Educação financeira: mesada aplicada de forma errada pode afetar personalidade das crianças
Especialista alerta que adultos devem se atentar sobre a importância de mostrar como poupar dinheiro e usar de forma inteligente
Como forma de educar os filhos financeiramente, algumas famílias optam por dar dinheiro para crianças e adolescentes, a famosa mesada. Assim, eles começam a entender desde cedo o valor do dinheiro e aprendem a poupar para alcançar objetivos a longo prazo.
Porém, os adultos devem se atentar que, além da importância da educação financeira, é fundamental ensinar os filhos a economizar esse dinheiro e para que ele seja usado de forma inteligente. Segundo especialistas, isso se alcança através de um diálogo constante com os filhos, sobre como eles vão gastar o dinheiro e com incentivo a utilizar com responsabilidade.
Qual o valor de uma mesada para a criança ou adolescente?
A quantidade correta da mesada depende de vários fatores, principalmente o padrão de vida da família, a idade da criança e o destino do dinheiro. Para a psicóloga e neuropsicóloga Mônica Nogueira, nas idades entre 5 e 7 anos, as crianças já começam a apresentar uma compreensão sobre o que é o dinheiro e a sua importância. Com a alfabetização, eles passam a fazer pequenos cálculos e a lidar mais intensamente com os números.
A forma de mesada indicada para as crianças nessas idades é a "semanada". A psicóloga sugere que o valor não ultrapasse R$ 5 por semana e, se a família preferir, pode ser pago em moedas.
Já para as crianças maiores, de 8 a 11 anos, o valor pode ser de R$ 10. Mônica explica que nessas idades as crianças já compreendem o real valor das coisas e podem discernir o que é caro e o que é barato.
Outra forma para definir o valor a ser dado para as crianças maiores, é a mesada de acordo com a idade. Por exemplo: se ela tiver 8 anos, pode receber R$ 8 por semana. Outra dica, é fazer uma transição da semanada para a quinzenada, dando o dinheiro a cada 15 dias.
A partir dos 12 anos, o valor da mesada pode ser limitado a R$ 3 por semana, multiplicado pela idade. Por exemplo: se o seu filho tem 13 anos, você pode optar por pagar R$ 39 por semana (13 anos x 3 reais). Caso o valor seja apertado para a família, a dica é diminuir o valor para R$ 2.
A psicóloga orienta que nessa idade a criança já tem condições de lidar com um ciclo mensal da mesada. Sendo assim, o dia do recebimento pode ser no mesmo dia em que os pais recebem o salário. "É importante destacar que as sugestões de valores precisam ser avaliadas conforme a vida financeira da família. São parâmetros que não precisam ser considerados de forma rígida, mas precisa também levar em conta o repertório de comportamentos da criança," disse Mônica.
Quando a mesada está ligada a troca de favores dentro do ambiente familiar, a psicóloga alerta para os perigos. Já que a criança pode aprender um padrão negativo de relacionamento com o dinheiro, ou seja, a família pode estar ensinando comportamentos financeiros nocivos através da mesada, ao vincular a ideia de dinheiro a favores domésticos e escolares.
Isso pode passar a mensagem de uma inversão de valores de justiça, solidariedade e moral. Por exemplo, se toda vez que uma criança fizer um favor e ganhar determinada quantia, isso acaba se tornando apenas um meio para outra finalidade, que é "conseguir dinheiro”. Essa atitude pode desenvolver uma crença distorcida de que as únicas coisas que valem a pena ser feitas são aquelas pagas por dinheiro.
A psicóloga orienta aos pais a ensinar as crianças a contribuir em casa em benefício de um bem comum, não pensando em receber dinheiro por prestar favores.
Os pais podem tirar a mesada dos filhos em forma de castigo?
Uma das formas da família punir uma criança pelo descumprimento de uma regra que foi anteriormente combinada ou imposta é tirando a mesada. Para a psicóloga, a mesada não deve ser usada como prêmio e nem como forma de castigo, já que pode inviabilizar o aprendizado sobre educação financeira e econômica. "O castigo só deve ser usado em último recurso. Os pais devem deixar claro as regras, o que se ganha e o que se perde com elas," disse.
Ela também orienta o que fazer para educar as crianças, sem castigá-las dessa forma. "Ao invés de retirar a mesada, a família pode oferecer um bônus por algum mérito especial que a criança tenha feito por merecer. Ou seja, se ela fizer algo além das expectativas, os pais podem oferecer alguma recompensa a mais, incentivando esse tipo de comportamento, por motivação. Caso ela não faça 'jus' ao bônus, por aquilo que foi combinado, a família pode colocar como meta ou objetivo para o próximo mês," ressalta.
Dar dinheiro quando a criança pedir ou dar uma mesada fixa?
Para a psicóloga, é mais assertivo dar uma quantia fixa para a criança todos os meses, pois isso pode ajudar no planejamento da responsabilidade e autonomia do uso do dinheiro para médio e longo prazo. Por outro lado, a criança pode entender que no futuro será sempre dessa forma.
É importante conscientizar - para evitar essa impressão errônea, os pais devem sempre compartilhar com a criança a situação financeira da família, conscientizando os filhos que podem haver mudanças em algum momento. Caso o orçamento doméstico precise ser modificado, o valor da mesada deve acompanhar a variação do orçamento.
Pais que não tem condições de dar mesada aos filhos: o que podem fazer para educar a criança financeiramente?
Os pais podem optar por dar dinheiro aos filhos de forma pontual e “conforme a demanda”. Mônica revela que algumas atitudes podem ajudar na educação dos filhos financeiramente, sem dar mesada. Dar presentes para os filhos em datas específicas pode ajudar, como no Natal, Dia das Crianças ou aniversário.
Se a criança quiser um brinquedo fora dessas ocasiões, ela deve ser estimulada a guardar dinheiro para comprar. "Se o item for mais caro, os pais podem propor de pagar a metade. O importante é que a criança entenda a necessidade de poupar e que não é possível ter tudo na hora que se quer," explica a psicóloga.
Dar mesada tem o lado ruim?
Para Mônica, isso depende muito do que os pais acreditam e da relação estabelecida com o dinheiro. A mesada pode ser ruim se não houver um manejo adequado, uma organização e alinhamento da renda com as metas da família. As práticas parentais precisam ser condizentes com o modelo que os pais desejam ensinar para as crianças, no que tange ao consumo consciente e a educação financeira.
"O diálogo é muito importante para que as crianças possam entender que nem sempre poderão ter dinheiro à sua disposição. Os pais precisam deixar claro que a realidade da família sempre será considerada e discutida, para que a criança não apenas gaste o dinheiro e peça mais quando quiser. Pais que não educam financeiramente e apenas dão o dinheiro não estão educando seus filhos."