Um mercado gigante, promissor e, muitas vezes, apontado como um motor da economia. A indústria da construção civil é uma das mais importantes do Estado e está diretamente relacionada a milhares de empregos. A gente fala de um mercado de mais de 65 mil trabalhadores. Dados mais recentes mostram que só em 2023, foram mais de 8 mil novos empregos.
E quando a gente fala de valorização, aí é que os números realmente saltam aos olhos. Em 10 anos, o mercado imobiliário teve valorização de impressionantes 144%. Vitória e Vila Velha estão entre as cidades do país com a maior crescimento de valor.
Mas aí, o sinal de alerta acende. O cenário parece nebuloso quando falamos de juros estratosféricos e incertezas quanto à saúde fiscal do governo federal, fatores que podem influenciar o setor.
A influência direta é muito mais para imóveis populares. Aquelas unidades de alto padrão seguem com mercado aquecido e essa é a praia de José Luis Galvêas, fundador e presidente da Galwan.
A construtora é voltada para imóveis de alto padrão e foi fundada em 1981. Nesses 43 anos de história foram mais de um milhão e duzentos mil metros quadrados entregues. Nesta entrevista, José Luis Galvêas fala de como enxerga o mercado e quais são as perspectivas de futuro.
Veja abaixo a entrevista:
O mercado está com medo dos juros altos agora. Como você vê isso? Você tem medo de não vender por causa da dificuldade de financiamento?
O caso da Galwan é um pouco diferente do mercado mais tradicional. Não vendemos apartamentos. O que oferecemos são cotas de terreno, frações ideais. Nosso modelo consiste em formar grupos de pessoas para as quais construímos.
Administramos esses grupos como síndicos: o dinheiro, as contas bancárias e as compras são todas do condomínio. Os próprios condôminos fornecem os recursos, tanto de mão de obra quanto de materiais, para a construção.
Isso traz algumas vantagens, como um custo de escrituração menor. Por exemplo, você só paga o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) sobre a fração do terreno, não sobre o imóvel inteiro, já que foi você quem o construiu.
Isso funciona como na construção de uma casa: você paga o ITBI do terreno, mas não sobre os materiais de construção ou a mão de obra que utilizou.
Nosso modelo, além de ser mais econômico, é voltado para o longo prazo e atrai perfis de investidores. Mesmo quem entra em um condomínio para construir sua unidade própria está, de certa forma, investindo.
Outro ponto interessante é que muitos investidores retornam ao modelo várias vezes, o que mostra sua confiança.
Considerando o cenário econômico atual, o mercado imobiliário parece estar em alta. Mas como você enxerga o momento? Ainda é um bom negócio investir em imóveis?
Eu diria que o mercado está muito bom agora. Passamos por três ou quatro anos de crescimento constante, tanto em termos de preços quanto de procura por imóveis. Ainda existem estoques disponíveis, e adquirir um imóvel continua sendo um investimento seguro, especialmente para quem pensa no médio e longo prazo.
O mercado imobiliário tem ciclos. Mesmo que agora estejamos próximos do pico, se a curva começar a descer, é só uma questão de tempo até ela subir novamente.
Nada fica ruim para sempre. Essa é a lógica do setor: períodos de alta seguidos por períodos de baixa, geralmente em ciclos de quatro a cinco anos.
Por isso, se você está pensando em investir com uma perspectiva de longo prazo, acredito que não há oportunidade melhor. Além disso, o imóvel não é apenas um bem de investimento, mas também uma segurança e um sonho para muitas famílias.
Você acredita que o mercado imobiliário ainda oferece mais vantagens do que outras formas de investimento?
Sem dúvida. É só comparar o passado: pense no quanto custou o apartamento em que você mora ou o terreno que você comprou e quanto vale hoje. O mercado imobiliário, a médio e longo prazo, sempre se mostra vantajoso em relação a outras formas de aplicação financeira.
Além disso, há um aspecto emocional e familiar. Por exemplo, o que você prefere? Que seu filho continue pagando aluguel ou que você invista agora em um empreendimento na planta, para que ele tenha seu próprio apartamento no futuro?
