Economia

Carrefour prepara retratação formal com carta de CEO global entregue a ministro

Crise entre o Carrefour e a indústria de carnes brasileira escalou nos últimos dias, com frigoríficos suspendendo o fornecimento de produtos ao grupo

Estadão Conteúdo

Foto: Reprodução/ Redes Social

O CEO do Carrefour Global, Alexandre Bompard, fará uma retratação formal ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, após as suas declarações levarem à interrupção de fornecimento de carnes por parte de frigoríficos brasileiros ao Grupo Carrefour Brasil. 

Segundo afirmou ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) uma pessoa próxima à empresa e participante das discussões, o desejo da gestão da companhia é de que a carta seja entregue em mãos, o que depende, também, da agenda do ministro.

LEIA TAMBÉM:

>> Mutirão de renegociação de contas atrasadas terá desconto de até 90%

>> Maior importador do país, ES ultrapassa R$ 8 bilhões em aeronaves

O governo brasileiro e a Embaixada da França caminham para um entendimento na crise entre o Carrefour e a indústria de carnes nacional. O diálogo avançou na segunda-feira, 25, após um encontro entre o embaixador Emmanuel Lenain e o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua. Entretanto, a crise ainda não está resolvida.

No encontro no ministério, no fim da tarde da segunda-feira, o embaixador teria apresentado a carta de Bompard. Lenain deixou o ministério sem falar com a imprensa.

Ele não se encontrou com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que chegou logo depois, pois estava em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto.

O boicote dos frigoríficos ocorreu após Bompard se comprometer, na última semana, a não vender em lojas da França carnes do Mercosul.

Segundo ele, a medida foi tomada após ouvir o "desânimo e a raiva" dos agricultores franceses, que são contrários à proposta de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Fávaro, por sua vez, disse não ter feito um pedido explícito ao setor frigorífico para que realizasse o boicote, mas parabenizou a indústria brasileira pela decisão.

As palavras de Bompard foram recebidas com surpresa até mesmo por membros do conselho da operação brasileira, que afirmaram que a fala foi "pouco diplomática".

A declaração foi "mal pensada, com foco apenas político e não nos negócios", afirmaram pessoas próximas ao comando do Carrefour no Brasil consultadas pela reportagem.

Diálogo entre o governo e a embaixada

Uma nova rodada de conversa entre o embaixador e o ministro está prevista para esta terça-feira, 26. Lenain quer atuar como "intermediário" na questão e aliviar a tensão entre o agronegócio brasileiro e a França.

A crise entre o Carrefour e a indústria de carnes brasileira escalou nos últimos dias, com frigoríficos suspendendo o fornecimento de produtos ao Grupo Carrefour - Carrefour, Atacadão e Sam's Club - no Brasil, em represália ao comunicado recente de Bompard.

O Carrefour França afirmou que a medida é restrita apenas às unidades francesas, enquanto o Carrefour Brasil afirmou que não há mudanças na operação local.

A indústria brasileira de carnes condicionou a retomada do fornecimento de produtos ao Carrefour Brasil a uma retratação pública de Bompard.

De acordo com interlocutores, a reunião entre Lenain e integrantes do Ministério da Agricultura foi "positiva" a fim de um entendimento e de aliviar a tensão entre a indústria e o grupo varejista francês. Oficialmente, o ministro não recebeu a carta com pedido de desculpas, tendo sido repassada a seus auxiliares.

O que falta dizer na carta

Entretanto, para governo e indústria de carnes, o teor da carta ainda não atende aos termos do pedido de retratação desejada pelo Brasil. "O assunto ainda não está resolvido", disse uma pessoa que participa das negociações.

O ponto mais sensível para governo e indústria do comunicado de Bompard foi a afirmação de que as carnes do Mercosul, incluindo a brasileira, não respeitam requisitos e normas do mercado francês.

Pessoas a par do teor do texto e das tratativas entre a embaixada, o governo e a indústria afirmam que a carta terá de incluir uma retratação quanto à boa qualidade e a sanidade da proteína nacional.