Antônio Fagundes revela motivo de ter saído da Globo: - Acordo não ia ser cumprido
Antônio Fagundes participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, dia 23, e contou um pouco mais sobre a sua saída da Globo. Segundo ele, a decisão foi acertada dos dois lados e aconteceu devido a uma quebra no cumprimento de uma cláusula no contrato.
O acordo em si durou cerca de 44 anos e permitia que o ator gravasse as novelas nas folgas do teatro, já que ele sempre deixou claro que não queria abandonar os palcos:
- [A decisão de não renovar com a Globo] foi acertada dos dois lados, quando eu aceitei fazer televisão com esse acordo e quando eu parei de fazer televisão porque esse acordo não ia ser cumprido. Eu entrei na televisão querendo fortalecer meu trabalho no teatro. Eu queria que meu trabalho no teatro fosse visto pelo maior número possível de pessoas, dentro das limitações que um teatro tem. A condição para eu fazer televisão, quando eu entrei, era de que o meu teatro não fosse interrompido de jeito nenhum, então eu só gravava nas folgas do teatro, que eram às segundas, terças e quartas.
Embora fora da emissora, Antônio agradeceu todas as oportunidades dadas por ela, mas reforçou que essa regra era essencial para ele:
- Eu talvez tenha sido o único ator de televisão que conseguiu esse acordo com a TV Globo, e eu fiz isso durante 44 anos. Todas as novelas que eu fiz eram muito difíceis, que eu ia para o Araguaia, para Ilhéus, e eu era o protagonista absoluto da grande maioria delas e nunca aconteceu nada comigo lá. Quando eles resolveram mexer nessa regra, eu resolvi sair.
O ator também contou que não descartaria a ideia de voltar para uma novela, mas que teria que ser dentro do acordo, mantendo as gravações às segundas, terças e quartas.
Além disso, Fagundes opinou sobre os remakes das novelas e do mercado audiovisual brasileiro no geral. De acordo com ele, a falta de investimento em criação e formação de atores é o motivo da escassez de novas produções, o que leva à necessidade de apelar para obras já bem-sucedidas.
- Não sei te dizer o que aconteceu, mas parece que as pessoas pararam de investir na criação. O que aconteceu com a televisão brasileira é uma coisa interessante de a gente observar.
Antônio ainda apontou que foi com muito investimento que as emissoras alcançaram boas produções.
- Foram décadas de ouro na teledramaturgia brasileira, mas aquilo não surgiu do nada, aquilo foi sendo formado. A própria TV Globo investiu muito, durante décadas, na formação dos seus artistas --e não só na criação de textos, na direção, na produção, nos cenários, nos figurinos, na interpretação. Eu passei 44 anos na TV Globo, e eu posso dizer que a minha formação se deve a esse processo de investimento de uma grande empresa em cima dos criadores. Nós não podemos fazer do nada com que isso apareça, não é do nada. O que está acontecendo agora, nós só vamos colher os frutos daqui a 30 anos. Por isso que está tendo essa coisa louca.
Ele também ressaltou que acredita que a TV aberta ainda é muito forte e pediu para que o público não abrisse mão dessa experiência:
- A TV aberta é muito forte. Tudo bem que têm outros veículos por aí, mas, por favor, não se desfaça dela. É a mesma coisa que, porque tem internet, a gente queimasse todos os livros. Não, pode conviver, deve conviver. Aliás, são exercícios de leitura diferentes --o que você lê num e-book, você não lê num livro físico. Então, é diferente essa experiência, digamos assim. A gente se desfazer de uma experiência que está dando certo há milênios só porque veio outro veículo é uma burrice insustentável, não consigo entender isso.
E você, o que acha sobre os remakes?