Uma das principais indústrias do Estado, que está diretamente relacionada a milhares de empregos e à valorização imobiliária crescente que a gente experimenta no Espírito Santo é a da construção civil.

Com dados do ano passado, a gente fala de um mercado de mais de 65 mil trabalhadores. Só em 2023, foram mais de 8 mil novos empregos. E com o aquecimento da construção civil, vem a valorização imobiliária. Em 10 anos, a valorização foi de 144%. Vitória e Vila Velha estão entre as cidades do país com o maior crescimento de valor do metro quadrado.

É nesse cenário que o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Espírito Santo (Sinduscon-ES), Douglas Luiz Vaz da Silva aponta os caminhos, dores e perspectivas para o setor. 

O Sinduscon-ES foi fundado em 1934 e está entre os primeiros sindicatos da indústria da construção constituídos no país. Já o Douglas tem mais de 40 anos de experiência no mercado imobiliário, já desenvolveu mais de 120 empreendimentos no Espírito Santo, Rondônia e Mato Grosso.

Confira nesta Entrevista de Domingo

Nós chegamos ao ponto ideal do mercado imobiliário capixaba falando de preço e de oferta?

Dentro da minha experiência, pelo que eu tenho visto, nós temos espaço ainda para  valorização. Se nós formos ver os preços que existem nos mercado fora do eixo da Grande Vitória, como Rio de Janeiro e São Paulo, nós temos ainda espaço de valorização.

Tem margem de crescimento ainda, mas não em todos os tipos de imóveis. Nos produtos de alto padrão, ainda tem uma margem, mas está perto do teto. A margem aumenta em imóveis de médio padrão. Nos mais econômicos, a margem é bem maior.  Mas, é importante dizer que a velocidade de valorização deve diminuir um pouco. 

Por que isso aconteceu?

De um tempo para cá o Espírito Santo começou a despontar principalmente com o equilíbrio fiscal que o Estado alcançou e tem hoje. É um Estado em que há uma segurança jurídica e você pode vir empreender. Tem receita, paga as contas em dia, gasta menos do que recebe, então isso nos dá uma segurança e o olhar dos empresários de fora é muito positivo. Teve um crescimento grande não só na área da construção mas também com  indústrias novas chegando. Isso aquece o mercado.

Na Grande Vitória mesmo, por exemplo, as pessoas da área da construção viram que tem poucas áreas para empreender. Então isso fez com que subisse o preço do metro quadrado. Muitas vezes um plano diretor um pouco engessado não dá margem para aproveitar melhor as áreas. Isso faz também com que o preço suba. 

Muitas pessoas começaram a vir para Vila Velha, que já tinha um crescimento grande na área da construção e tem um litoral que dá para explorar bastante. Vila Velha  pode ter ainda uma taxa de crescimento e valorização maior

Depois da pandemia, as pessoas passaram a valorizar mais a casa? Por que?

Se nós vivemos esse boom de valorização hoje é por causa desse pós-pandemia. Na minha visão, as pessoas procuraram espaços maiores. Nessa época na empresa onde eu atuava, que era a Cristal,  nós fizemos o Boulevard Lagoa e teve ainda o Alphaville que emplacou também.

Vitória é a cidade mais verticalizada do Brasil.

 

Então a cultura daqui da Grande Vitória é de as pessoas morarem em apartamento. Foi quando veio um conceito novo de condomínios. As pessoas viram isso como um bom lugar para morar, para você viver e aqui nós não tínhamos essa cultura então começou a emplacar. 

Como o Sinduscon identifica desafios e oportunidades no Espírito Santo?

O maior desafio é a burocracia dos setores públicos, mas não é na questão de técnicos com má vontade de agilizar processo. Nós temos dito isso lá no Sinduscon. As prefeituras e os órgãos públicos não conseguem ter essa mesma velocidade da necessidade de implantação dos novos projetos, de novas empresas não só no setor da construção mas em todos os outros setores.

