Gastronomia

Do Uruguai para o Espírito Santo: chef fala sobre amor e dificuldades na profissão

Aos 28 anos, Andres Cervini é natural de Montevidéu, e atualmente, é chef executivo do maior grupo de restaurantes do Espírito Santo

Thamiris Guidoni

Redação Folha Vitória
Foto: arquivo pessoal

Sonhos… o que seria se não os tivéssemos? E falando nisso, ela é um deles!

Quando a conheceu, se apaixonou. Sabe aqueles amores de filmes? Nela, ele encontrou paz e refúgio. Em meio ao caos, era lá que se sentia seguro e com o coração leve. Lá, recomeçou, e recomeça sempre que precisa.

"Sinto prazer de vir trabalhar, e sempre falo que saio de casa para dar 100%, se for pra dar menos, fico em casa" - Andres Cervini

Foto: arquivo pessoal

Aos 28 anos e há 10 anos no Brasil, o chef Andres Cervini, que é natural de Montevidéu, no Uruguai, se apaixonou pela gastronomia, e em meio às dificuldades, descobriu seu lugar no mundo. 

"A cozinha faz parte de mim desde que me entendo por gente. Minha mãe nos abandonou (meu pai, meu irmão e eu) uma semana antes do meu primeiro aniversário. Meu pai tinha dois trabalhos para poder levar dinheiro para casa. Lembro que ele pagava nossa babá, e além disso, estava construindo nossa casa". 

Mas quem disse que de algo ruim, não tiramos o bom e o bem? E, na maioria das vezes, a dor nos faz querer ser melhor e fazer o melhor. 

"Nesse tempo de ausência do meu pai, que era o dia todo, já que ele saía às 6 horas e voltava 3 horas, meu irmão e eu fazíamos as coisas em casa. Cozinhávamos, limpávamos, estendíamos a roupa, enfim. Lembro que minha primeira comida foi uma carne ensopada que era só carne e batata boiando (risos). A partir daí, fui fazendo e melhorando, até que chegou certa idade que vi que era bom no que fazia, e que além disso, gostava de cozinhar. Logo depois disso, decidi que queria isso para minha vida e fiz gastronomia no Uruguai". 

Na cozinha, é como se os problemas não o tomassem e ditassem seu dia. Ali, ele sente livre e transbordando amor, mas o caminho nunca é fácil. 

"Lembro a primeira vez que trabalhei em um restaurante em Vitória. O ano era 2016 e fiz um espaguete ao alho e óleo. Entreguei pro chef naquele daquele momento. Ele olhou pro prato e jogou no meu fogo. O que ele fez e o momento, nunca vou esquecer. Ele me mostrou como fazer, e desde então, faço como tem que ser. Não aprendi do jeito mais gentil, mas posso dizer que hoje, faço um espaguete ao alho e óleo bom pra caramba (risos)". 
Foto: arquivo pessoal

Mas as histórias marcantes não aconteceram só no Brasil. No Uruguai também não era nada fácil, mas isso fez com que Andres quisesse ainda mais correr atrás dos sonhos. 

"Eu estava no refeitório do Sofitel Montevideo, lugar que eu trabalhava. Estava almoçando com o garçom encarregado dos eventos do hotel, e num momento ele falou para o sommelier (um renomeado sommelier uruguaio): 'Esse menino aqui vai chegar longe!', e a resposta do profissional foi: 'Vai nada. Esses meninos de hoje em dia se colocam limites'. Nunca mais esqueci disso e levo comigo até hoje para me lembrar de que não tenho que ser com os outros". 

Além das histórias que o marcaram, para o chef, hoje em dia, falta dedicação e comprometimento por parte de algumas pessoas que querem seguir nessa profissão.  

"O mundo mudou muito depois da pandemia né?! Hoje vejo muita falta de dedicação. Eu trabalho, às vezes, mais de 16 horas diárias, e muitos acham que é só fazer um curso e você já é chef. A verdade é que vejo muita falta de dedicação, estudo, comprometimento e amor pela profissão".

PARCERIAS AO LONGO DO CAMINHO

Foto: arquivo pessoal

O que seria de nós se não fosse os amigos e parceiros para apoiar não é mesmo? No Espírito Santo, Andres diz que algumas pessoas importantes o ajudaram ao longo do caminho. 

"A chef do Aleixo, a Josiana, me ajudou e aconselhou muito. Com certeza não estaria onde estou se não fosse pelos conselhos dela, mas acho que todos as pessoas que conheci no caminho me ajudaram de um jeito ou outro. Pra mim é um prazer trabalhar com chefs tão bons".

Além de Josiana, o chef também citou outros profissionais que o apoiaram. 

O Pedro, chef do Balthazar, Marcela Santos, do Canto do vinho, enfim, todos os chefs me ensinam muito, até as pessoas que estão na direção do grupo. Sinto prazer de trabalhar com Lucas, que é o diretor operacional, Vinícius, que é supervisor, Leonardo, o dono do grupo. Eles sempre estão me aconselhando para eu dar sempre meu melhor". 

Atualmente, Andres é chef executivo do maior grupo de restaurantes do Espírito Santo, e deu conselhos para quem quer seguir rumo à gastronomia.

"Para quem quer seguir esse caminho, saiba que muitas vezes vai se sentir frustrado pelo salário, mas o dinheiro é consequência do trabalho, e isso melhora no decorrer do tempo. Se dedique muito e saiba que vai ser difícil, mas no fim das contas, vai valer a pena."

E para o chef, desistir não é uma opção!

"Não desistir é primordial! Tente absorver o maior conhecimento dos colegas e quando tiver alguma observação, alguma crítica construtiva, sempre aceite e tenha humildade. Ter humildade é fundamental. A gente vê muitos chefes que carecem disso: humildade. Mas o meu maior conselho é sempre ter foco! Se você quer, vai chegar lá e isso depende só de você". 

Na cozinha é onde Andres se emociona, ouve histórias, conta as dele, e leva consigo, a certeza de que nunca será tão ele como é quando está ali, emanando amor… sempre com, e por ela... a gastronomia.