O que as pessoas buscam com o dinheiro são coisas que ele pode proporcionar: segurança, diversão, realização. O imóvel atende a essas necessidades, além de ser um ativo com potencial de valorização.
E quanto à questão da liquidez? Muitos dizem que o mercado financeiro oferece mais liquidez do que o mercado imobiliário.
Isso é relativo. No mercado financeiro, você até pode vender ações rapidamente, mas apenas pelo preço que o mercado está disposto a pagar. No mercado imobiliário, a lógica é diferente: você só vende seu imóvel pelo preço que considera justo.
Se você comparar, ambos os mercados têm seus prós e contras. O que faz a diferença é a forma como você encara o investimento. O imóvel é uma escolha mais sólida e segura para quem pensa no longo prazo.
Qual ativo do Estado tende a dar um bom retorno atualmente?
Eu acho que qualquer ativo que ofereça uma base de sustentação de preço tende a ser uma boa opção. No caso de imóveis, por exemplo, o custo de produção – incluindo cimento, ferro, mão de obra e terrenos – não tem tendência de queda.
Esses custos funcionam como uma base sólida. No entanto, o preço de mercado flutua conforme a oferta e a procura.
A questão central é se os valores praticados no mercado estão muito acima do custo ou se estão alinhados com ele. Essa análise é essencial para garantir que o negócio seja sustentável e acessível ao cliente final.
Além disso, hoje vejo o fundo de investimento imobiliário como um ativo espetacular. Ele reflete diretamente as dinâmicas macroeconômicas e políticas e pode oferecer um retorno muito interessante.
Como você enxerga o impacto da construção civil no desenvolvimento das cidades?
A construção civil vai além de gerar moradias. Cada imóvel construído é um patrimônio para a cidade. Ele contribui com IPTU anualmente, gera empregos para construção e manutenção, e movimenta a economia local.
Essa visão ficou clara para mim quando o prefeito do Rio de Janeiro, durante um café da manhã, destacou que hotéis, por exemplo, são parte do patrimônio de uma cidade. Eles influenciam diretamente na capacidade de atrair eventos e visitantes.
A mesma lógica se aplica a qualquer empreendimento imobiliário. Por isso, é fundamental que prefeituras e governos se alinhem mais com as construtoras para acelerar processos de aprovação de projetos e facilitar novos empreendimentos.
Reduzir índices construtivos, por exemplo, pode ser contra produtivo, pois diminui emprego, arrecadação e geração de riquezas para a cidade.
Quais são as principais demandas do empresário da construção civil no Estado?
Houve melhorias ao longo dos anos, mas ainda enfrentamos desafios relacionados à burocracia. Na década de 1980, conseguíamos aprovar projetos em 15 dias. Hoje, esse processo pode levar meses. Isso se deve, em parte, a visões divergentes de gestores públicos e a uma falta de equilíbrio entre os interesses ambientais, econômicos e sociais.
Um ponto que defendo é a necessidade de ouvir todos os lados e buscar soluções equilibradas. A verticalização, por exemplo, reduz o impacto ambiental em comparação a um modelo onde todos morassem em casas, o que exigiria mais estradas, combustível e emitiria mais CO2.
Outro aspecto importante é pensar na carência habitacional do Brasil. Precisamos tratar a construção civil formal, representada por empresas organizadas e conscientes, de forma justa, incentivando sua atuação e diferenciação da construção informal, que ocorre nas áreas mais carentes.
Como você avalia o papel do governo no incentivo à habitação popular?
O subsídio que o governo oferece em programas como o Minha Casa Minha Vida é essencial, mas acredito que ele poderia ser ampliado.
Na prática, o governo arrecada muito mais com os impostos gerados na cadeia produtiva da construção do que oferece em subsídios. Cada saco de cimento, cada tijolo transportado gera arrecadação estadual, municipal e federal.
O governo poderia, inclusive, zerar impostos para habitações de baixa renda, estimulando ainda mais a construção civil e contribuindo para atender o que a Constituição prevê: o direito de todos a uma moradia digna.
