Presidente da Febraban pede 'voto de confiança' a BC em debate sobre juros no Senado
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, pediu um "voto de confiança" ao Banco Central sobre a condução da taxa Selic, em participação em debate sobre juros no Senado. Em sua fala, Sidney disse que todos concordam que a Selic em 13,75% ao ano está em um nível bastante elevado, mas defendeu, em meio a críticas do Executivo e do Legislativo ao nível dos juros, que "conviria, "ainda que a contragosto", que se dê um voto de confiança ao BC". O presidente da Febraban já foi diretor do BC, deixando o cargo em 2018.
"Com a experiência de quem trabalhou no BC quase 20 anos - fui inclusive diretor e integrei o Copom -, posso afirmar que a autoridade monetária define a taxa Selic com base em modelagens econômicas sofisticadas, pessoal técnico muito qualificado e o BC age de forma transparente e decide colegiadamente", disse ele.
Em sua fala, Sidney afirmou que o nível de juros depende de muitas variáveis e não "de um ato de vontade do BC ou do próprio governo". Ele também destacou que, em países com economia saudável, a autoridade monetária tem autonomia e mandatos fixos para seus diretores. A autonomia operacional do BC brasileiro foi adotada em 2021, mas vem sendo questionada pelo governo Lula. "O Brasil tem esse ativo institucional. É uma conquista que precisa ser preservada."
O presidente da Febraban ainda fez um alerta de que uma queda artificial dos juros não se sustenta. "Se os agentes perceberem que o BC está reduzindo a taxa Selic sem a devida base técnica, as taxas futuras vão se elevar, isso porque os agentes enxergam que a inflação, no futuro, subirá por conta desta ação equivocada da autoridade monetária."
Além disso, Sidney rebateu o argumento de que os bancos "gostam de juros altos", porque lucram com eles. Segundo ele, o que os bancos desejam é uma economia saudável, com inflação baixa e dívida pública estável a fim de ter juros mais baratos, porque só assim o crédito será amplo e acessível. "Tenho dito com muita naturalidade que os bancos não precisam de juros altos para lucrarem mais. Lucros decorrem de eficiência, de ambiente de negócios e não de juros."
Por fim, Sidney destacou que é preciso atacar as causas dos juros altos. "Ir contra a racionalidade econômica é repetir erros passados, atrasar o relógio da sociedade é condenar os mais pobres a permanecer na pobreza e a atual e a futura geração de brasileiros a um futuro medíocre. Estou seguro de que não é isso que o Parlamento quer, até porque erros repetidos não fabricam acertos."