identificar impactos ocorrendo diferenciadamente por setores e vinculados ao câmbio, potenciais restrições tarifárias e de demanda por conta de tendência de inflação em alta e crescimento em baixa nos EUA.
A melhor maneira de analisarmos potenciais impactos é olharmos para a pauta de exportações para o EUA. Tomando como base dados relativos a 2023, a pauta de exportação do Espírito Santo para os Estados Unidos concentrou-se em seis produtos: no topo do ranking das exportações aparece o Aço produzido pela ArcelorMittal, com 34,3%, mas que somado a outras ligas de aço o setor chega a 43,8%; seguindo-se o setor de rochas ornamentais, e a sequência celulose, minério de ferro (pelotas de minério) e por fim o café com apenas 2,6%
Podemos identificar impactos para cada produto:
AÇO
A tendência é que seja o mais afetado pela política protecionista americana com base em barreira tarifária. Já tivemos barreira por quotas. Mas, o foco central da proposta de Trump, especialmente nesse setor, é focar na China, podendo chegar a 60% de tarifa, conforme já anunciado. Mas, fica o alerta para o setor. Pode até acontecer que restrições à China possam manter os canais comerciais abertos para suprir a demanda externa americana. No médio prazo a perspectiva pode ser positiva em relação ao câmbio. A ArcelorMittal tem planta industrial no Alabama-EUA. E assim como a Gerdau poderá ter espaço para neutralizar impactos negativos.
SETOR DE MÁRMORE E GRANITO
Os Estados Unidos é o maior mercado das pedras industrializadas exportadas pelo Espírito Santo, atingindo cerca de 75% do total exportado. Não creio que os EUA possam adotar barreira tarifária para este setor, pois a produção interna lá é limitada dado o tamanho do mercado. O câmbio mais alto pode favorecer. Ameaça poderá vir da produção de substitutos sintéticos.
CELULOSE
O mercado americano é destino de 43% das exportações de celulose do Espírito Santo. Prevendo-se que a imposição de tarifas às importações americanas será seletiva, a chance pode ser significativa de que este setor não sofra restrições. Até porque o mercado americano não tem capacidade interna de atender a demanda. Por outro lado, o cambio mais elevado no médio prazo poderá favorecer.
MINÉRIO DE FERRO
O grande mercado de pelotas de minério de ferro do Espírito Santo é a China. O mercado americano representou apenas 13% em 2023. No entanto, não se pode descartar impactos indiretos. Quedas na produção de aço da China por conta do protecionismo americano poderá implicar em redução de importação de minério de ferro.
AGRO E CAFÉ
O Agro brasileiro foi até beneficiado indiretamente no primeiro mandato de Trump, pois ao sofrer retaliações da China ao protecionismo passou a comprar menos soja e milho dos EUA, abrindo assim oportunidade para o Brasil. Os Estados Unidos não produzem café e não tem como impor restrições. Além de não ser um mercado relevante para o Espírito Santo. Por outro lado, o câmbio com previsibilidade de aumento poderá ajudas os produtores capixabas.
Em síntese, é importante ressaltar que impactos serão diluídos no tempo ao sabor do cronograma de eventos da política interna e externa americana. O que acontece no momento com o dólar, juros e bolsa reflete tentativas de os mercados precificarem o que poderá vir mais à frente. Certamente vamos ter um período de acomodações e ajustes.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória