Vila Velha se prepara para dar um salto no tratamento à classe empresarial. O município contratou um estudo da Fundação Dom Cabral para saber quais as áreas mais promissoras e os principais obstáculos ao desenvolvimento de negócios. E os próprios empresários do município foram chamados para participar e dar ideias sobre como fazer a cidade deslanchar economicamente.
A Associação de Empresários de Vila Velha (Assevila), entidade que abriga de forma voluntária a rede empresarial que faz a economia do município girar, tem experiência em mapear a cidade e apontar as principais medidas que devem ser adotadas para melhorar o ambiente de negócios.
A Assevila não só interage com o poder público por condições mais favoráveis como também tem uma agenda bem definida de desenvolvimento. E com compromissos sugeridos em documento, com visão de futuro.
O novo presidente da entidade, Thomaz Tommasi, acredita que o ambiente pode melhorar se a classe empresarial mostrar para o poder público e para a sociedade o que é preciso fazer. Como destravar gargalos e promover o desenvolvimento.
Ele também acha importante falar sobre como os empresários de Vila Velha encaram o momento e o que o município precisa para crescer. “Vila Velha é um ambiente fértil para prosperar”, afirma.
Leia a entrevista com Thomaz Tommasi:
Como é o ambiente para empreender em Vila Velha?
Vila Velha é uma cidade com muitas potencialidades. É uma cidade que tem oportunidades e goza de um espaço muito favorável para que o empreendedor possa investir na cidade.
Vila Velha é uma cidade que tem uma área urbana adensada, mas também tem uma área rural que gera oportunidades para o empreendedor. Como toda cidade da Grande Vitória, Vila Velha tem seus desafios e tem a necessidade que se organize melhor para poder desenvolver cada vez mais.
O próprio empresário, e esse é um papel também da Assevila, deve dialogar melhor com o poder público para criar mais oportunidades e participar de forma mais efetiva do ambiente de negócios.
Vila Velha virou o patinho feio do empreendedorismo no Estado?
Eu discordo disso. Não posso concordar. Historicamente, Vila Velha tinha uma característica de ser chamada de “cidade dormitório” porque as pessoas iam buscar suas oportunidades de trabalho e investimento em outras regiões…
O município da Serra fez o seu dever de casa, se desenvolveu a partir dos polos industriais que lá existem. Hoje tem feito um outro trabalho com olhar para o desenvolvimento e até tem recebido novos moradores em bairros mais bem planejados e mais bem organizados.
Vila Velha a despeito disso não é uma capital e não se desenvolveu dessa perspectiva (da Serra) no passado.
Mas hoje a cidade tem a oportunidade de se desenvolver a partir dessa perspectiva. Principalmente a partir da Região 5 (Grande Terra Vermelha), com criação de polos industriais e de organização logística para o escoamento da produção e do que chega pelos portos de Vila Velha.
Quais são os maiores obstáculos, as maiores dores do empresário de Vila Velha hoje?
Para qualquer empresário de qualquer lugar: hoje a gente precisa de um ambiente que seja estável. Para o empresário de Vila Velha e da Grande Vitória, de forma geral, fica muito complicado quando investe em Vila Velha e atravessa a ponte e encontra uma legislação diferente em Vitória.
Essa é uma dificuldade sobre a qual a gente poderia avançar em diálogos sobre geração de empregos e oportunidades. Uma outra dificuldade está relacionada à mão de obra. A gente tem encontrado uma dificuldade enorme e isso é transversal, em todos os setores de todas as áreas.
Eu acho que está na hora de voltar o debate sobre a região metropolitana. Eu enxergo que esse debate sempre surge no processo eleitoral local municipal aqui na Grande Vitória, mas é uma pauta que a gente tem conversado com as associações da Serra, de Cariacica e tem convidado Viana, Fundão e Guarapari também. Nós já tivemos reunião com as associações de Cariacica e da Serra e concordamos que um debate de uma integração maior seria extremamente salutar para o empresário e para o desenvolvimento da economia local.
Como é a interlocução dos empresários da cidade com os governos municipal e estadual?
Atualmente a interlocução é maravilhosa. Temos um diálogo muito bom e muito franco com a Prefeitura de Vila Velha, com o governo do Estado, mas a gente sempre tem que ter um olhar de que essas conversas também precisam de uma visão coletiva para a economia e não para as instituições.
Muitas pessoas acham que uma instituição tem o papel de construir relacionamento para o benefício individual e próprio. Este não é o papel da Assevila. A associação tem o papel no desenvolvimento econômico da cidade como um todo.
