De acordo com os painéis do Mapa de Empresas do governo federal, 56.757 pequenos negócios foram abertos no Espírito Santo até o dia 26 de setembro do ano passado. É o número praticamente mais atualizado que a gente tem. Em média, foram 211 novos empreendimentos por dia.
Se a gente fala de microempreendedores individuais, os MEIs, então falamos de mais de 300 mil ativos no Espírito Santo. Já as microempresas são mais de 128 mil. E tudo isso é matéria-prima do Sebrae, que tem a missão de orientar e entender as demandas para correr atrás das soluções.
E nesse universo de possibilidades para empreender, o diretor superintendente do Sebrae, Pedro Rigo, aposta no turismo como a bola da vez do mercado capixaba. Tanto que já é determinação: pelo menos 40% dos atendimentos do Sebrae neste ano devem ser voltados a empreendedores dessa área.
Confira nesta Entrevista de Domingo
O que faz uma pessoa empreender no Espírito Santo?
Primeiro é o desafio. De gerar o seu próprio negócio, de botar suas ideias na prática da economia. Ou seja, é esse desafio que impulsiona essa pessoa empreender aqui no Espírito Santo, em todo o Brasil.
E como é o ambiente para empreender aqui no Espírito Santo? Qual é a participação do Sebrae nisso?
O Espírito Santo é um dos estados que mais dinamismo dá na abertura de um negócio. Hoje, o tempo médio para se abrir uma empresa aqui no Espírito Santo é de 11 dias, sendo que a média nacional é de 22 dias.
Nós temos um trabalho muito forte de ajuda comercial na área de desburocratização, fomentando os municípios para que eles possam estar integrados num sistema único de cadastro e consulta aqui no Estado. E isso organizado pela Junta Comercial.
Existe um movimento aqui de Sebrae, Junta Comercial e de municípios que hoje a gente consegue, de fato, ter um ambiente propício à geração, à criação de novos negócios.
Isso também tem colaborado com a economia do Espírito Santo, um Estado que tem demonstrado uma diferença importante no Brasil, pois cresce acima da média nacional.
São vários elementos que vão se somando e fazem com que, de fato, as oportunidades sejam mais favoráveis aqui.
Carga tributária, burocracia, muitos regulamentos a seguir… Você acha que é maluquice empreender?
Um dos perfis mais conhecidos do empreendedor é a ousadia, coragem. Se é maluquice tudo isso, então vamos dizer que o empreendedor é maluco, porque precisa ter ousadia, coragem, determinação, precisa estar apaixonado por aquilo que ele quer construir de negócio na vida dele.
Também tem uma certa liberdade de poder conduzir seu próprio negócio. A mistura disso tudo pode ser maluquice, porque ainda precisamos avançar muito.
O ambiente burocrático no Brasil, não estou falando da carga tributária, porque para mim pequena empresa é um assunto à parte, mas as obrigações acessórias, que de fato o empresário está submetido para manter o seu negócio devidamente legalizado, regularizado, é uma quantidade enorme de regulamentos, é uma quantidade enorme de obrigações acessórias principalmente.
Tudo isso leva a crer que esse empresário tem que ter um pouco de maluquice, uma carga de maluquice para estar hoje disputando mercado e gerando emprego no país e gerando riqueza.
Qual é o segmento que mais tem destaque na geração de novos negócios aqui no Estado? O empreendedor tem buscado qual área?
Prestação de serviço e o comércio têm se destacado principalmente. Prestação de serviço em primeiro lugar, a construção civil também começa novamente a ter um destaque especial e o comércio, que durante todo o período da pandemia 2020, 2021, 2022, teve uma baixa muito grande.
Agora, já no final do ano passado, começou de novo a se destacar como um grande oportunizador de mão de obra.
O comércio hoje aparece como um setor da atividade econômica que já começa a despontar novamente como era no passado antes da pandemia.
Como o Sebrae vê o turismo no Estado?
O turismo está na área de prestação de serviço que mais cresce em oportunidade de geração de novos postos de trabalho. Ele é uma atividade transversal que tem uma capacidade enorme de transformar realidades territoriais. Apostando nisso o Sebrae, a partir deste ano de 2024 e até 2026, traçou um direcionamento estratégico que fortalece toda a cadeia do turismo.
O desafio está posto para o Espírito Santo.
A reforma tributária está impondo ao Estado a necessidade de trabalhar e pensar no turismo como um novo marco econômico. E o desafio é para todos nós.
