Uma instituição de ensino superior com 25 anos e que surgiu do empreendedorismo de um grupo de professores. A Multivix hoje é uma das grandes expressões da educação superior privada do Estado. Hoje é composta por um centro universitário, 7 faculdades e mais de 300 polos de ensino à distância espalhados pelo país.

São mais de 60 mil alunos e com alguns marcos que continua alcançando. Agora em agosto abriu o curso de medicina em Cariacica. Apenas mais um depois de ter aberto também em Cachoeiro e São Mateus. A educação em novos níveis.

As lições que a Multivix ensinam passam pelo empreendedorismo, pela resiliência e também pela forma como um grupo pode analisar e tomar as melhores decisões de acordo com os cenários que o Estado oferece. 

E com esse pensamento empreendedor, a fundadora da Multivix Brunella Bumachar quer inovar ainda mais. Ela é sócia de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento de soluções para a saúde com células-tronco, a R-Crio, e acredita que o Estado é o lugar ideal para desenvolver negócios relacionados tanto à educação quanto à saúde. 

Confira nesta Entrevista de Domingo

O que passou na sua cabeça quando você tomou a decisão de abrir uma instituição de ensino superior? 

Na realidade eu sou da área de educação desde sempre. Eu dei aula de inglês no início da minha vida profissional e depois entrei na UFES, como professora do Centro Tecnológico.

E participava ativamente do Conselho de Ensino e Pesquisa, do Conselho Universitário. E uma época em que houve uma abertura na legislação para que as instituições de ensino pudessem ser com fins lucrativos, porque até então eram todas sem fins lucrativos.

Houve aí uma oportunidade que a gente viu e pensou: Olha, nós sabemos fazer educação superior, somos professores de carreira. 

E aí foi assim que a gente teve a ideia de começar um projeto, era só sonho, papel, muita vontade. Seguimos o edital e fizemos um projeto de acordo com as exigências do MEC. A gente estava muito esperançoso do ponto de vista do projeto, mas tinha um longo caminho,  entre o projeto ser aprovado, virar realidade e ter público, ter aluno. Agora, olhando para trás, foi rápido, mas na época eram muitas dúvidas. 

Como foi na prática colocar esse projeto em andamento e como foi esse foco, não só na grande vitória, mas no interior também? 

Na Grande Vitória nosso primeiro desafio era um espaço físico. Então nós tivemos uma oportunidade, demos a sorte na realidade, de encontrar um prédio que era uma escola antes, era um prédio do CCAA, da escola de inglês que estava saindo, estava fechando.

Então ele já estava preparado com secretaria, salas de aula, e a gente precisava mostrar ao MEC as instalações físicas. Nós alugamos aquele prédio, um aluguel simbólico, se desse errado a gente só pagaria uma taxa. Se o MEC aprovasse, a gente pagaria o aluguel de mercado retroativo. 

Na prática a gente fazia de tudo naquela época

 

A gente atendia pais, a gente atendia alunos, a gente era secretário, a gente era financeiro, a gente era marketing, a gente era tudo. E nós somos professores. Foi um desafio porque a gente estava numa seara que era desconhecida.

A coisa privada é muito diferente de ser professor de uma instituição federal de ensino, que tem toda uma estrutura de laboratórios e já tem uma hierarquia, um organograma, uma governança. A gente teve que aprender isso tudo fazendo. 

O que o empreendedorismo te ensinou e como isso se reflete nos alunos que saem da Multivix hoje para o mercado? 

Bom, a primeira coisa que a gente tentou fazer foi procurar parcerias com quem tivesse outros conhecimentos. Nós éramos da área de educação, mas nós precisávamos de sócios que fossem da área empresarial, porque a gente estava montando uma empresa.

Tudo isso foi um aprendizado e que a gente tenta colocar isso em todos os cursos da Multivix, através não só de disciplinas, mas com metodologias ativas, onde o professor é muito mais um orientador, um mentor, um influenciador, um agregador e o papel principal fica com o aluno, que tem que aprender a aprender. 

Tem que interagir, tem que desenvolver suas habilidades socioemocionais, tem que agir em grupo. Tudo isso veio de uma experiência que nós tivemos e que na realidade hoje em dia não dá mais para ser diferente.

Aquele papel de professor que é dono da verdade, isso já acabou. O jovem não aceita mais isso.

 

Então é nesse sentido que a gente tenta passar para o estudante uma iniciativa de ser empreendedor. 

Como isso faz diferença para esse estudante que vai ganhar o mercado? 

