Um dos setores apontados como mais sensíveis da nossa economia é o varejo. Se a economia vai bem, o movimento do varejo vai bem automaticamente.

Mas, se a economia vai mal, o reflexo também é imediato. E quem mais sente esse movimento é o setor supermercadista. Mas vivemos bons momentos neste segmento aqui no Espírito Santo.

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O setor emprega mais de 120 mil trabalhadores no Estado. São mais de 1.700 lojas, que  faturam cifras acima dos R$ 22 bilhões a cada ano. Foi assim em 2023.

E quem encaminha esses movimentos de orientação e gestão do “negócio supermercado” é a Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), que há 52 anos representa desde a pequena mercearia até as grandes redes. 

Fábio Dalvi é presidente da Acaps e aponta o relacionamento como o principal ativo que o empresário do ramo deve ter.

Ele está à frente também da Rede Canguru de Supermercados, um negócio de família e com atuação principalmente no município da Serra. Mas, o varejista também atende seus clientes pela internet, com uma estruturada operação de vendas online.

Confira nesta Entrevista de Domingo

Por que o setor supermercadista é tão sensível à economia?

A gente atende toda a população, de todas as classes sociais e em volume. Por exemplo, a população de baixa renda em muito volume, então isso faz com que todo tipo de mudança caia no supermercado. E ainda tem os fatores do dia a dia, o que acontece no país.

As pessoas falam: “Encheu no Rio Grande do Sul… vai faltar arroz”, aí vai todo mundo para o supermercado. E teve pandemia, vai aumentar imposto, entressafra de tomate… e assim vai. Tudo isso vai parar no supermercado porque as pessoas sentem isso muito no bolso.

Como relacionamento é importante para tocar o negócio?

Eu digo que o relacionamento é o ponto principal do nosso negócio. A gente só anda se tiver relacionamento. Veja que as lojas têm uma equipe de vendas, equipe de atendimento e tem um número de clientes que entra e sai diariamente. É dessas relações que o negócio acontece. Fora os fornecedores, prestadores de serviço…

Na linguagem moderna, cada loja de supermercado é um Hub de relacionamentos infindáveis.

 

Assim que o cliente entra, se relaciona com o operador de caixa, com embalador, com o abastecedor de prateleira, com açougueiro, com o padeiro. E aí ele traz problemas, às vezes conversa sobre a vida pessoal. Se não se agrada com o serviço,  reclama e a gente atende, e assim vai.

Mas você acha que isso é bom para o setor?

É excelente para o negócio. Eu digo que tudo é bom para quem tem vocação para aquilo e gosta daquilo. No ramo de supermercado, relacionamento é fundamental. Quem vai trabalhar com supermercado tem que ter em mente que precisa gostar de relacionamento.

Eu vejo isso como muito positivo então eu olho para as nossas lojas, por exemplo, e imagino que elas precisam ser locais, onde o cliente gosta de estar em primeiro lugar. Se ele gostar, dali para a frente a gente começa a pensar em fazer negócio.

Qual é o papel do empresário desse setor no desenvolvimento da economia do Estado?

Tem uma oportunidade e um grande desafio aí. A nossa função é acompanhar tanto o crescimento como a movimentação demográfica. Aí está a nossa oportunidade e o nosso desafio.

Muitas vezes você está instalado numa região que perde população e essa loja instalada ali precisa se reinventar, se readequar. Em casos extremos até fechar. Por outro lado tem as regiões que estão em crescimento como nós temos aqui no Estado.

A nossa massa de consumo é crescente, a gente tem um crescimento no negócio de varejo alimentar no Espírito Santo por exemplo. Com crescimento considerável acima da inflação.

Mas, nem todas as regiões estão na mesma proporção de crescimento. O Estado tem crescido, mas temos vários deveres de casa positivos a fazer. Então há um olhar para esse setor que acompanha o crescimento. Às vezes ele até se antecipa um pouco para abrir mais do que deveria.

O desafio é a gente enxergar o lugar que vai precisar e ter o cuidado na hora de implementar algo.

 

Você acha que a falta de mão de obra pode ser um problema para o setor supermercadista? 

Alguém que diz para você que valoriza o relacionamento, que cuida disso, jamais pode fazer uma afirmativa dessas, de que a mão de obra é uma pedra no sapato do empreendedor.

A gente vive um desafio, e aí não é só o setor de supermercados. A gente vive um desafio de mão de obra na área agrícola também e isso é algo que eu não sei te explicar o motivo. Que existe esse desafio, existe.  E aí tem alguns indícios do que atrapalha um pouco.

Uns falam que é pagamento de benefícios por parte do governo. Por exemplo, numa família tem dois, três benefícios sociais e mais dois, três bicos.

Essas pessoas não se disponibilizam para o mercado formal, se não, perdem o benefício. Temos inclusive uma discussão temática sobre esse assunto e há conversas entre nós em nível nacional de sugerir, por exemplo, que o governo flexibilize.

A gente traz essas pessoas que estão no benefício social para o emprego formal e o governo não suspende a bolsa por um tempo. Como um período de adaptação, como se fosse uma rampa.

Quais são os principais desafios e oportunidades para o setor supermercadista aqui no Espírito Santo?

Da parte da Acaps, por exemplo, a gente trabalha em três frentes principais. A gente assiste o associado, nós temos um uma equipe técnica de advogado, contador e todo tipo de técnico.

Se o associado tem uma dúvida, basta ligar para a Acaps. A gente também trabalha na formação do setor como um todo. Formação de açougueiro, padeiro, embalador, todos os tipos de técnicos. Nós temos um comitê de RH, temos a Acaps Jovem, que trabalha a formação de sucessores.

Trabalhamos institucionalmente defendendo o setor e levando as nossas demandas para os legisladores. Para essa parte aí então os desafios acabam acontecendo.

Nós temos dentro da Acaps um radar jurídico. Tem um projeto de lei em andamento que afeta o setor? Esse escritório traz para a gente e discutimos.

Se por exemplo tem um projeto de lei que exige que o preço seja colocado em Braile, lá na etiqueta, a gente olha para aquilo e percebe que é inviável… como o cliente vai ficar passando a mão nos produtos, nas prateleiras…

Então, humildemente, vamos procurar a Assembleia, provocamos reuniões com os parlamentares para debater e mostrar porque é inviável. Inclusive, é bom ressaltar que somos sempre muito bem recebidos.

Como é a ação da Acaps para alinhar medidas que favoreçam o desenvolvimento empresarial do Estado?

É alinhada com todos esses aspectos que dizem respeito ao supermercado e de certa forma toda a nossa estratégia já guia isso. Ao longo do ano nós temos na nossa agenda de trabalho encontros que privilegiam essa parte de relacionamentos institucionais.

Também temos uma série de cursos ao longo do ano que levam para a parte de desenvolvimento. E nós temos a feira que acontece em setembro e que é um catalisador disso tudo.

E, ao contrário do que a gente imaginava após a pandemia, quando tivemos que migrar muitas atividades para o digital, esse contato pessoal da feira ganhou muita força.

Aquele network que acontece ali é muito importante. Já era antes da pandemia, mas ficou muito mais depois. Nossa feira aumentou de tamanho e muita coisa acontece nesse evento. São muitos treinamentos, muitas visitas…

Como você avalia o ponto atual em que a Acaps está em relação ao começo da instituição?

Eu acompanho a Acaps desde 1990. A associação tem 52 anos e o espírito inicial era de assistir, apoiar o setor. A feira mesmo começou em Guarapari e era algo menor, mas ela foi crescendo e sempre teve um pouco mais do que esses elementos festivos.

A feira foi se profissionalizando ao longo do tempo e hoje eu digo que não deve nada ao que a gente tem por aí pelo Brasil em outras feiras. E falo em termos de organização, profissionalização e conteúdo. 

Como você vê o ambiente de negócios para o setor hoje no Estado?

Eu acho que o ambiente é bom a nível de Estado. Mas,  se eu extrapolar um pouco a nível nacional, nós temos alguns riscos rondando. Aqui no Estado a gente ainda tem alguns desafios logísticos,  mas acaba que isso também é em nível nacional.

A parte da carga tributária, que incide sobre tudo, incide sobre a gente também e eu vejo que isso é um desafio a ser superado.

Já temos consciência de que a gente não consegue virar esse jogo assim rapidamente. O que nós temos conseguido fazer é evitar que piore.

Nós tivemos agora uma assombração aí. Uma lei que se passa…

Se a gente não luta fortemente com a nossa instituição nacional não sei o que que ia ser, porque a proposta inicial era tributar em 27% tudo no supermercado.

Você vai você vai pegar frutas, legumes e verduras, açougue, por exemplo, a maioria desses produtos é isenta. E aí você passa a tributar em 27%?

Já imaginou o que é isso no bolso de um consumidor que já não tem poder de compra? A gente já está perdendo para o resto do mundo, com essas entradas aí de produtos que vêm de fora.

Por que as grandes redes nacionais e até internacionais não têm uma atuação tão destacada aqui no Espírito Santo? Existe protecionismo?

Eu tenho que falar que a gente aqui no Estado trabalha muito bem. A gente tem que entender o lugar da gente também, não é? 

Se você pegar a primeira empresa do ranking nacional no setor de supermercados, por exemplo, ela sozinha fatura quase cinco vezes o que todo o setor do Estado fatura. E isso são dados públicos, estão aí para quem quiser ver.

A gente precisa ser humilde nisso. Não somos um estado tão grande em termos de PIB

 

Mesmo assim estamos aqui com lojas dos dois primeiros do ranking. Então, não sei te dizer o porquê de as grandes redes não terem mais representatividade no Estado, mas não tem protecionismo aqui não, de maneira nenhuma. O empresário capixaba não é fechado para essas coisas não.

Fábio Dalvi é presidente da Associação Capixaba de Supermercados e sócio da rede Canguru de Supermercados

Veja abaixo a entrevista na íntegra:

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