O Sebrae assume o seu papel, a sua parcela desse desafio e o nosso compromisso é trabalhar os empreendedores de micro e pequena empresa, trabalhar os produtos turísticos, para que a gente possa ter bons produtos, empreendedores capacitados, empreendedores investindo nessa área para que a gente possa fazer do turismo uma grande fonte geradora de riqueza para o Espírito Santo.
E a partir disso fazer com que o Estado seja um destino turístico reconhecido pelos brasileiros, porque hoje não é isso que acontece.
Precisamos trazer o turismo para o Estado e fazer dele uma grande força econômica. E precisamos profissionalizar.
Ou seja, ser um destino querido pelo brasileiro e pelo turista internacional é o grande desafio que temos. E a busca por esse status implica em medidas práticas por parte do Sebrae.
Isso significa o que em relação a medidas práticas?
O Sebrae tem uma força de trabalho muito grande no Espírito Santo hoje, tem uma capacidade instalada de escritórios e um contingente de profissionais especializados que cada vez mais busca no turismo essa especialização.
A partir deste ano, 40% da nossa força de trabalho no atendimento presencial está voltada para o turismo, então iremos priorizar o atendimento às empresas que estão colocadas de fato como seus produtos e serviços no turismo.
Nós vamos investir por ano algo em torno de R$ 20 milhões ao longo de três anos, podendo chegar a R$ 80 milhões com busca de novos recursos.
A gente pretende ter aí algo em torno de 300 mil atendimentos até lá. Vamos fazer isso de uma forma especializada, buscando entender o grau de maturidade de cada parte do território capixaba para que a gente possa ser preciso nessa atuação do Sebrae, ser eficiente nessa transformação territorial para que de fato a gente possa transformar.
O propósito é fazer do Espírito Santo um estado com o turismo sendo uma grande fonte geradora de PIB, de receita, gerando cada vez mais mão de obra para o capixaba.
Por que o ES é um estado empreendedor?
É um Estado que tem um ambiente de negócio que de fato acolhe melhor o empreendedor. Nós temos um conjunto de municípios hoje com políticas claras para a micro e pequena empresa, o Estado tem políticas claras para micros e pequenas empresas.
Para você ter ideia, nós temos o programa Cidade Empreendedora, que atinge os 78 municípios e a gente entende do dia a dia da gestão pública municipal.
A gente entende que há uma disposição muito grande, para cada vez mais facilitar a abertura de novos negócios, estimulando de fato quem quer empreender.
Isso é a diferença no Espírito Santo. É o único estado da nação que o Sebrae atua em 100% dos municípios, com essa temática da desburocratização, da melhoria do ambiente de negócio e agora com o turismo.
Não tem outras unidades da Federação iguais ao Espírito Santo. Aqui é 100% do Sebrae nos municípios atuando fortemente dia a dia na melhoria do ambiente de negócio, na melhoria dos negócios nas cidades.
Isso faz diferença, chama a atenção do empreendedor e faz de fato do Espírito Santo um estado que além de uma boa economia, uma boa regularidade fiscal, equilíbrio fiscal, também tem a capacidade de investir e tem municípios e instituições unidas em prol dessa melhoria do ambiente de negócios.
Faz a diferença, estimula o empreendedor, isso é um ânimo a mais para quem tem essa coragem toda para investir.
O que ainda impede que o empreendedor prospere no Espírito Santo? Quais são os nossos maiores obstáculos hoje?
Olha, tem alguns obstáculos do mundo empresarial que não são específicos do Espírito Santo. A dificuldade do acesso ao crédito é para todo empreendedor brasileiro. Ainda é um tema que mais aparece aqui quando a gente busca esse entendimento por parte do setor empresarial.
Essa questão da gestão dos pequenos negócios também. Não é nenhuma falta de política, mas o empreendedor tem de ser, às vezes, quase tudo no seu empreendimento.
Isso dificulta porque se tem uma demanda maior por vendas, ele acaba se focando um pouco mais na venda, um pouco mais na produção e a parte da gestão, que é fundamental, fica a desejar. Isso impede o crescimento.
E um último item que é a parte tributária para a pequena empresa. Há uma pressão tributária muito forte e um exagero de regras acessórias que o empreendedor tem que cumprir e que não consegue.