Esse estudante tem um desafio grande de concorrência, não há dúvida, mas ele está preparado. A gente tem alunos que saíram do Espírito Santo, foram para todos os estados da federação, para fazer residência, para ser empregado ou para simplesmente continuar fazendo mestrado, doutorado.

E eles têm sido muito bem recebidos pelo mercado. Nossa experiência está sendo de muita gratificação. A gente tem orgulho de ter alguns alunos expoentes. 

Mas, teve uma época em que a gente exportava cérebros, que nós não tínhamos educação superior aqui, para todos. Então, se você não passasse na federal, você tinha que ir para outro estado. E a gente exportava os nossos jovens, que muitas vezes não voltavam. Agora a gente já tem condições, já tem vagas, já tem várias instituições privadas. A concorrência é boa, é saudável. Quem ganha o aluno é a sociedade. 

A gente já tem todos os cursos que você encontra em qualquer outra instituição de outros estados. Então a gente pode reter os jovens, não só isso, como até receber jovens de outros estados. Você falou que nós colocamos medicina em Cariacica, mas na realidade, nesse semestre a gente botou medicina em São Mateus, nós botamos medicina na Serra, e botamos medicina em Cariacica. Nós já tínhamos nesses campi alguns cursos na área de saúde, em todos esses municípios, e já estamos lá há algum tempo. 

Como você falou, a gente interiorizou. E o curso de medicina, a gente sabe o quanto é desafiador. E a gente teve o envolvimento e a visão de perceber que esses municípios estavam carentes na área de saúde, dos cursos de medicina, e foram muito bem-vindos. Então, o Cariacica foi o terceiro que saiu. Teve o de São Mateus, segundo foi Serra e terceiro foi Cariacica. 

É um marco, não tem dúvida. E nós tivemos também o primeiro em Cachoeiro. Lá atrás nós entramos em Cachoeiro com o programa Mais Médicos. Com tudo isso, tivemos o primeiro curso de medicina em quatro municípios do Espírito Santo. 

Qual o papel do gestor da educação no desenvolvimento desse setor no Estado? 

O gestor é responsável por tudo que acontece na instituição. Nós temos aí um processo de governança corporativa em que a gestão é feita não só pelo diretor, mas por um conselho de administração.

Nós somos cinco famílias e desde lá de trás, acho que 2010, 2011, nós nos interessamos em procurar o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e fizemos com que a governança fosse implantada na nossa instituição contratando um presidente de conselho de administração independente, que não fosse das cinco famílias, e foi ele quem implantou a governança, o que fez muita diferença na gestão. 

Quando uma empresa está com todos os documentos muito claros, quando tem acordo de acionista, quando as decisões são colegiadas, que tem regra, regulamento para que as coisas aconteçam,  fica mais fácil gerir do que cinco famílias, todas com outro empreendimento na vida, assim, acostumadas a tocar seus negócios próprios, se juntarem com uma visão de educação.

Você acha que isso pode ser a diferença entre parar no meio do caminho e continuar crescendo e evoluindo? 

Não tenho a menor dúvida. Porque, embora seja empresa multifamiliar, cinco famílias, quando você estabelece as regras de sucessão, por exemplo, fica muito mais fácil você ser bem sucedida no processo de transição.

Nós já estamos na segunda geração, então nós já tivemos uma transição do diretor principal e foi muito bem sucedida. E também a gente… prepara os nossos filhos, nossos herdeiros, para que eles se candidatem ou se interessem ou não pelo assunto, pelo business. 

No Conselho de Administração, por exemplo, nós temos suplentes que geralmente são os filhos ou alguém ligado aos acionistas.

Então é um treinamento, eles já vão conhecendo a empresa, eles já vão tomando pé de como funciona a questão colegiada, a questão de que tudo tem que ser muito discutido, tem que ter muitos dados envolvidos e muita persuasão para que a gente chegue à melhor decisão. 

Você está empreendendo de novo, para além da educação

Sim, nós estamos com uma empresa de biotecnologia que é de células-tronco. As células-tronco se diferenciam em qualquer tecido, podem virar pele, neurônio, músculo, córnea, então é no sentido de medicina regenerativa. E essa tecnologia, por exemplo, ela é 100% capixaba. Foi um capixaba que na sua tese de doutorado e entendeu que tinha ali um assunto que podia dar uma patente, né? 

Engraçado que ele é da área de saúde, é dentista, mas fez doutorado no IME, Instituto Militar de Engenharia. E você fala, dentista no Instituto Militar de Engenharia? Mas era para novos materiais e nessa aí ele patenteou um processo para retirar células do tronco, por exemplo, do dente de leite de criança. Essa célula-tronco é descartada com o dente e aquilo ali é ouro, porque você tem um medicamento biológico personalizado, para você. 

