Pãozinho tem alta de 17% em um ano e pesa mais no bolso do capixaba
Um dos principais alimentos do café dos brasileiros ultrapassou a inflação e os consumidores sentem alta do preço diariamente
Com alta duas vezes maior do que a inflação acumulada dos últimos 12 meses, o pão francês está mais caro e pesa cada vez mais no bolso do capixaba. Esse alimento comum no café da manhã teve alta de quase 17% em um ano, revela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta dos preços no setor de panificação não ficou restrito a apenas ao pão de sal, infelizmente. A pesquisa aponta também que outros produtos do setor, especialmente aqueles que dependem do trigo, tiveram alta de 18%, em média.
Os consumidores, os mais afetados pelo aumento dos preços, sentem esses aumentos na conta do fim do mês.
"Acho que as pessoas têm que se conscientizar de que o Brasil é um país que tem condições de ter uma alimentação mais barata. Mas o alimento do pobre, que é o pão francês, colocam com o preço lá na altura. Tá quase R$ 20 o quilo do pão", reclama Maria Mirandola, após sair de uma padaria no Centro de Vitória.
Já Camila Aparecida se queixa da dificuldade de comprar o alimento todos os dias: "Não tem como, apenas dois pães já custam quase R$ 2. Não tem como comer pão todo dia, temos que ter moderação", afirma.
Matéria-prima importada explica preço alto do pão
O presidente do Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Estado do Espírito Santo, Ricardo Augusto Pinto, destaca que 70% da matéria-prima é importada, principalmente da Argentina, que está enfrentando crises internas.
Como o Brasil não é autossuficiente na produção de trigo, precisa comprar no exterior. Como o dólar também está alto, encarece ainda mais o produto. E esse custo é repassado para toda a cadeia, chegando até o consumidor final.
“A segunda opção de importação é o Canadá. Com isso, vamos para a Europa, onde estamos enfrentando as consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia. Uma demanda maior acaba gerando a escassez do produto”, explica Ricardo.
O presidente do sindicato revela que uma consulta feita pelo Sindipães mostra que a média de valor do pão francês sugerido pelo mercado ao consumidor seria de R$ 28 o quilo, mas nas padarias do Estado há lojistas vendendo a R$ 18.
Ele ainda frisa que a leitura do setor é de que muitas padarias estão absorvendo a sua margem de lucro para ter um produto mais competitivo.
O sindicato aponta que havia uma projeção de várias altas no preço da matéria-prima, mas o cenário atual manteve estabilidade e novas altas ainda não foram registradas.
O economista Eduardo Araújo diz que além da influência do conflito no leste europeu, o acumulado do preço do trigo nos últimos 12 meses no Brasil chegou a um patamar de 30%, elevando o custo da mão de obra para os donos de padarias.
"A gente tem outros custos que também subiram nos últimos meses, como a energia elétrica. A gasolina e o diesel, apesar de terem tido uma redução recente, nem sempre têm as quedas repassadas para os transportes, então isso acaba não refletindo diretamente na redução dos preços", ressalta Araújo.
O economista destaca também que o valor elevado da mão de obra impacta o setor, devido à alta inflação do Brasil, que acaba sendo repassado para o valor final do produto que chega ao bolso do consumidor.
A influência da guerra na alta do trigo
Uma nota divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq/USP) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), aponta que o trigo, matéria-prima do pão francês, foi o cereal que mais sofreu interferências com a guerra entre Ucrânia e Rússia.
Somente a Rússia representou 19,3% de exportações na safra dos últimos dois anos. Com esse número, o país ocupa a segunda posição na produção mundial do grão, perdendo apenas para a China, que tem sua produção voltada para o consumo do mercado doméstico.
A nota ainda aponta que no mês último de março, os preços do trigo no Brasil atingiram a máxima nominal histórica da série do Cepea, iniciada em 2004.
No início do confronto no leste europeu, os portos ucranianos estavam fechados e diversos navios graneleiros foram impedidos de zarpar, afetando o abastecimento de trigo em diversas partes do mundo.
*Texto de Danilo Luca, aluno de Jornalismo da 1ª Residência em Jornalismo da Rede Vitória, sob supervisão do editor Vitor Ferri.