São tantas as obrigações acessórias que ele não consegue dar conta de atender a todas elas e isso acaba impedindo o crescimento das pequenas empresas e as deixando vulneráveis a uma fiscalização, ao fisco de forma geral.
Às vezes, é humanamente impossível uma pequena empresa cumprir todas as obrigações.
E como é que você acha que está o movimento para resolver esses problemas todos, esses obstáculos todos?
O Sebrae faz parte da solução. De acesso ao crédito, a gente tem trabalhado muito forte aqui no Estado com o Fundo de Aval. O Sebrae, no seu sistema, tem mais de 8 bilhões de reais colocados num fundo de aval.
Hoje, a grande dificuldade do empreendedor é ele, quando vai acessar o crédito, vai num banco, a primeira coisa que traz essa dificuldade é a garantia real: “Me dá uma garantia de que você vai pagar. Preciso de garantia real”. E essa garantia real nem sempre está disponível.
O empresário não tem, às vezes, essa disponibilidade de uma garantia real, de um bem, para que o banco tenha segurança de botar esse capital na mão do empreendedor.
Então, o Sebrae entra com o Fundo de Aval. Isso faz com que o risco do banco diminua e fica mais fácil de o empresário tomar o crédito.
Hoje, aqui no Espírito Santo, nós temos a Caixa Econômica, o Bandes, o Sicoob operando o Fundo de Aval do Sebrae, o que é um facilitador muito grande.
O Sebrae também dá ao empreendedor acesso a todas as condições de capacitação para que essa tomada de crédito seja segura e ele possa fazer um plano de desenvolvimento para o negócio dele e que não haja problemas.
O acesso ao crédito hoje é uma solução que o Sebrae tem e que pode, de fato, facilitar muito a vida do empreendedor ao buscar o sistema financeiro para a tomada de crédito.
Mas, você acha que é fácil o empreendedor chegar a essa solução?
Ele procurando o seu gerente da Caixa Econômica, do Bandes e do Sicoob já tem que chegar lá falando do Fundo de Aval do Sebrae, porque está lá disponível para facilitar a vida do empreendedor.
Basta ele conhecer, procurar o Sebrae em qualquer unidade de atendimento, nas nossas plataformas de atendimento remoto, para que a gente possa orientá-lo.
O Fundo de Aval é hoje um grande instrumento que o Sebrae tem para ajudar os empreendedores.
Falta dinheiro para o empreendedor? A quem o empreendedor pode e deve recorrer para buscar uma ajuda financeira?
Nós entendemos que não faltam recursos. A gente sempre vê aí que tem dinheiro, mas o acesso é dificultado. Aí vem o Fundo de Aval que ajuda nesse processo de acesso.
Esse é o trabalho fundamental que o Sebrae tem feito e tem ajudado muito. Tem uns programas do governo também, como o Pronamp, que surgiu na época da pandemia com regras facilitadas.
Aqui no Espírito Santo nós temos algumas linhas de financiamento que são subsidiadas pelo governo, que é o caso do Nosso Crédito para quem deseja tomar até R$ 21 mil.
Também tem o Fundo de Aval do governo aqui no Estado que é um diferencial e o Bandes opera esse fundo. Temos aqui algumas particularidades para facilitar o acesso ao crédito que vem via o órgão governamental.
Por que o Sebrae é importante no desenvolvimento de negócios do Espírito Santo?
Eu estou há cinco anos no Sebrae, sempre militei no movimento empresarial, e eu posso afirmar que o Sebrae é fundamental.
Apoiar o desenvolvimento da micro e pequena empresa é fundamental.
Olha os números que nós temos: o Sebrae atende hoje em 78 municípios, tem um campo de atuação muito forte com quase 700 mil atendimentos em 2023. Isso não é pouco! É um Sebrae que chegou a 70 mil novos clientes somente em 2023.
Eu estou falando de clientes CNPJ, eu não estou falando daqueles clientes de CPF, que também o Sebrae atende, porque eles estão no processo de desenvolvimento do seu empreendedorismo.
Nós temos maior número de empresas registradas no Espírito Santo, maior número de pessoas que buscam de fato empreender.
Se isso acontece é porque tem ambiente favorável, tem ambiente propício e também pelo papel que o Sebrae cumpre e mostra que seus recursos orçamentários estão chegando lá na ponta, lá no empreendedor que procura o Sebrae para os seus investimentos, para o seu desenvolvimento.
Pedro Rigo é diretor superintendente do Sebrae ES
Veja abaixo a entrevista completa: