A economia do Espírito Santo é diversificada, tem importantes representantes no agro, na prestação de serviços e na indústria. Mas também desponta em áreas ligadas às finanças e tecnologia. 

E por aqui está uma das principais empresas do país no setor de cartões de benefício, que é um setor em expansão no Brasil. O segmento movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano. O país é o maior mercado mundial de benefícios, superando a França, inclusive, que é considerada o berçário do setor. 

A Le Card tem 11 anos de atuação no mercado e já conta com 1 milhão e 600 mil usuários e uma rede de 100 mil estabelecimentos credenciados. A administradora de cartões de benefício atende 720 empresas privadas e 280 órgãos públicos em todo o território nacional. 

O desempenho garantiu o reconhecimento como a mais bem avaliada no setor no ranking do Reclame Aqui. E quem está à frente da empresa é o CEO, Erly Vieira. Para ele, o crescimento vem com foco nas pessoas sempre de olho nas possibilidades do mercado.

Veja abaixo a entrevista:

Como uma empresa como a Le Card pode surgir em um estado como o Espírito Santo? 

Encontramos o ambiente ideal. Começamos pequenos e fomos crescendo. O início da empresa, em 2013, faz 11 anos agora, foi aqui no Espírito Santo e continua com sede e filial aqui. Mas, com o tempo, o Estado acabou ficando pequeno para a gente. Precisávamos expandir para aproveitar a nossa competência e conquistar novos mercados. 

Você acredita que o Espírito Santo tem algo de diferente para abrigar uma empresa como a Le Card?

O Espírito Santo representa 2% da população e do PIB do Brasil e isso coloca o Estado numa posição menor em relação a outras regiões. Mas, o que é interessante aqui é que, por ser um estado pequeno, as pessoas acabam se conhecendo mais. Isso ajudou muito nas indicações no começo. 

Como a demanda cresceu, foi necessário expandir para além do Estado. Aqui, a base de clientes começou com indicações, mas o crescimento exigiu a entrada em mercados maiores e mais competitivos. O diferencial foi saber aproveitar a nossa competência e ampliar a atuação.

Como é a concorrência no setor de cartões de benefícios?

A concorrência é muito forte. O mercado de benefícios movimenta cerca de R$ 150 bilhões no Brasil, e ele só tende a crescer, pois surgem novas modalidades de cartões, como o de combustível, farmácia, premiação, e até mesmo cartões presentes. 

Hoje temos cerca de 100 empresas participando deste segmento. Para ganhar clientes, é necessário ser bem reconhecido, divulgar muito o produto e, mais importante, ser bem avaliado.

Como a Le Card tem se destacado nesse mercado?

Nós focamos muito na qualidade do atendimento e no reconhecimento da marca. Trabalhamos para oferecer uma boa experiência para o cliente e, para isso, investimos muito na nossa reputação. 

Por exemplo, nossa empresa tem a melhor nota no Reclame Aqui entre as empresas de cartões. Isso é fruto do nosso esforço em oferecer um bom atendimento, responder rapidamente às reclamações e buscar sempre a satisfação do cliente. 

Além disso, nos preocupamos em criar um ambiente corporativo onde os colaboradores se sintam pertencentes à empresa, o que contribui para um trabalho mais engajado.

Você acredita que o aumento de cartões de benefícios está relacionado com a maior preocupação das empresas em oferecer melhores condições para os colaboradores?

Sem dúvida. Cartões como o de premiação, por exemplo, têm sido muito utilizados pelas empresas para motivar seus colaboradores. Eles são uma forma de recompensar o bom desempenho dos funcionários, além de serem uma ferramenta para promover a cooperação dentro da equipe. 

Por exemplo, a Le Card oferece um cartão premiação, que é dado aos colaboradores conforme os resultados individuais e da equipe. Isso cria um ambiente de trabalho mais colaborativo e incentiva o desempenho.

Como você enxerga a Le Card dentro do cenário financeiro? A empresa é uma fintech ou uma empresa de benefícios?

Eu vejo como uma empresa do ramo financeiro, especializada em cartões de benefícios. Trabalhamos com taxas e, como você sabe, no Brasil, as regras mudaram, não podemos mais oferecer prazos ou descontos no setor privado. 

Então, o foco tem sido em oferecer um bom atendimento e garantir que nossos clientes estejam satisfeitos com a rede de estabelecimentos que aceitam nossos cartões. O uso de tecnologia é fundamental para isso. 

Recentemente, implementamos soluções digitais para atender melhor nossos clientes.

Quais você considera os principais ativos do Espírito Santo que podem gerar bons retornos?

O Espírito Santo tem grandes oportunidades em duas áreas principais: turismo e mercado internacional. O Estado tem um enorme potencial turístico com praias e proximidade com estados que possuem grandes economias. 

A infraestrutura portuária também precisa ser mais explorada, pois o Espírito Santo é um ponto estratégico para exportação. Portanto, vejo oportunidades no turismo e nos portos como áreas ainda pouco aproveitadas.

E o que você acredita ser necessário para que o empresário capixaba consiga se alinhar às necessidades do mercado?

Os empresários precisam estar atentos ao mercado internacional e ao que ele exige, criando produtos para consumo interno e também para exportação. 

O clima favorável e a disponibilidade de terras no Espírito Santo são pontos positivos para a agricultura e produção. 

