Um dos principais pilares da economia do Espírito Santo, o comércio exterior. Para se ter ideia, a atividade fechou o ano passado com 3,75% de crescimento no Estado em comparação com 2022. E não é pouca coisa. A gente está falando de uma movimentação de US$ 19,3 bilhões, o que equivale a R$ 95 bilhões. Esses dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Parece que o Espírito Santo sempre teve vocação para o comércio exterior. E iniciativas do mercado devem consolidar ainda mais o Estado como agente importante do setor. Investimento privado no novo Porto de Vitória, ou Vports, possibilidade de voos internacionais de carga via Aeroporto de Vitória, novos portos no Sul e no Norte capixaba. 

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E quem amarra todas essas pontas é o presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex), Sidemar Acosta. 

Confira nesta Entrevista de Domingo

O que faz um empresário investir no comércio exterior aqui no Espírito Santo 

Primeiro é a vocação do Estado em termos geográficos. Quando a gente pensa na distribuição do Brasil nós, num raio de 1200 km a 1300 km, atingimos 80% do PIB brasileiro. E você tem essa oportunidade de fazer essa distribuição quando você olha para essa boa condição logística instalada. Além disso tem os benefícios fiscais,  que o Espírito Santo inclusive ensinou às unidades de federações da costa brasileira a trabalhar com  essas oportunidades do ICMS. E isso  fez com que o Brasil crescesse ainda mais com volume de importação.

O Estado é, ainda, o pioneiro em alguns produtos, por exemplo  veículos, aeronaves, vinhos e outros mais. Hoje o Espírito Santo pode e vem sendo líder. Nós estamos falando aqui de um novo momento de veículos, por exemplo. Nós temos aí as novas marcas entrando no Brasil com carros elétricos, vem novidades a todo momento. Acredito que este ano o Estado passa de 100 mil veículos nacionalizados por aqui.

Não é pouca coisa…

Não, não é pouca coisa. Nós fizemos 80 mil no ano passado. Então, para este ano agora com certeza vamos contabilizar mais de 100 mil  veículos nacionalizados aqui pelos portos do Espírito Santo. 

Como a gente sobreviveu depois do Fundap? O Estado tem condição de continuar sobrevivendo sem esse incentivo tão importante?

O Fundap não acabou. Ele continua e o que nós tivemos foi o seguinte. Na guerra fiscal dos estados, quando isso diminuiu a alíquota de 12%  para 4% ali todo mundo achou que o Fundap tinha acabado. Não. Ele perdeu dois terços da sua capacidade de geração de negócio mas isso foi praticamente para todos os estados que também exerciam o direito sobre o ICMS. Então, nós continuamos com 4% e continuamos fazendo.

Nós nos reinventamos, reinventamos aqui o comércio exterior e continuamos utilizando o Fundap.

 

Mas não temos só esse incentivo. Nós temos o Invest e nós temos o Compete. Isso conjugado com várias outras matrizes de negócio acaba tornando ainda muito vantajoso operar no Espírito Santo. 

Mas a gente teve um baque bem grande quando teve essa redução… quando saiu de 12% para 4%…

Tivemos realmente um baque,  mas tem uma outra coisa. O Fundap, por ele estar há mais de 50 anos operando, tinha uma garantia e um reconhecimento perante os outros estados que não tinham. Como o Fundap aqui  sempre foi lei, não era decreto, era acordo entre governo e iniciativa privada, então sempre foi discutido, debatido e isso ajudou a manter esse benefício aqui no Estado.

Existe algum  tipo de movimento do empresariado para não depender mais de incentivos como o Fundap?

Como é a cabeça do empreendedor desse setor hoje? Depois desses movimentos todos, quando teve a covalidação da nova alíquota, isso ficou fatiado em três situações: Indústria, Comércio e o Atacado. O Atacado acabaria em 2022, o Comércio em 2025 e a Indústria em 2032.

A gente conseguiu fazer um trabalho junto com o Congresso e levamos tudo isso, tanto o Fundap quanto o Investe e o Compete para 2032.

 

Aí veio agora a reforma tributária que já queria iniciar a escada de término dos benefícios em 2025. Conseguimos levar para até 2029, para garantir o término em 2032 como está para a Indústria. Respondendo a sua pergunta, como a matriz econômica está olhando para isso? Como a espiral econômica vai suportar a continuidade dessa geração de negócios aqui? Nós temos que pensar e olhar muito para o futuro e olhar para 2032 pensando nos capixabinhas, nos nossos sucessores. Se Deus quiser, as próximas gerações vão ter um  legado muito grande.

Primeiro porque hoje nós temos uma infraestrutura fantástica de retroárea começando. O Espírito Santo é o único estado que tem uma área alfandegada, que a gente considera de zona secundária, que é de 1 milhão de metros quadrados. Isso faz o porto ficar gigante, porque você remove essa carga para lá. Esse volume que eu falei inicialmente aqui de veículos, por exemplo, se não fosse essa área alfandegada desse tamanho a gente não teria condições hoje de falar nessa magnitude. Outra coisa.

Nós temos hoje aproximadamente 3 milhões de metros quadrados de área construída, ou seja,  nós temos retro área construída com bons operadores logísticos, nós temos bons sistemas, bons profissionais que atuam aqui e que não perdem para nenhum grande centro. A gente às vezes até exporta mão de obra e inteligência aqui do Estado. Então, esse legado que está ficando vai manter certamente essa atividade econômica.

Qual é o peso dos gargalos do Estado para o setor?

É um peso significativo. Temos um problema hoje da BR-101, que está sendo duplicada e  já ganhamos bastante. Porque a gente tinha um problema muito sério com essa rodovia que passava dentro de Iconha e já ganhamos essa oportunidade (com a construção do contorno de Iconha). Quem hoje frequenta a BR-101 Sul já percebe uma certa agilidade para alcançar o Rio de Janeiro.

Nós temos um problema de aeroporto ainda sendo modulado. O nosso aeroporto é internacional mas ele não é operante. Nós fizemos um trabalho junto com a Secretaria de Desenvolvimento, junto ao vice-governador e secretário de Desenvolvimento Ricardo Ferraço, para que a gente consiga fazer com que as aeronaves que nós nacionalizamos aqui hoje, e o Espirito Santo é número um em nacionalização de aeronaves no país,  em vez de fazerem a migração nos aeroportos de São Paulo ou do Amazonas, fazerem direto aqui no Espírito Santo. Elas até podem parar no caminho, para abastecimento, mas a migração ser feita aqui. E da mesma forma a saída. Tanto a entrada como a saída aqui no Estado. Esse é um trabalho que já está pronto e só depende da Zurich anunciar o início dessas operações. Esse é um fator importante para o comércio internacional. A gente ainda precisa ter mais oportunidades para receber aviões cargueiros direto.

O aeroporto está preparado, mas a gente precisa ainda de um trabalho para trazer mais oportunidades.

 

Quanto à ferrovia, a gente tem um problema hoje sério que é a Serra do Tigre, que ainda não sei como é que o governo vai resolver. A gente tem um problema para escoar cargas via ferrovia. Então o que sobra é o rodoviário e a gente depende da BR-101 e a BR-262 que precisa também ser duplicada.

Você falou do aeroporto de Vitória, mas você acha que os aeroportos regionais podem ter um papel importante no futuro do comércio internacional aqui no Espírito Santo?

A gente precisa ser honesto e bastante responsável para uma resposta desse tipo, porque o veículo de qualquer modal, aéreo, marítimo, rodoviário e ferroviário, ele quer carga e nós precisamos ter carga para ir e para voltar porque se não tiver a carga, não movimenta. Tem um jargão que fala: não vou sair com meu caminhão vazio para ir buscar carga… eu preciso ser remunerado para ir até lá e para voltar também. Então, se tem carga para ir, ele está sendo remunerado. Se tem carga para voltar, ele também está sendo remunerado. Fica mais fácil e o frete para esse tipo de serviço vai ficar muito mais barato.