A gente também retira células do tronco de adultos, que saem do palato, que é o céu da boca, ou de gordura, por exemplo. Aí  você vai num congresso de cirurgia plástica e ouve falar dos médicos ali presentes que eles estão jogando aquela gordura que está sendo descartada das cirurgias, é ouro que está sendo jogado fora ali, está rico em células-tronco que podem ser aproveitadas. E você imagina, essa tecnologia toda saiu da cabeça de um capixaba. 

E você está investindo nisso… 

Estou investindo nisso com muito gosto, com muito prazer, porque é uma coisa muito disruptiva, desafiadora e nós estamos caminhando muito rápido no sentido de que a regulamentação, a legislação da Anvisa, ela está sendo favorável. Para cada aplicação da célula-tronco, por exemplo, nós estamos desenvolvendo soluções

Para AVC, por exemplo. 70% das pessoas que têm AVC não chegam no hospital com menos de quatro horas, o que significa que vai ter sequelas, então nós estamos desenvolvendo o medicamento, a base de célula-tronco para ficar nas farmácias dos hospitais congeladas para serem aplicadas nas pessoas que chegarem com AVC. Isso é uso halogênico que a gente chama, uso em terceiros. Medicamentos biológicos vão tomar lugar dos medicamentos químicos tradicionais. 

O setor de serviços em saúde no Espírito Santo tende a dar um salto? 

Sim, nós não devemos absolutamente nada a nenhum outro estado nesse aspecto. Nós temos iniciativas muito interessantes e nós temos expertise, isso tudo só precisa ser divulgado e descoberto.

Eu não tenho dúvida que as áreas de educação e saúde têm um caminho muito positivo pela frente.

 

Nós já estamos aplicando células-tronco com os ortopedistas paulistas, cariocas e capixabas nos joelhos, nos tornozelos, então basta o médico se interessar e ele requerer o tratamento com células-tronco. Então é uma coisa que está já acontecendo. 

Olhando para o momento econômico do Estado, você acha que a formação oferecida hoje favorece o desenvolvimento? 

A formação de ensino superior no mundo inteiro tem que mudar e está mudando. Como eu comecei a falar, o jovem hoje não é mais passivo na educação dele, ele é ativo e ele tem que ser ativo porque tudo o mais que ele tem ao redor dele estimula para que ele seja ativo. Ele não consegue mais ficar sentado três horas ouvindo um professor falar, ele precisa interagir junto. 

Eu não tenho dúvida de que a maneira com que as instituições de ensino superior estão se transformando, o modo em que elas estão melhorando a atividade de aprender do jovem, isso aí vai fazer a diferença no Espírito Santo muito grande, eu não tenho a menor dúvida. A gente exportava cérebros, agora  importamos. Tem alunos que vêm fazer cursos no Espírito Santo de outros estados.

Como a educação superior privada evoluiu no Espírito Santo nestes últimos 25 anos?

Eu vi essa evolução primeiro com o olhar do próprio jovem. Ele é exigente hoje. O jovem não aceita mais alguns padrões que a minha geração, a sua geração aceitava. Então, a gente foi obrigada a mudar. E as regras do MEC também impõem uma mudança.

Você colocar uma instituição de ensino superior hoje, você tem exigências que você não tinha há 30 anos atrás, há 50 anos. A própria legislação vai obrigando você a mudar. O próprio aluno, a realidade de hoje, o entorno do aluno obriga você a mudar.

Nós somos obrigados a fazer capacitação nos professores para que eles acompanhem a necessidade dessa mudança e para que eles também se sintam valorizados com esse treinamento. 

Somos obrigados a adotar metodologias ativas, a ter laboratórios mais completos. Então, isso tudo vem do desenvolvimento da sociedade.

Não tem como a gente ficar por fora. Por exemplo, a gente está mandando as células-tronco para o espaço em julho de 2025 para estudar o comportamento com microgravidade ou gravidade zero, que é onde você pode acelerar a multiplicação das células.

Isso daí é uma oportunidade que surgiu numa pesquisa, uma pesquisa numa universidade. Nós estamos mandando pela Starlink. Quando é que você imaginou que a gente poderia estar fazendo isso? 

As coisas vão acontecendo por exigência de mercado, por exigência da sociedade e pelas condições cada vez mais propícias que a tecnologia nos oferece.