Tem dinheiro para investimento no município?
Tem dinheiro para desenvolvimento. Seja pelos bancos de fomento como eu também acho que tem dinheiro vindo de fora do Brasil. As pessoas querem investir na Grande Vitória, justamente por esse clima, esse ecossistema que está tão favorável.
Eu acho que o empresário de Vila Velha está preparado para receber esses investimentos. Uma forma de se organizar é a Assevila trazer essa pauta para o debate nas nossas reuniões e nos nossos conselhos e assim encaminhar para o poder público. O principal papel da associação é esse. Articular os temas que precisam ser debatidos.
Qual o maior obstáculo que a cidade oferece aos empresários? Os alagamentos atrapalham no desenvolvimento de negócios?
Isso atrapalha o empresário como atrapalha o cidadão comum do município. O que é positivo é que a cidade tem encarado isso de frente. É muito importante quando a própria gestão pública entende o seu desafio e encara isso de maneira muito frontal, olhando no olho do problema.
Isso é com a gestão municipal e também é com o governo do Estado que tem feito grandes investimentos na cidade. O problema do alagamento é complexo, o município foi construído de maneira desordenada com algumas áreas abaixo do nível do mar então dependendo da maré e da intensidade das chuvas pode ter catástrofes ocorrendo o tempo todo. Mas esse é um problema que os gestores têm encarado de frente.
Os empresários temem a reforma tributária? O que pode acontecer com as empresas com a regulamentação da reforma?
Todo mundo teme a reforma tributária, como ela pode chegar e como ela pode ser encarada. Existe uma necessidade por parte do governante de equilibrar suas finanças.
Esse governante tem medo de uma queda de arrecadação e quanto isso pode impactar nas contas públicas. Mas o maior risco que existe é o risco da instabilidade. O risco de a gente encontrar um ambiente de negócios que a todo tempo mude. Que a legislação, que a regra mude.
Esse é o grande problema para o empresário. A regra mudar a todo momento talvez seja o medo de todo mundo. E essa é uma pauta transversal porque amedronta todo tipo de empreendedor, do pequeno até o grande.
Esse é um debate que a gente vai trazer para a Assevila, ainda este ano. Esse é um assunto que o empresário de Vila Velha está de olho.
Tem mão de obra disponível em Vila Velha? Como a Associação encara esse gargalo?
Esse é um assunto que tem sido discutido em todas as mesas. É um problema que tem atingido todo mundo. A necessidade de uma mão de obra qualificada, seja para qual setor você vai olhar, hoje o grande gargalo é a questão da mão de obra.
Eu enxergo, de uma maneira bem ampla, que existe mão de obra, a gente tem pessoas que querem trabalhar, precisam trabalhar, mas essa articulação não está sendo bem feita para encontrar as oportunidades.
E isso também tem muito a ver com o momento que a gente vive, de alta troca de informações, de alta tecnologia muito acelerada e muito desenvolvida que vai gerando gargalos. Em resumo, aquela profissão que hoje tem muito valor, em alguns poucos anos pode desaparecer.
Quais movimentos a Assevila precisa fazer para manter o ambiente de negócios em Vila Velha atraente ao empresário?
A gente desenvolve estudos e está ajudando a prefeitura de Vila Velha. A gente está participando de um estudo contratado pela prefeitura junto à Fundação Dom Cabral para avaliar o ambiente de negócios no município e os principais obstáculos ao desenvolvimento de negócios. Outro ponto são os conselhos temáticos que nós temos, como o de Turismo, por exemplo.
E a Assevila ainda participa dos conselhos municipais, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e o Conselho da Cidade por exemplo. A associação tem assento em 14 desses conselhos que têm relação ao ambiente de negócios.
Que recado você daria ao empreendedor que quer se instalar em Vila Velha?
Eu faço na verdade um convite ao empreendedor que venha se instalar em Vila Velha, que arrisque. Porque ser empresário é arriscar. Que arrisque seus empreendimentos na cidade, que está se organizando cada vez mais, mas já goza de um ambiente muito favorável e também pleno de oportunidades. Faço esse convite. É um ambiente fértil para prosperar.
O presidente da Assevila é administrador e mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local. Também é pós-graduado em Diplomacia e Relações Internacionais e em Liderança e Gestão. Thomaz Tomasi é secretário do Instituto Tommasi de Pesquisa e Desenvolvimento.