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Não é lá das coisas mais fáceis decidir o tema de um programa assim. Não é daqui para ali. E produzir, gravar, editar e colocar no ar, então… Não poderia – ou não deveria – dar margem para o aconteceu na reestreia de Linha Direta, na Globo, na última quinta-feira (4). Ao abordar o Caso Eloá, que comoveu o Brasil em 2008 e terminou no que é, no mínimo, uma das maiores tragédias do País, sem sensibilidade, a nova temporada do programa – que ganhou ar sofisticado e, tecnicamente, foi bem – queimou na largada com a enxurrada de críticas que caíram no colo não só de Ana Hickmann e Sonia Abrão, indiretamente citadas ao longo da apresentação de Pedro Bial, senão também bateram vermelhas na conta da Vênus Platinada. 

E se por um lado não é fácil essa tomada de decisões toda, pareceu muito simples para o semanal criminal virar tribunal, apontar dedos e definir, mais de uma década depois, o que foi ou deixou de ser que matou Eloá Cristina aos 15 anos, mantida em cárcere pelo então ex-namorado por mais de 100h em São Paulo. 

Para Bial, falar que uma “sucessão de erros” deu no que deu é tranquilo. E a fala ser corroborada pelos entrevistados, mais ainda. 

Aliás, quem fala, indiretamente, das duas apresentadoras que vêm sendo atacadas pela conduta que tiveram, à época do caso, é justamente um dos participantes das entrevistas do programa – o promotor Antonio Nobre Folgado. Para Sonia Abrão o recado é bem direto: “Ela achou que ela poderia resolver a situação (tomando o lugar de negociadora) e atrapalhou”. 

Já a mea-culpa que atribuem a Ana Hickmann foi mais dichavada e, quem não sabe, às vezes, nem identificou que poderiam ter se referido à loira também. 

Fato é que alfinetaram – e bonito! – as duas. 

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Mas esqueceram que eles próprios também estavam lá, do lado de fora do prédio, com César Tralli (este, sim, participou da reestreia) e Fátima Bernardes, então comandando o Jornal Nacional, dando entradas ao vivo e novidades do vuco-vuco do cativeiro em tempo real. 

AGORA É QUE SÃO ELAS!

Em 2008, elas podem ter errado, sim, mas quem tem telhado de vidro não pode atirar pedra no do vizinho. E repetir o erro de superexposição já agora, em 2023, sem dar espaço a possíveis respostas, foi, sim, imprudente. Ao mesmo tempo que apontam os erros (e incluem o trabalho da polícia nisso), deixam o agente que foi o negociador do caso se explicar, mas hora nenhuma Ana ou Sonia aparecem para dar suas versões – e não há quaisquer esclarecimentos sobre se a exclusão delas do programa foi por vontade própria ou por uma decisão editorial da emissora. 

Após a exibição da reestreia, Ana Hickmann chegou a se pronunciar via RecordTV e pedir desculpas pela cobertura que fez na ocasião. Sonia Abrão, até o meio da tarde deste sábado (6), permaneceu calada sobre o caso. Certamente a dupla não gostou nem um pouco de ter que reviver a polêmica, sentimento que compartilha, agora, anos depois, com a família de Eloá, que também não aparece no (quase) mini documentário. Só um dos amigos sobreviventes e uma vizinha da mãe de Eloá deram entrevistas e narraram os fatos como se lembravam de eles terem ocorrido. 

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“PODERIAM DEIXAR A MEMÓRIA VIVA. MAS PREFEREM A DOR”

Cintia Pimentel, esposa do irmão mais velho de Eloá, usou a internet para manifestar a insatisfação da família com a abordagem da história da forma como foi contada. 

“Até ontem estava tudo tão bem! Estavam todos bem! Hoje seria o aniversário de 30 anos… Eu não tenho propriedade para falar em nome da perda, pois apesar de sentir muito, não sinto na pele o que é perder um filho e peço a Deus que nenhum de nós experimente estar nessa situação. Mais uma vez, digo: existiram sonhos, anseios, sorrisos, planos, histórias e muito mais coisas positivas que poderiam deixar a memória sempre viva nesta e em outras gerações. Mas, não. Preferem a dor, preferem resumir a história somente ao que traz à tona os piores momentos da vida de alguém”, escreveu a mulher de Ronickson Pimentel pelo próprio perfil do Instagram. 

AFINAL, POR QUÊ?

A Coluna Pedro Permuy faz destas palavras as próprias e, apesar de – como um jornalístico de entretenimento – entender o apelo que há, indiscutivelmente, em questão, o questionamento é: no que Linha Direta acertou nesta nova tentativa de emplacar audiência nas noites de quinta-feira? 

O problema não foi abordar o caso em uma data relevante para a situação – no ano em que a vítima completaria 30 anos. Muito pelo contrário. O que dá margem ao questionamento é: 

1. Por que Ana Hickmann e Sonia Abrão não puderam se manifestar e enriquecer o debate sobre o papel da imprensa no jornalismo policial da época? Como era e o que mudou? Será que elas teriam a mesma conduta? E se tivessem, seriam canceladas?

2. Por que a família de Eloá não apareceu na gravação e, caso tivessem negado participação, qual seria o motivo de Bial não ter falado ao vivo algo como “A família foi procurada, mas preferiu não se manifestar neste episódio”? 

3. Por que o desfecho da história dá largo espaço ao tempo dedicado à exploração da tragédia, em si, com riqueza de detalhes na reconstituição de todo o crime, em detrimento de falta de elementos que tratem (e debatam) do porquê a lei no Brasil é frouxa e o assassino de Eloá corre o risco de se libertar sem nem sequer cumprir metade da pena à que foi condenado inicialmente (de 98 anos de reclusão)? 

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Em gerar dúvidas sobre os porquês, Linha Direta acerta de cara. Mas sob o aspecto de resolver (ou ajudar) casos… O porquê chega de bandeja e tudo.