O que nós precisamos é organizar o setor do Norte e do Sul para ver como é que se faz essa equação fica em pé. Mas,  que tem carga, tem. Tanto que hoje nós temos exportações que saem pelo Rio de Janeiro por falta de acesso. Então, a gente pode incluir esses dois aeroportos aí na equação. 

Como você vê o movimento para resolver esses gargalos?

A gente tem uma participação muito presente junto ao governo do Estado. Temos que ressaltar aqui que problema tem em todos os estados.

Temos oportunidade, um ambiente de negócios em que é possível sentar e resolver os gargalos que são criados.

 

Nós acabamos de criar um fórum que foi até capitaneado pelo vice-governador com todas as entidades do Comex, não somente para ser reativo, mas para  trabalhar na prevenção e começar a perceber quando chega um problema. E assim aturamos rapidamente para evitar o que está acontecendo neste momento, por exemplo, com os veículos.

Hoje nós estamos com as áreas alfandegadas tomadas, o porto está tomado e nós temos até este mês muito veículo para chegar. Não é que vá parar, mas certamente vai dar uma diminuída em função do volume instalado para as empresas que vão fazer venda aqui no Brasil.

Quais são as maiores carências que o Estado tem hoje para o empreendedor do comércio exterior?

Porto. O maior problema hoje nosso é porto, porque hoje nós só temos um porto de carga geral hoje que é o nosso porto aqui do complexo portuário de Capuaba.

Hoje o maior problema é espaço de porto.

 

Mas nós estamos conversando, o terminal é associado ao Sindiex, a gente vem ajudando e criando mecanismos para organizar e aproveitar melhor as áreas. Eles estão fazendo investimento,  estão fazendo uma retro área do porto. Tudo isso é para melhorar para os usuários do comércio exterior. Eu tenho certeza que a gente vai dar solução para todos esses gargalos e é uma questão de tempo. Tem outras alternativas,  como o porto da Imetame, o de São Mateus, o Porto Central. Eles não são para agora, são para o futuro.  

Mas você acha que isso está datado?

Sim. Vamos fazer só uma linha pegando do Sul para o Norte. Nós temos o Porto Central, que é um grande projeto de porto indústria,  com vocação gigante mas que ainda não tem  sua atividade de obra iniciada. Aí depois a gente tem o porto da Samarco, que também é estratégico para escoamento da produção. Chegando na região central, da Grande Vitória, temos o complexo portuário de Capuaba, com o cais comercial para o lado de Vitória, e temos o complexo de Tubarão, onde tem as empresas privadas que praticamente atuam em todo o porto que está ali.

Tem o porto da Vale. Aquilo ali tudo já é tomado por serviços de cargas específicas. Então temos para o Norte, em Aracruz primeiro o Jurong, que é um estaleiro. Aí logo em seguida nós temos o porto da Imetame que está em fase acelerada de construção com promessa de iniciar suas operações no primeiro semestre de 2025. Logo depois temos a BR Distribuidora, aí nós temos Portocel e mais o Petrocity. Enfim, a comunidade do Comex enxerga a oportunidade da Imetame como solução para esse gargalo que a gente vive. 

Por que entidades como o Sindiex são tão importantes assim para o desenvolvimento de negócios do Espírito Santo?

Essa é uma pergunta que a gente sempre faz para a entidade também porque precisamos estar ativos. Vou começar dizendo um jargão antigo que talvez muitos jovens não conhecem: uma andorinha só não faz verão. Precisamos estar reunidos pensando no coletivo. Sempre no Sindiex a proposta é pensar no coletivo, nunca na individualidade. Quando um associado nos procura para uma ação exclusiva dele, não é papel do Sindiex fazer isso. Se o empresário quiser abrir para ajudar no coletivo, a gente vai dar as mãos e vamos até ao sucesso da demanda. Mas o grande sucesso é a coletividade. 

Sidemar de Lima Acosta é presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex)

Veja abaixo a entrevista na íntegra:

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