Existem legislações hoje que são complexas e eu te dou um exemplo. Na nossa área, que é de loteamento, você tem um Plano Diretor Urbano que é o PDU ou o Municipal, que é o PDM. Você tem uma lei, um código de obra.  Você tem uma lei de parcelamento do solo. Às vezes você vai tratar de um assunto referente a um artigo nessas leis que fala do mesmo assunto, mas cada legislação tem interpretações diferenciadas. 

Quando o técnico pega isso e lê ele fica com dúvida. Qual ele vai aplicar? Esse aqui ele tem um entendimento, o outro é diferente. Então ele  prefere pegar esse processo e passar para o técnico de outro setor para analisar e assinar ou não. Aí o outro também tem receio. E hoje o  servidor público responde como CPF e não sobre o CNPJ da prefeitura. Então ele responde pessoalmente se tiver algo errado. Aí ele prefere não dar andamento no processo com medo de ser responsabilizado pessoalmente.

Tem que qualificar melhor as pessoas dentro das prefeituras,  para ter entendimento melhor das legislações e também ter o entendimento da necessidade de ter mais agilidade nesses processos. Outro problema é que tem prefeituras com o quadro técnico muito comprometido. São muitos processos, muitos empreendimentos e pouco pessoal,  principalmente nas prefeituras do interior que não esperavam o crescimento grande pelo qual o Estado está passando. Então esse é o desafio que nós temos.

Acho que é sentar poder público, Ministério Público, Amunes e as entidades que são produtoras numa mesa e começar a abrir um debate sobre esses assuntos.

Nós precisamos dar velocidade nesses processos.

 

Às vezes vem uma empresa querendo se instalar aqui no Estado, com a economia acelerada, mas se você demora com a liberação desse projeto quando ele chega a autorização para implantação já passou aquele momento. Então as coisas tem que ter mais velocidade, tem que ser mais ágil nesses processos. 

E as oportunidades?

As oportunidades são as que já têm acontecido. O  Estado está com um ambiente muito favorável de negócio. Contas equilibradas, a nossa logística…  tem algumas coisas que precisam melhorar, como por exemplo a BR-101. Precisa fazer a duplicação. A BR- 262 é um desafio também. Mas na logística nós temos as oportunidades que são as áreas portuárias. Tem o porto da Imetame que está saindo, tem o porto aqui de Vitória que foi tá privatizado e você tem a oportunidade de ampliação do Porto lá na Samarco.

A própria Agricultura também apresenta oportunidades. O nosso Estado está indo muito bem também com as indústrias, principalmente no polo industrial da Serra. Tem muitas coisas ainda para expandir…

Tem a região de Vila Velha, ao longo da ES-388, onde foram criadas áreas industriais  que estão todas virgens e dá até para fazer o que chamamos de porto seco para atender  o Porto de Vitória. Tudo isso gera emprego, renda e novas construções surgem. Então nós temos muitas oportunidades. 

Como é a mão de obra do setor da construção civil?

A nossa mão de obra é qualificada e já temos muitas empresas capixabas que prestam serviço para a Vale do Rio Doce, para a Suzano…  são empresas daqui que já estão prestando serviço em outros estados como no Pará, no Maranhão,  Mato Grosso, Mato Grosso do Sul onde tem as expansões da celulose. 

Como é que é a ação do Sinduscon para alinhar medidas que favoreçam o desenvolvimento dos empresários do setor de construção?

Além dos vários trabalhos que são feitos com os empresários do setor, tem também a interlocução junto com com os poderes constituídos. Nós temos uma cadeira na Findes e essa credibilidade ajuda bastante nesta interlocução.  Estamos fazendo 90 anos agora neste ano e o Sinduscon  é uma entidade que tem portas abertas e somos sempre bem ouvidos quando nossos associados têm alguma demanda ou alguma dificuldade.

