Uma máquina de gerar riquezas no Espírito Santo. A indústria capixaba é um setor recheado de indicadores positivos e com possibilidades de futuro, quando a gente olha a partir desta segunda metade de 2024. E com expectativa de mais bons resultados que devem sair em breve, baseados em números nacionais que já foram divulgados.

De acordo com os números divulgados pelo IBGE, o PIB do país teve crescimento de 1,4% no segundo trimestre deste ano. E quem puxou esse crescimento foi a indústria: alta de 1,8%.

Segundo o IBGE, o crescimento na indústria se deve aos desempenhos positivos das atividades de Eletricidade e Gás, Água, Esgoto, Gestão de Resíduos (4,2%), Construção (3,5%) e Indústrias de Transformação.

Para se ter ideia, a construção civil está em franca ascensão e já projeta oferta de mais empregos para o futuro.

A capacidade de operação chegou a 76% no Espírito Santo, ou seja, de toda capacidade construtiva no Estado, 76% está sendo usada. A indústria, de forma geral, tem muito a apresentar.

E à frente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), empossado este ano, está Paulo Baraona.  Ele é português de nascimento, formado em Construção Civil em Lisboa e atua no mercado capixaba desde 1986.

Já foi presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) e também atuou na organização e fundação da Câmara Portuguesa de Negócios do Espírito Santo.

Confira nesta Entrevista de Domingo

Depois da pandemia, você acha que a gente vive, a partir da área da construção civil, uma retomada da atividade da indústria? 

Sim, eu acho que a pandemia, quer dizer, um pouco antes da pandemia, puxando um pouquinho mais atrás, a gente tem que lembrar que nós vivemos um período muito difícil. Foi aquele período de 2016, 2017 até 2018.

Em 2019, os indicadores estavam começando a subir e veio a pandemia em 2020. Nesse período houve, digamos, uma reinvenção de todos os setores, não só da construção civil mas, de modo geral, de todos os setores. 

Então, quando a pandemia começou a diminuir a intensidade, as pessoas puderam começar a ter uma vida quase normal, logo ali em 2021, 2022, nós tivemos, de fato, uma mudança grande.

Houve uma concentração de demanda grande nesse período que acabou deslanchando e acabou gerando, de fato, um crescimento ou uma recuperação.

A construção civil é um motor grande da economia, também passou por isso e continua ainda com uma recuperação novamente boa. 

Você acha que isso se aplica a toda a indústria? 

Como eu disse, a indústria passou pela pandemia num processo difícil. E um processo em que o setor industrial compreendeu que houve uma velocidade na inovação, na nova tecnologia, na requalificação e na capacitação de mão de obra.

Houve uma visão de que era necessário se criarem novas ferramentas para que a indústria ficasse cada vez mais competitiva. E a pandemia, de certa forma, acelerou o que já vinha sendo visto. 

Como hoje nós continuamos nesse processo, que cada vez mais toma corpo, há a necessidade de o empresário verificar e entender os novos mercados, as novas demandas e, especialmente, inovar cada vez mais para ter uma maior produtividade e agregar valor ao seu produto, que esse é um ponto fundamental. 

Qual é o próximo passo da indústria do Estado? E qual a relação com a Nova Indústria Brasil?

Eu acho que a Nova Indústria Brasil (NIB) é um marco para o setor industrial, porque há muitos anos nós não tínhamos uma política industrial. Então isso vem de fato agregar muito a esse novo tempo de reindustrialização.

O Brasil está se reindustrializando, assim como muitos países que também tiveram um processo de desindustrialização lá atrás e estão agora de fato voltando da mesma forma.

A NIB é um passo extremamente importante e por isso a indústria está cada vez mais olhando para o futuro e olhando para pautas como o ESG, pautas de novas tecnologias, de recapacitação de funcionários. Afinal de contas, nós temos essas inovações, essas novas tecnologias que vêm criando novos empregos.

É uma pauta bem grande, mas uma pauta que a Federação está muito atenta junto com os empresários e junto com todos os sindicatos que a compõem. 

Com essa atenção toda e com esse nível de informação que a Findes tem, como você identifica os pontos fortes da indústria do Estado e para você quais são eles? 

Nós temos vários pontos fortes, mas um dos pontos principais é que nas últimas duas décadas nós temos tido uma interação muito forte com o setor público.

O setor público, o setor privado têm sido um diferencial que criou esse ambiente de negócios que nós temos hoje no Espírito Santo, essa discussão republicana de melhorar o ambiente, melhorar a burocracia e melhorar vários setores da indústria.

O outro ponto, de fato, é a inovação e tecnologia. A Federação também tem estado muito atenta a isso e nós temos uma pauta que chama-se Defesa de Interesse, em que a gente está muito atento a esse setor. 

