Um vice que, definitivamente, não tem nada de decorativo. Ricardo Ferraço é um dos principais pilares da relação do governo do Estado com o meio empresarial e com pautas que são fundamentais para a evolução do desenvolvimento do Espírito Santo.

Duplicação de rodovias, linhas de ferro, negociação de pautas relativas à infraestrutura com o governo federal. Tudo isso sob responsabilidade do vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento.

Ricardo Ferraço conhece muito bem as dores das cadeias produtivas do Estado e é muito claro ao falar que “não existe bala de prata” para consolidar crescimento e desenvolvimento.

São muitas pautas essenciais, além de uma atenção especial a mudanças de legislação que podem prejudicar as principais atividades que movimentam a nossa economia.

A reforma tributária pode afetar diretamente a atração de empresas e geração de receitas em solo capixaba e é uma preocupação que provoca estudos e linhas de ação por parte do governo.

O vice-governador é apontado como um elo do governo com o meio empresarial por causa da facilidade de interlocução. Além disso, Ferraço está diretamente relacionado a negociações importantes do estado principalmente nas áreas estruturais.

E além de lidar internamente com as pautas que movimentam a nossa economia, Ferraço também vai atrás de bons negócios. Em recente viagem à China, ele estreitou relações com grandes empresas e já anunciou que está de olho em montadoras que queiram se instalar no Estado.

Confira a entrevista com Ricardo Ferraço

Recentemente o senhor foi para a China em busca de negócios aqui para o Estado. O que o senhor trouxe na bagagem dessa viagem?

É muito importante a gente identificar a importância que tem o comércio exterior para a economia do Espírito Santo. Desde sempre somos um estado que tem uma forte relação com o mundo e essa relação começou com a produção e exportação do café.

Não é sem razão que a economia do Estado é considerada aquela com o maior grau de abertura do país.

É uma equação em que você pega o PIB do Espírito Santo e divide pelo movimento de importação e exportação. Então o comércio exterior é uma excepcional oportunidade.

Nós temos uma relação comercial forte com a China a partir de dois produtos que nós exportamos muito para eles: minério de ferro e celulose. Mais recentemente nós ganhamos muita relevância e protagonismo na importação de veículos, sobretudo os elétricos. Pela nossa posição geográfica, pelos nossos estímulos, pela eficiência e qualidade do nosso capital humano, pela infraestrutura portuária, pela logística.

Nós recebemos um convite para visitar essas empresas que estão exportando esses veículos para o Espírito Santo, por ocasião da Pequim Auto Show, que é o principal salão de automóveis do mundo, sobretudo de carros elétricos.

Nós passamos uma semana na China visitando essas empresas na busca de manutenção dessa atividade econômica e estamos trabalhando com essa prospecção para que não sejamos apenas importadores dos veículos elétricos chineses, mas para que nós possamos ter aqui no Estado uma montadora de uma dessas fábricas que estão vindo para o Brasil.

Porque temos aqui estrutura. Nós vamos ter aqui no município de Aracruz uma nova estrutura portuária que é o porto da Imetame, conectado com o porto indústria, com uma Zona de Processamento de Exportação.

O que de fato fomos fazer na China foi prospectar novas oportunidades que no fim do dia significam geração de emprego e trabalho para os capixabas.


A captação de empresas chinesas é o próximo passo para o desenvolvimento do Estado?

Eu diria que agregaria um valor novo à economia do Espírito Santo. O nosso patamar já é bastante elevado em relação às atividades econômicas que nós desenvolvemos aqui. Então, você não muda de patamar com uma “bala de prata”. Mas por um conjunto de atividades que a gente está vendo acontecer no nosso Estado e que está produzindo muito resultado.

Quando por exemplo você trabalha a renovação da concessão da BR-101, melhorando a infraestrutura da rodovia. Quando nosso porto deixa de ser público e se torna privado.

O Estado precisa concentrar toda a sua energia em torno daquelas atividades que são essenciais ao desenvolvimento humano, como Saúde, Educação, Segurança pública… isso sim é tarefa de Estado.

Como o Estado acompanha hoje a evolução de obras de infraestrutura? Começando pela BR-101.

Nós temos três importantes rodovias federais que são estratégicas para o nosso Estado. A BR-101, a BR-262 e a BR-259. O maior dos nossos desafios é a manutenção dos investimentos na BR-101.

Essa rodovia é concessionada e a empresa devolveu o contrato ao governo federal. Nós fizemos um esforço muito grande e estamos aguardando a conclusão dos estudos do Tribunal de Contas da União para que esse contrato possa ser reposicionado.

Nossa expectativa é de que entre os meses de junho e agosto tenhamos uma definição relacionada à manutenção dos investimentos da BR-101 com a expansão da duplicação.

Esperamos que permaneçam os três contornos, que são os de Ibiraçu, Fundão e Linhares. E onde não for possível a duplicação, como por exemplo no trecho Norte na reserva de Sooretama, onde não há licença ambiental, que exista uma terceira faixa, que vai oferecer maior conforto, segurança e competitividade para a nossa BR.

Estamos muito próximos de uma solução (para a BR-101), lembrando que não é uma decisão que depende do nosso governo, mas do governo federal.

E estamos empenhados nessa interlocução. Também já há contratação do projeto para duplicação da BR-262 por parte do governo federal.

Outro projeto que estamos trabalhando em parceria com a União e com a Vale é a implantação da Ferrovia Sul Litorânea, conectando Cariacica até a Samarco em Anchieta e depois uma extensão até mais ao Sul do Estado.

Isso vai permitir que a gente conecte essas plantas industriais no Sul com o Centro aqui, na Grande Vitória, e conectando também com a estrada de ferro Vitória a Minas. Nós estamos muito antenados e isso toca num tema fundamental.

A infraestrutura dialoga com a competitividade da nossa economia.

Como um político vai para o mundo empresarial e volta à política? Como essa experiência pode ajudar na gestão?

São experiências distintas, mas que no dia a dia se complementam. Tanto na atividade pública como na atividade privada você precisa ter propósito. E isso precisa se transformar em impacto.

O objetivo na vida privada está muito endereçado a você alcançar resultados, fazer com que esses resultados possam representar ganhos para os seus acionistas, mas não apenas para eles. Também para a comunidade, para o meio ambiente, porque esses temas hoje são transversais.

No ambiente privado você precisa gerar resultado para seus clientes, para os seus colaboradores e para a comunidade na qual você está inserido. Isso também, de certa forma, é o que faz a diferença no setor público, que precisa estar muito antenado para oferecer respostas para a sociedade.

O setor público não gera receita. Quem gera imposto, recurso, na prática, são os trabalhadores e empreendedores. O que os governos devem fazer é a boa aplicação desses recursos.

E como essa experiência de conhecer o lado do empresário faz a diferença?

Não é só conhecer, mas reconhecer o papel e a importância do empreendedor na sociedade. Não importa se esse empreendedor está na agricultura, no comércio, na indústria, se ele é pequeno, médio, grande. Reconhecer, valorizar e respeitar o papel de quem está empreendendo é essencial.

Quando você tem a oportunidade de estar dos dois lados do balcão é importante reconhecer as iniciativas e as boas práticas dos segmentos públicos que produzem bons resultados para a sociedade.

É o caso do nosso Espírito Santo, que tem se apresentado um nível de organização exemplar para o restante do Brasil e do mundo.

O que o senhor pensa sobre benefícios fiscais?

O incentivo fiscal foi importante. Ele é importante num país como o nosso, de dimensões continentais e com tantas disparidades regionais.

Se não houvesse os incentivos, não só no Espírito Santo como em outros estados, nós não estaríamos assistindo as oportunidades de desenvolvimento.

Aqui, no Estado mesmo, os incentivos foram e são muito importantes, porque você não tem um mercado de consumo como tem em São Paulo, no Rio, em Minas.

Então, São Paulo não tem que dar incentivo mas, ainda assim, dá. Como é que nós podemos ser competitivos? Um Estado como o nosso, que está aqui no Sudeste, cercado de gigantes,  territorialmente pequeno, com população menor…

Se nós não tivéssemos lançado mão desses incentivos, nós não teríamos atraído importantes indústrias do nosso país. E posso citar a Weg Motores, a Marco Polo, o Café Cacique, a fábrica de papel de Cachoeiro.

Portanto, os incentivos contribuem para que as oportunidades possam se apresentar de maneira mais ampla para os capixabas.

O Estado está se preparando para quando eles não existirem mais? Como?

Com certeza e por isso nós estamos investindo em novas atividades econômicas para o nosso Estado, como é o caso de uma montadora de carros elétricos.

Como é o caso de um novo porto que nós estamos vendo nascer e entra em operação no segundo semestre de 2025, que é o porto da Imetame.

Como é o caso de uma Zona de Processamento de Exportação, como é o caso dos novos investimentos que estamos fazendo para melhorar e aperfeiçoar a qualidade da produção de café no Estado.

Então, nós estamos muito antenados e nunca estivemos tão preparados para enfrentar esse desafio. Quer ver um exemplo?

Nós temos vários estados brasileiros que produzem petróleo e gás, mas nós somos o único  que faz poupança com os royalties que arrecada do petróleo e gás. Nós reservamos 40% de nossos royalties para um fundo, para usar esse dinheiro em novas tecnologias e geração de novos negócios.

O Estado está preparado para a reforma tributária da forma que ela se apresenta até agora?

Nós estamos com a nossa agenda pronta, estamos antenados e acompanhando. Eu diria que a reforma tende a simplificar a relação do contribuinte com o Estado, tende a desburocratizar essa relação. Ela elimina algumas coisas que tiram a competitividade, ou seja, tem coisas boas, mas precisamos estar atentos para que essas coisas boas possam se manter e estou muito seguro de que, na direção que está indo, acho que vai bem. Mas como diz o ditado popular: o preço da liberdade é a eterna vigilância.

Quanto de sua vida pessoal está na sua vida profissional? O que tem do Ferraço no governo?

Tem tudo. Tem meu coração, tem minha alma, tem meu tempo que é dedicado para a atividade do meu trabalho e para as atividades de relacionamento familiar.

O governo é algo que te consome por completo e você precisa ter muita estrutura emocional para poder equilibrar as coisas, o nível de atividade, para que você possa cuidar da sua saúde, do seu emocional, das relações pessoais. É o todo.

Qual o legado que você quer deixar no Estado?

Esse legado não é produto e resultado apenas desse momento. Tenho muita satisfação e segurança de afirmar que a gente é parte de um projeto que se iniciou lá em 2002 e que até 2024 fez um trabalho de transformação muito grande no Espírito Santo.

Nesse período todo, eu pude colaborar com algumas tarefas e algumas responsabilidades. Fui secretário de Agricultura, fui vice-governador duas vezes, fui senador da República.

O conjunto da obra coletiva, que contou por certo com a confiança dos capixabas e de muita gente que se dedicou a melhorar o Espírito Santo, trouxe o Estado até onde nós estamos.

É um legado geracional, de um conjunto de pessoas que se entregaram a esse esforço de transformar o Espírito Santo.

Ricardo Ferraço é vice-governador do Estado e acumula a Secretaria de Estado do Desenvolvimento. 

Veja abaixo entrevista completa ao Programa Valores:

 

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