O Sinduscon é um sindicato das pessoas que constroem.

 

Nós brigamos pelo que é correto e apontamos as grandes oportunidades para os empresários do segmento. E hoje no Estado as principais demandas são as questões de legislações que às vezes são frágeis. Às vezes existem leis que são desenvolvidas com as melhores intenções, mas que prejudicam o desenvolvimento. É uma das dificuldades que nós temos. Mas temos um canal de interlocução junto com a Assembleia Legislativa para todas as legislações e  também discutimos junto com a sociedade para que não prejudique nem quem é consumidor e nem quem produz. 

Mas, como é o ambiente de negócios no Estado hoje?

Hoje o Espírito Santo tem um bom ambiente de negócios e posso dizer para você que é um dos melhores do Brasil. Inclusive recentemente foi criada a Lei de Licenciamento Ambiental em que os órgãos ambientais têm prazo para poder responder aos pedidos. Às vezes a gente tem prazo para tudo como empreendedor, como desenvolvedor você tem condicionantes  que temos que cumprir com 30 dias, 45 dias. E se não cumprirmos, perdemos o licenciamento.

Mas quando estamos  tramitando um processo junto aos órgãos ambientais, aquilo dali fica um ano.. dois para para liberar um empreendimento. Às vezes leva 3, 4 anos para você poder receber o licenciamento de um loteamento. Então hoje com essa legislação que foi criada os órgãos têm prazo também para responder.

Quais são as áreas com maior potencial hoje no Estado?

Os lugares principalmente que têm oportunidades de crescimento são Linhares, Aracruz, Santa Cruz, São Mateus. O foco é para imóveis residenciais porque vai ter uma exigência tremenda de populações novas chegando em função do crescimento dessas cidades.

São muitas empresas,  muitas indústrias chegando e essas pessoas precisam de moradia. Vila Velha também é uma região onde essa parte residencial deve ter uma expansão. Mas também a necessidade de salas comerciais, porque o município tem hoje poucas salas.  Viana é uma região que surge como oportunidade também na área de loteamentos.

E como você vê o potencial da Serra?

Há também uma tendência de crescimento desses novos condomínios. Mas, a cidade tem uma cultura de casas e a verticalização não pega muito. Porque quando você fala de verticalização, a primeira coisa que a pessoa pensa é: “Eu quero de frente pro mar”. Tanto que a faixa da orla de Vila Velha está sendo toda ocupada.

A Serra, como o plano diretor tem restrições no litoral, principalmente de Jacaraípe e em Manguinhos tem uma comunidade que nem pavimentação nas ruas quer,  então isso aí faz com que a verticalização fique  mais complexa. Mas a Serra tem muitas áreas ainda para ocupar e tem oportunidades porque é onde está a indústria.  Onde está o maior vetor de crescimento depois de Vitória

A reforma tributária assusta o setor da construção civil?

A reforma tributária tem partes boas e tem partes que nós precisamos entender mais. Acho que ela está em fase de estudo. Às vezes tem uma informação de um jeito, outra informação de outro. A gente precisa saber mais como ela vai passar para saber se ela vai assustar ou não.

Tudo que é reforma  traz medo,  mas você tem que ver ainda o resultado.

 

A única questão que eu vejo na reforma é dos recursos ficarem praticamente todos em Brasília e você precisar ir lá ao conselho para fazer liberação para os municípios. O Sinduscon tem grupos de estudo elaborando documentos para entregar a parlamentares e a gente acompanhar cada decisão. isso como um todo está sendo tocado pela Câmara da Indústria, uma entidade que abrange todos os sindicatos do país.

Douglas Luiz Vaz da Silva é presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon-ES) e é sócio da Vaz Desenvolvimento Imobiliário

Veja a entrevista completa abaixo:

Um comentário em “Douglas Vaz: “O maior desafio é a burocracia dos setores públicos”

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