 

Então, essa coisa digital, essas plataformas, a gente ensina hoje por uma plataforma. O aluno entra na plataforma e ele faz tudo. Ele não usa só para a questão burocrática de secretaria, de administrativo, mas ele faz pesquisa, ele interage com os colegas e com o professor, ele tem acesso a toda a bibliografia, então o ensino hoje é por plataforma. 

Como é a relação do setor de educação com os governos? 

Educação Superior é uma concessão do Ministério da Educação, então em princípio você faz um projeto e ele é autorizado pelo MEC, pelo Conselho Nacional de Educação, passando por todas as etapas.

Nossa relação direta é com o governo federal, mas se você está inserida na sociedade aqui, então você você tem que interagir com o que tem no município, o que tem no Estado.

Então todas as maneiras de interagir com o setor público têm sido, vou dizer pra você, razoáveis, facilitadas, a gente não tem sentido dificuldade em lidar com o setor público na área de educação. 

Até porque, sinceramente, quando a gente entra com a instituição de ensino superior num município que não tinha, aquilo traz muito desenvolvimento.

Imóveis são alugados, serviços são prestados, restaurantes são colocados. Quando você traz um curso de medicina para o município, você vai receber gente de fora fazendo aquilo, então aquele município vai estar em evidência, a própria economia do município vai ser beneficiada. A gente é muito bem-vindo, geralmente, nos municípios.

Os prefeitos têm colaborado muito, inclusive com os espaços de prática, em hospitais, em ambulatórios, isso tem sido uma questão que a gente tem que interagir com o município, tem que interagir com o Estado e a gente tem conseguido parcerias interessantes. 

O Estado precisa de mais uma universidade pública estadual? Ou o melhor a fazer são as parcerias com instituições privadas?

Essa questão de parcerias, de bolsas, do FIES, do Proúni, do Nossa Bolsa aqui do governo estadual, vem exatamente para aproveitar a eficiência que já foi demonstrada no setor privado, na educação superior, que já é grande maioria no país inteiro.

É muito mais vantajoso para o Estado e para a federação ter uma parceria através de programas, de bolsas, do que montar uma instituição nova. Isso daí são os números que falam. 

Eu acredito que as parcerias vão continuar sendo a grande contribuição do Estado na educação superior. E além do mais, a gente sabe que o município é responsável pela educação fundamental e o Estado pelo ensino médio.

A base de tudo, a importância da educação infantil e da educação no ensino médio é imensa. Eu acho que os municípios e o Estado já estariam fazendo um grande papel na educação preparando os alunos no ensino fundamental e no ensino médio.

Na educação superior, o setor privado está se mostrando muito eficiente e inclusive é 10 vezes mais barato um aluno privado que aluno público. 

Por quê? 

Bom, eu vou ter que falar aqui coisas… eu sou da Ufes, eu tenho muito orgulho de ser. Fui aluna, professora  até me aposentar na área de Engenharia, mas a questão é que ela precisa evoluir muito no ensino superior.

Existe uma burocracia, um impedimento de crescimento de iniciativas para pós-graduação, para educação à distância. Na pandemia as instituições de ensino superior privadas foram muito rápidas em adaptar todo o processo.

As federais, salvo algumas exceções, demoraram muito, perdeu-se muito tempo por causa da agilidade e da coisa burocrática que é a educação superior federal, as instituições federais. E além disso, as universidades federais, infelizmente, é uma tristeza, estão sucateadas, os laboratórios estão sucateados, as instalações físicas.

É um desperdício enorme de recursos, um corpo docente super preparado de mestres e doutores, mas as universidades não têm recursos. 

 

As universidades públicas não estão tendo recursos, a briga que é para as universidades terem sua autonomia, para terem o seu recurso, isso daí é triste de ver no país, mas eu acredito que no ensino superior, o ensino privado está se desenvolvendo e está arcando com um grande percentual dos universitários e isso vai perdurar ainda por muito tempo. 

Para que lado o Espírito Santo tende a crescer? 

Eu acredito que na área de saúde, não tenho dúvida nenhuma. Acredito também que em logística, pelas características do Estado e por nós termos portos e a questão fiscal como  um atrativo para empresas. Isso vai trazer mais  demanda logística de tudo. De avião, de transporte de todos os jeitos.

Então eu acredito que saúde, logística e serviços em geral. A capacidade do Estado e as nossas características, turismo principalmente. É uma coisa que nós podemos crescer, temos que crescer e temos aí condições de receber turistas do Brasil e de fora.

Brunella Bumachar é uma das fundadoras da Multivix e sócia da R-Crio

Veja abaixo  entrevista completa:

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