Por fim, acredito que as soluções mais efetivas vêm de um compromisso genuíno em atender às necessidades da população, e não apenas de interesses políticos.
A construção civil é uma das forças mais importantes para o desenvolvimento do país
Você está num momento de transição, passando o comando para o seu filho. Ele está preparado? Como o empresário da construção civil se prepara para o mercado e os desafios?
Quando saí do Sinduscon como diretor, meu filho já trabalhava comigo e assumiu meu lugar como diretor do sindicato. Isso proporcionou a ele um contato amplo com o mercado. Além disso, logo após se formar, ele trabalhou no Rio de Janeiro, adquirindo experiências em uma grande empresa. Depois, ele voltou trazendo muita bagagem.
Ele já tem mais de oito anos de experiência conosco e é muito mais bem preparado do que eu em termos acadêmicos e gestão. Além disso, ele compartilha da nossa filosofia de agradar e trabalhar para os condomínios, colocando sempre os interesses dos condôminos em primeiro lugar.
Você acha que experiência é mais importante do que formação?
Não, a formação é mais importante. Porém, a experiência complementa muito bem a formação. A responsabilidade, o carinho com os condomínios e a vontade de fazer bem feito são valores que passam de geração para geração, como vemos nos filhos de colaboradores que cresceram dentro da nossa empresa.
Você foi eleito líder empresarial na categoria Construção Civil de Alto Padrão. O que é necessário para ter esse reconhecimento?
Eu acredito que é a postura do líder diante da sociedade e a maneira como a empresa se insere nela. Não é apenas a competência técnica, mas também o impacto social positivo.
Na Galwan sempre buscamos atuar com responsabilidade social. Por exemplo, apoiamos dois atletas campeões mundiais e realizamos eventos beneficentes.
Isso reflete como entendemos a empresa como um patrimônio não apenas nosso, mas da cidade, do Estado e do país. Fiquei muito feliz com o reconhecimento e agradeço a todos que votaram em mim.
Qual é o papel do líder empresarial no mercado atual?
Um líder empresarial não trabalha sozinho. Hoje, vejo que liderar é delegar, orientar e coordenar. Ações coletivas fazem a diferença. A sociedade enxerga isso nos produtos e no atendimento da empresa, mas também nas suas obrigações sociais.
Um líder também precisa ser consciente do impacto da sua empresa na sociedade.
Como você vê o futuro da construção civil com a evolução da tecnologia e da inteligência artificial?
O futuro aponta para mais automação. Já existem impressoras construindo casas, e isso vai transformar o setor. Essa evolução exige uma educação aprimorada e focada em tecnologia, especialmente em áreas como informática.
Além disso, a construção civil precisará encontrar formas de reduzir o impacto social de uma automação que pode diminuir vagas para trabalhadores não qualificados. Precisamos equilibrar progresso tecnológico e responsabilidade social.
Você mencionou a importância de educação e mentalidade empreendedora. Como isso se aplica ao setor da construção civil?
A educação é essencial para preparar pessoas para as novas demandas do mercado. Uma mentalidade empreendedora, especialmente em crianças, ajuda a criar oportunidades.
Nos canteiros de obras, vemos exemplos de ajudantes que crescem para se tornar mestres de obras por causa da vontade de aprender e melhorar.
Que marca você quer deixar no setor imobiliário do Estado?
Quero deixar a marca que herdei da minha família: honestidade, transparência e valores sólidos. Minha família, minha esposa, meus três filhos, sempre me deram bons exemplos.
Hoje, a sociedade está carente de confiança. Ser exemplo de confiança e honestidade já é um diferencial em qualquer área.
Quero que a Galwan viva por muitos anos com o mesmo espírito que tem hoje. Que ela ultrapasse a média de vida das empresas e continue a honrar os valores com que foi fundada. Esse é o legado que quero deixar.
José Luis Galvêas é fundador e presidente da Construtora Galwan
Veja abaixo a entrevista na íntegra: