Imagine só um segmento que movimenta mais de R$ 8 bilhões por ano, gera aproximadamente 30 mil empregos diretos e 120 mil indiretos?

Esse é o setor metalmecânico, que em solo capixaba tem mais de 1.500 empresas de transformação de metais e de produção de bens e serviços, como fundições, forjarias, oficinas de corte, soldagem e estamparia.

E também envolve a produção de bens finais, como máquinas, equipamentos, veículos e materiais de transporte. São todos dados da Federação das Indústrias do ES, a Findes.

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E à frente do sindicato que orienta e define os rumos desse verdadeiro arsenal de desenvolvimento e geração de riqueza está Leonardo Cereza. É o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado (Sindifer).

Para ele, estamos à beira de um novo ciclo do petróleo com oportunidades de desenvolvimento e surgimento de novas empresas no mercado capixaba.

Uma opinião recheada de informação técnica, já que o Sindifer reúne informações sobre as empresas do setor desde 1971. Confira logo abaixo a entrevista com Leonardo Cereza. 

Confira nesta Entrevista de Domingo

Temos  pelo menos três gigantes do setor metalmecânico no Estado. Como o segmento aproveita a presença dessas empresas para gerar novos negócios? 

Nós temos a câmara de base do nosso sindicato bem focada na Vale, na Samarco e também no grupo Arcelor.

Identificamos como as pequenas e médias empresas do nosso setor podem atuar atendendo a demanda dessas três gigantes e direcionamos esforços para auxiliar todo esse processo, fazendo essa ligação.

Esse encadeamento de ações e geração de demanda a todo esse círculo gera riqueza, essas empresas todas juntas geram muito emprego aqui na Grande Vitória.

E com esses empregos vem também muitas oportunidades porque essas pessoas gastam no comércio, em restaurantes… e sós temos, além dessas três gigantes, muitas outras grandes empresas do setor. 

Que empresas são essas?

No Norte do Estado nós temos grandes empresas que se instalaram por conta da facilidade de adquirir os terrenos e também por causa dos incentivos fiscais que são dados. Da Sudene principalmente.

Posso citar a Bertolini, que está instalada em Colatina. Uma gigante na fabricação de móveis, atuação em logística e outros segmentos. Outra empresa é a Weg Motores que também é afiliada nossa.

A Marco Polo que vai lançar agora os ônibus elétricos. Eles estão com mais de 2 mil funcionários e o pessoal da direção da empresa falou que vai subir acredito eu para mais de 4 mil pessoas empregadas.

Aí você vê que eu só falei de gigantes. E nós temos a Petrobras, que sofreu ajustes e nos últimos tempos deixou os campos de exploração de petróleo em terra e cedeu a concessão.

Empresas capixabas e de fora aproveitam essa oportunidade, como a Imetame, a Seacrest, a Petrorecôncavo. E ainda tem outras empresas que estão se aproximando para vir para cá também.

Vamos viver um novo boom do petróleo

 

Nós fizemos um levantamento pela Câmara de Base, que é ligada à Findes, e os dados que apontam que vamos ter, de 2024 a 2028,  R$ 105 bilhões de investimento no Estado e dentro desse valor R$ 65 bilhões mais ou menos serão ligados a essa área.

E também tem a parte logística, com grandes possibilidades. Quer dizer que o Espírito Santo é um estado logisticamente bom. Nós estamos na porta do Nordeste.

Então, um equipamento que vem do Sul do país, por exemplo, fica muito caro transportar até o Nordeste. Instalar uma empresa aqui é bem melhor porque dá para fazer a ponte. 

E o ES está preparado para essa nova onda do petróleo?

Nós hoje não estamos tão preparados para o mundo do petróleo assim, mesmo naquilo que vai gerar riqueza maior para a gente.

Não estou falando que a gente não tem empresa… tem empresas que trabalham e que geram resultados, mas não tanto quanto São Paulo, por exemplo.

Muitas vezes esses investimentos são equipamentos que já vêm de fora prontos. Teve investimento, mas não comprou nada aqui. Para nós capixabas isso é muito ruim.

Então, a gente como sindicato patronal tem que lutar para que o dinheiro fique aqui,  que tudo seja feito aqui e que as pessoas utilizem a nossa mão de obra. E esse é o dever de casa que o sindicato patronal tem que fazer agora.

Você acha que o setor chegou no topo?

Só de investimentos em manutenção serão mais ou menos R$ 10 bilhões por ano nos próximos 4 anos. Arcelor vai comprar manutenção, a Vale vai comprar manutenção, a Weg vai comprar manutenção, a Marco Polo vai comprar manutenção e outras empresas também. 

Tem um grupo mexicano que está investindo R$ 1,5 bilhão aqui em Cariacica, na antiga Ferro e Aço, e eles também vão comprar manutenção. A gente tem muita manutenção em jogo, além dos investimentos nas coisas novas.

A gente calcula mais ou menos 12.000 pessoas a mais no mercado só na manutenção. Mais 28.000 na implantação das coisas que vão surgir.

 

Para se ter ideia, um dos nossos associados, que é o Jurong, ganhou uma obra agora grande, imensa, e vai precisar de muitas pessoas. Então vamos ter muitos empregos para gerar na região de Aracruz.

Não chegamos no topo. O céu é o limite.

 

E temos que nos preocupar enquanto sindicato, e não só a gente como o poder público também, em não concentrar esse crescimento todo apenas na Grande Vitória.

 Por quê ?

Porque a Grande Vitória vai perder qualidade de vida. Nós temos que crescer a qualidade porque uma cidade muito grande é ruim.

Quando você cresce, por exemplo, os municípios de Cachoeiro, Alegre, Castelo… quando cresce lá Linhares, São Mateus,  é melhor para a população e a nossa é pequena ainda. O Estado aqui tem 3 milhões e 800 mil habitantes e nós temos que valorizar isso.

Então, a gente tem que prestar atenção a isso e distribuir da melhor maneira possível esse crescimento, com muito diálogo com o governo do estado e as prefeituras também. Você viu agora que nós vamos ter uma ZPE privada em Aracruz. Isso vai gerar um boom de negócios lá . Vai ser interessante.

Como o Sindifer faz para alinhar medidas que favoreçam o desenvolvimento do empresário?

Nós somos hoje, para você ter uma ideia, 550 empresas. Somos um dos maiores sindicatos entre os 38 da federação.

Para valorizar o associado a gente tem vários eventos, principalmente a MecShow, que é a feira do setor metalmecânico, uma das maiores feiras que a gente tem no nosso Estado e que cresce a cada ano.

Nosso sindicato foi fundado em 1971… nós vamos para 53 anos. Temos a parte jurídica muito forte também para ajudar as empresas a lidarem com questões trabalhistas e tributárias também. 

Então, respondendo a sua pergunta, a gente está sempre de olho no que o mercado oferece, quais são as demandas do mercado, para então definir ações, como orientações de qualificação, parcerias, demandas de governos e tudo que for relacionado ao negocio que envolve a nossa atividade.

O que que você acha que falta para o empresário do setor?

Eu acho que hoje falta se envolver mais com as questões do segmento. O empresário muitas vezes toma decisões erradas,  que poderiam ter um um cunho mais técnico se ele tivesse um pouco mais de curiosidade, procurasse mais.

É muito bom quando você tem dentro da empresa ou dentro do sindicato associados que perguntam, questionam, debatem.

O nosso papel no sindicato é servir e ajudar.

 

Nossa função é dar a direção para a empresa e muitas vezes tem muito empresário que não tem essa essa facilidade de chegar lá pra gente e falar o que ele precisa, qual é a dificuldade.

Hoje nós temos o Sebrae junto com a gente e essa é uma parceria importante. Você citou as empresas gigantes do setor, mas de 92% a 93% das empresas que fazem parte do Sindifer são pequenas empresas. E muito poucas são ligadas ao Sebrae.

No nosso Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, o nosso PDF,  são 158 empresas participantes e 60% delas exportam. Só essas empresas que fazem parte do PDF faturam R$ 12 bilhões por ano.

Se todas as outras pertencessem ao PDF também, o faturamento poderia ser maior

Qual é a relação do Sindifer com os governos?

Nós somos um sindicato apartidário. Nossa relação é excelente com eles e o sindicato está de portas abertas para todos.

Nós queremos uma boa relação com todo mundo porque queremos um Brasil melhor, um Espírito Santo melhor.

Nosso sindicato é de abrangência Estadual e eu estou esperando as eleições passarem para, no ano que vem, também chamar cada prefeito e falar sobre o que vai ser investido, como vai investir naquele município.

Queremos estar juntos com o município e estamos à disposição para discutir investimentos e formas de ajudar no desenvolvimento econômico de todas as cidades do Estado.

Quais são as áreas com maior potencial para investimento hoje no Estado?

A área área de petróleo é uma excelente pedida, só que tem que estar muito preparado e a exigência técnica é muito maior. Você tem empresas que exigem muito, empresas que exigem menos…

No nosso mundo metalmecânico, por exemplo, funciona mais ou menos assim: o mundo aeroespacial é o mais difícil que tem. Os equipamentos para aeronáutica têm uma exigência enorme.

Aí depois vêm os equipamentos de petróleo, em seguida a siderurgia, a parte de celulose e vários outros tipos de indústrias do metal.

Tem níveis de exigência alta e níveis de exigência bem mais baixa,  então, tem oportunidade em várias áreas e segmentos.

Além disso, eu acho que o empresário capixaba deveria fabricar mais em linha algumas coisas, tipo fogão, geladeira e outras coisas, para a gente poder exportar e isso seria bom para nós.

O que que a dinâmica atual do mercado exige de profissionais bem-sucedidos?

Acho que profissionais bem sucedidos precisam se capacitar com treinamentos e preparação. Nós temos que focar em mão de obra.

A gente tem uma falsa impressão de que as máquinas vão fazer tudo sozinhas, mas por trás das máquinas tem que ter pessoas.

Os profissionais hoje têm que estar preparado para esses desafios que já citamos aqui. Grandes investimentos chegando, exigência cada vez maior para a entrega de produtos e serviços, por qualidade.

Precisamos ter pessoas capazes de fazer novas fábricas, criar novos empreendimentos e também precisamos de profissionais para manter os negócios que já existem. 

Como as lideranças podem fazer diferença?

As lideranças do nosso setor já estão fazendo a diferença. Hoje nós temos um grande gargalo, não só no nosso ramo, mas em todos os segmentos,  que é a mão de obra.

Por isso, hoje nós estamos investindo em pessoas. Mas, precisamos de gente que queira trabalhar e não é fácil.

Um dos nossos associados apresentou uma metodologia que ele está usando. Ele fez uma parceria com uma igreja.

O pastor o ajudou e eles encontraram  25 pessoas que passaram por um treinamento dentro da igreja. Desses 25, eu acho que ele aproveitou 22. Ele pegou essas pessoas e colocou nas obras.

Então, as lideranças precisam começar a pensar mais em parcerias com as comunidades para ter retorno na hora de precisar contar com gente qualificada. 

Leonardo Cereza é presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado, o Sindifer

Veja abaixo a entrevista na íntegra:

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