Que todos temem a reforma tributária não é segredo para ninguém. Ela é uma realidade, estudos apontam que o ES será um dos estados mais prejudicados e a atividade econômica capixaba pode sofrer um baque sem precedentes.
E com esse cenário, o setor produtivo já pensa em alternativas e soluções. Então é bom ouvir quem movimenta a nossa economia.
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Um setor gigante que movimenta 70% de todas as riquezas produzidas no Estado. Estamos falando de 137 mil empresas que empregam mais de 700 mil trabalhadores.
O segmento de comércio de bens, serviços e turismo do Espírito Santo é representado pela Federação do Comércio do Espírito Santo, a Fecomércio.
A entidade nasceu em 1954 para ser a casa do comerciante capixaba e a representação desses setores no Estado.
A federação representa os interesses de 22 sindicatos nos setores lojista, atacadista, varejista, exportador e importador, de café e de eventos. Além disso, também se preocupa com a formação de mão de obra, qualificação profissional e educação.
E à frente de decisões importantes que impactam não só o setor do comércio, mas toda a economia do Estado, está o superintendente da Fecomércio, Wagner Correa.
Ele tem uma longa relação com a CDL Vitória e assumiu o cargo na atual gestão do presidente Idalberto Moro. A missão do superintendente é aproximar a federação de sindicatos e entidades do comércio. O forte do advogado é a interlocução.
Confira nesta Entrevista de Domingo
Como a interlocução da Fecomércio com os setores produtivos pode ajudar a desenvolver o comércio no Estado?
Toda a nossa base, a base do sistema, a base da Fecomércio, é formada pelo DNA do associativismo, do cooperativismo, do sindicalismo.
Então, sem sombra de dúvida, entidades que se movimentam e que estão lado a lado, em propósitos semelhantes aos nossos, podem muito auxiliar. Um exemplo muito claro foi o que ocorreu este ano, de maneira inédita.
Nós conseguimos, no dia 16 de julho, Dia do Comerciante, movimentar todo o Estado, de ponta a ponta, para comemorar essa data. Com os sindicatos, mas também com as CDLs, com as associações, com entidades que comungam do mesmo princípio.
E com isso nós tivemos a possibilidade e a felicidade de impactar mais de mil empresas num único dia.
Mostramos a nossa capilaridade, as possibilidades e o avanço que essas pessoas estão vivendo, no sentido de que a cooperação, em prol de princípios comuns, é o caminho para que a gente consiga ter melhores resultados no solo capixaba.
Qual é o papel do empresário no desenvolvimento da economia capixaba?
Nós costumamos dizer, e sempre há para a gente uma clareza, que o comércio é o termômetro da economia, o termômetro da sociedade, até inclusive para receber os impactos iniciais quando há uma crise.
Então é fundamental essa proximidade com os representados, nesses casos, os empresários que geram os valores, que geram emprego, renda.
O empresário cumpre um papel social muito importante que é efetivamente entregar o emprego.
Esse desenvolvimento precisa ser construído de forma coletiva.
É uma missão coletiva que vai gerar emprego e renda, com o olhar do sistema Fecomércio, que é um olhar de capacitação, de cultura, de educação, lazer do seu funcionário, de modo que isso seja um conjunto e um círculo virtuoso no sentido de entregar para a sociedade um valor muito grande e ajudar de fato o estado se movimentar.
Como é a mão de obra que opera o comércio hoje? Continua sendo a porta de entrada para o trabalhador?
Eu diria que continua sim sendo a porta de entrada e a nossa missão tem sido para que cada vez mais seja a porta de entrada e também a porta de entrada para uma carreira de sucesso, para que possa ser também um ambiente possível para a pessoa entrar, se desenvolver, evoluir e crescer como profissional e como setor.
Que aquela estigmatização de que é um lugar de passagem, isso tem cada vez mais sido trabalhado para que não seja dessa forma.
E para isso nós temos o braço do Senac, que trabalha fortemente com o desenvolvimento de todas as áreas, entregando boa capacitação.
Então, é sim possível encontrar no comércio, no serviço, no turismo e nos nossos representados uma carreira, uma possibilidade de construir um legado sólido.
Você vê oportunidades no segmento do turismo?
Eu acho que é importante, quando a gente fala de turismo, lembrar da reativação da Câmara Empresarial de Turismo.
Há uma potencialização, com a possibilidade de ter uma câmara dentro da Fecomércio, porque junta atores que fazem parte desse ecossistema em busca de uma solução.
Com relação às oportunidades, a gente olha para o turismo primeiro por ser uma grande possibilidade.
O turismo pode minimizar os impactos da reforma tributária no Estado.
Então a potencialização do turismo para o Espírito Santo, e aqui sendo um grande vetor de receber esses turistas, para nós tem sido, sim, um olhar especial para esse lado.