O turismo também precisa ser mais explorado. O Estado ainda tem um grande potencial, mas precisa de mais investimento e liderança para aproveitar essas oportunidades.

Existe dinheiro disponível no Estado para esse tipo de desenvolvimento?

Sim, acredito que há recursos no Espírito Santo. O que falta é uma maior busca por esses recursos. O Estado já teve incentivos como o Fundap, que ajudaram muito no passado, e atualmente existem outros planos de incentivo. 

Empresários precisam ter mais ousadia. O Estado tem potencial, mas precisa de mais coragem e visão para buscar e aproveitar esses recursos.

 

O que você considera importante na cultura empresarial?

A cultura de uma empresa precisa ser construída com base em valores sólidos. Não adianta tentar mascarar ou omitir problemas. Por exemplo, nós estamos reformulando o ponto eletrônico, com o objetivo de transformar a cultura de controle de jornada para uma cultura de confiança e reconhecimento pelo trabalho. É assim que as empresas devem caminhar, evoluindo para criar um ambiente de trabalho mais justo, produtivo e engajado.

Como você avalia a relação atual entre o meio empresarial e o poder público? E como você, pessoalmente, lida com essa relação?

Eu vejo que a relação entre o meio empresarial e o poder público é sempre desafiadora, mas também essencial. Quando estive no poder público, como secretário de Desenvolvimento Econômico da Serra, tive uma experiência única. Eu pude ver de perto as diferenças entre o setor público e o privado. 

No setor privado, o empresário age com liberdade, tomando decisões e arcando com as consequências. Já no setor público, tudo precisa ser muito bem justificado e regulado. 

Quando se trata de questões ambientais, por exemplo, o setor privado tem a flexibilidade de lidar com os desafios de maneira mais direta, enquanto no setor público, as leis e regulamentações são muito mais rígidas.

Mas, é importante entender que ambos os setores trabalham de maneiras diferentes, e precisamos de uma cooperação entre eles para que o ambiente de negócios seja melhor. Acho que o setor público deve ser menos rígido, as leis precisam ser mais compatíveis com a realidade empresarial.

Como você enxerga a importância da qualificação para o empresário aproveitar as oportunidades no mercado atual?

A qualificação é essencial, mas vai além dos diplomas. Claro, eu sou um grande defensor da educação formal, como mestrado e MBA, mas acredito que a leitura constante é uma das formas mais importantes de se qualificar. 

Livros como “Marketing 5.0”, de Philip Kotler, são indispensáveis para entender as novas dinâmicas do mercado. As gerações estão mudando e os empresários precisam entender as diferenças entre elas para se conectar melhor com seus públicos.

Na Le Card, incentivamos todos a continuarem estudando. Oferecemos apoio para que nossos colaboradores se matriculem em cursos e continuem seu desenvolvimento. E isso vai além de qualificações técnicas. 

A experiência prática, de colocar a mão na massa e resolver problemas, também é fundamental. Além disso, estamos em um momento em que a tecnologia e a inteligência artificial estão revolucionando o mercado, então é vital que todos se atualizem constantemente.

Qual o papel das lideranças nas empresas hoje e como elas devem se posicionar no ambiente corporativo?

A liderança deve estar sempre atenta às mudanças externas. Eu vejo o líder não como alguém que fica no operacional, mas sim alguém que transforma e inova. A função do líder é questionar o status quo, buscar melhorias e garantir que as equipes operacionais sigam padrões eficientes. 

Não podemos mais perder tempo investigando processos internos que já estão estabelecidos. O tempo do líder deve ser gasto buscando inovações e identificando novas oportunidades.

Hoje, a tecnologia é uma aliada essencial. Na Le Card, temos um programa de ideias, em que incentivamos os colaboradores a trazerem propostas de melhorias. E isso não é apenas um exercício. Muitas dessas ideias são implementadas de fato. 

O importante é criar uma cultura de inovação constante, onde todos possam contribuir com algo novo.

 

Diante da reforma tributária que se aproxima, como você vê os impactos para o empresariado?

A reforma tributária é um tema de grande preocupação, mas, na verdade, teremos que enfrentar as mudanças, independentemente de estarmos preparados ou não. O importante é buscar formas de influenciar o debate, especialmente em um estado menor, onde podemos ter uma relação mais próxima com os deputados e senadores. 

Não podemos sofrer por antecipação. Temos que mostrar, através das associações e federações, como certas mudanças podem afetar negativamente os negócios.

Por exemplo, a ideia de taxar grandes fortunas já falhou em outros países, como na França, onde grandes empresários saíram do país por causa disso. Precisamos garantir que as mudanças tributárias sejam justas e que os recursos sejam bem aplicados. 

Estamos sempre atentos às mudanças no cenário fiscal e procuramos nos preparar para elas da melhor maneira possível.

Qual o legado que você quer deixar na Le Card?

O legado que eu espero deixar é de respeito às pessoas e de valorização da colaboração. Na empresa, nós não temos salas separadas, todos estão próximos e incentivamos o diálogo direto. 

Acho que a chave para resolver os problemas rapidamente é a comunicação eficiente.

 

E isso inclui a capacidade de ouvir. Eu acredito que ouvir as pessoas e tomar decisões coletivas traz mais resultados. Eu sempre procuro mostrar que a liderança deve dar o exemplo. Não adianta esperar que os outros façam algo primeiro, faça você e os outros seguirão.

Erly Vieira é CEO da Le Card

Veja abaixo a entrevista completa:

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