Acreditamos que isso pode ser também uma das alavancas que possibilitará a diminuição de eventuais impactos da reforma tributária que podem ocorrer logo ali. A gente pensa que tem muito tempo, mas não… o tempo já está ocorrendo.
E essa estrutura do Estado, de finanças organizadas, de dar segurança jurídica, isso também nos dá segurança para dizer que é possível reativar ou pelo menos tentar trazer um projeto que é a retomada dos cruzeiros para o Estado.
É nisso que a Fecomércio tem trabalhado fortemente hoje, inclusive propondo estudos, trazendo possibilidades da retomada e de alimentar esse ecossistema para recepcionar esse turista.
Falando de oportunidades, a retomada dos cruzeiros de turismo aqui para o Espírito Santo é a que você acha mais evidente?
É uma das principais alavancas que nós estamos trabalhando e acreditamos muito que esse projeto pode ser um grande sucesso para o Estado.
Como isso vai mudar a vida das pessoas?
Com a chegada dos cruzeiros, naturalmente a gente terá que se preparar para recepcionar esse novo público que vem para conhecer, para consumir e, sobretudo, para ter essa experiência.
Então, estar pronto e com uma cidade conectada, sem sombra de dúvida, muda a forma como a gente terá que se comunicar com essas pessoas.
Desde a chegada, desde a experiência, até a possibilidade de explorar o Estado, das nossas potencialidades.
Aí vem a parte de eventos, dos bares e restaurantes, das montanhas capixabas. Enfim, há uma organização que a gente entende que precisa existir para que isso de fato se viabilize em grandes oportunidades.
Como é a interlocução da Fecomércio com o Estado?
Hoje nós temos uma frente muito ativa em relação ao diálogo com o poder público. E as nossas demandas passam por construir projetos em conjunto.
Como o EmpregaJuv, que foi lançado recentemente junto com o nosso braço do Senac. O propósito é potencializar, treinar e trazer emprego para jovens dentro das unidades, inclusive de ensino público.
E qual é a importância da Federação para definir o ambiente de negócios do setor?
A Federação é a casa dos sindicatos patronais. E os sindicatos patronais são aqueles que representam legalmente as empresas. Então, não dá para dizer que ali é um colegiado de entender dores para buscar soluções.
É para priorizar essas dores em busca de soluções coletivas de uma forma organizada. Sem sombra de dúvidas, uma Federação que tem essa organização, esse olhar para a base, é que pode fazer propostas mais elaboradas, efetivas e mais assertivas junto ao poder público e à própria sociedade.
Você acha que o empresário se sente atraído hoje pelo ambiente de negócios do Estado?
Sim. E isso se materializa muito pela segurança jurídica que a gente vive. Os números hoje economicamente se apresentam favoráveis e com bons indicativos.
E a questão do ambiente do Espírito Santo está sendo hoje uma alavanca para propiciar novos negócios, para atrair, inclusive, novos negócios. Isso sem sombra de dúvida traz uma possibilidade de mais negócios, mais empresários. A segurança jurídica para nós é muito importante.
Você falou que um dos principais ativos do Estado é a mão de obra, mas o que tem de gente reclamando de falta de mão de obra, de apagão de mão de obra… Como a Fecomércio alinha medidas para a formação de mão de obra de acordo com as necessidades do mercado?
Quem cuida dessa mão de obra e escuta o mercado tem sido o nosso braço do Senac, que tem evoluído e evoluiu muito. Historicamente, o Senac nunca tinha conseguido chegar aos 78 municípios. Em 2023 já chegou.
As metas estão sendo cada vez mais audaciosas no sentido de tentar escutar o mercado e entregar aquilo que o mercado pede para a gente.
Exemplos são os programas que chegam até ex-presidiários, a pessoas que estão em situação de rua. Temos trabalhado e com uma evolução significativa com relação a esses acessos.
De fato, há um problema posto e há também uma necessidade do mercado para que a entrega seja cada vez mais efetiva, porque é bom.
Se a gente conseguir empregar todo mundo e tiver mais mão de obra, isso é bom.
O que falta para o trabalhador capixaba?
Capacitação e desenvolvimento. Isso nunca vai acabar. É um ciclo que você termina, volta e a gente consegue identificar que tem que ser um desenvolvimento permanente.
É também um desafio permanente nosso para cada vez mais estar conectado com essa necessidade. Seja a necessidade da capacitação tradicional, seja a chegada das novas tecnologias com inteligência artificial, que já estão muito presentes no nosso dia a dia.
Sempre vai haver a necessidade de se capacitar mais porque vai ter mais oportunidades em decorrência desse momento que estamos vivendo.
Wagner Correa é superintendente da Federação do Comércio do Espírito Santo