E as nossas casas, o Sesi e o Senai, especialmente o Senai, estão focadas na requalificação. E o outro ponto importante são o que eu chamo de nossos acionistas, que são os 38 sindicatos que compõem a Federação.

A gente está fazendo com que os sindicatos cada vez fiquem mais fortes e a gente está disseminando muito o associativismo.

O associativismo para a Federação é também um fator grande e importante e isso é uma pauta também na minha gestão. 

Quais são as áreas da indústria que devem crescer nos próximos anos? 

Bom, é uma pergunta um pouco difícil mas, de modo geral, a indústria está crescendo bastante. Eu acho que o setor de alimentos, o setor de petróleo e gás, vários setores estão com grandes investimentos.

Por exemplo, o setor de petróleo e gás puxa um universo grande de outros setores da indústria, como o caso da alimentação, como o caso de serviço, da área da construção civil também, da área do setor metalmecânico.

Eu acho que nós temos aí uma pujança de grandes investimentos que acabam puxando. A indústria, na verdade, complementa quase toda economia.

Qual é a relação da indústria do Estado com a logística? Como é que é possível aproveitar esse momento que todo mundo aponta que é tão favorável no mercado? 

A logística é um problema de Brasil. E nós, no Espírito Santo, não somos diferentes nisso aí. Evidentemente, nós temos uma localização que é fundamental.

Nós estamos hoje a 1.200 quilômetros de 60% do PIB nacional e das maiores cidades do Brasil. Então o Espírito Santo já tem uma localização logística privilegiada e foi descoberto há pouco tempo. 

O Estado investiu em vários portos. Alguns em construção ainda, outros já funcionando. Nós precisamos de fato olhar para esse gargalo que a gente ainda tem entre ferrovias e a parte rodoviária. 

Em quais demandas você acha que esses gargalos podem se transformar em oportunidades para a indústria? 

Eu acho que a gente tem feito, o governo do Estado junto com a Federação das Indústrias, um trabalho grande exatamente na defesa da melhoria dessa malha viária e ferroviária. E claro, tudo gera oportunidades.

Quando você melhora uma determinada malha viária, você cria oportunidades

 

E nós temos aí hoje vários portos já funcionando com áreas de reserva importantes. 

Como é a relação da indústria capixaba com a formação de mão de obra? Qual deve ser o foco da formação agora pensando nessas oportunidades que surgem e vão surgir no futuro? 

Nós temos a nossa casa, o Senai, tem o Sesi também, mas é o Senai na formação de mão de obra capacitada. A gente tem feito muitos investimentos na capacitação, temos interagido muito com os setores, com os vários sindicatos.

Como eu disse, a indústria tem mudado muito, por consequência, a gente precisa se atualizar nessas mudanças.

Como exemplo, recentemente nós inauguramos ali na Avenida Beira-Mar, um laboratório de carros elétricos, para formação de profissionais nessa área. Nosso Estado é campeão na importação de carros, foram mais de 200 mil carros recentemente. 

Também na Serra inauguramos um laboratório de energias renováveis, novas matrizes energéticas, fotovoltaicas, sempre com a parceria de várias empresas do setor. Nós estamos muito atentos.

Não podemos perder investimentos por falta de mão de obra

 

Quais são as maiores carências da indústria no Estado hoje? 

Bom, uma das ameaças é essa da mão de obra que eu acabei de falar, uma ameaça a nível de Brasil, mas eu acho que a gente tem um bom ambiente no Estado, o que elimina algumas  carências que de uma forma geral acontecem.

Nós temos um governo que tem um Fundo Soberano criado, tem uma interação grande de discussão saudável com a indústria, tanto no Judiciário quanto no Legislativo. Eu acho que isso é um atrativo grande e o resultado está aí. 

O nosso Estado é um dos mais industrializados do Brasil e também temos uma grande  quantidade de indústrias diferentes, diversificadas. 

Qual é o impacto desses gargalos de infraestrutura, que a gente tem no Estado, para o desenvolvimento da indústria? 

Isso é sempre um dificultador grande porque, afinal de contas, uma indústria é uma edificação estática, ela é feita num determinado lugar.

Diferente dos outros setores, você não pode carregar uma indústria e levar para outro lugar. Então, evidentemente que a logística da distribuição dos produtos, seja de exportação, de importação, seja de venda interna no próprio Brasil, precisamos de uma logística fácil e rápida.

E nisso, infelizmente, nós temos uma carência grande ainda, especialmente por parte do governo federal, em ferrovias e nas rodovias federais. 

Temos aqui no Espírito Santo a BR-101, a BR-262 e também o problema das ferrovias, seja da parte do Centro-Oeste que vem lá da Serra do Tigre, seja parte aqui da F-118 do Sul (Vitória a Rio).

São pautas que a gente está discutindo, elas não estão paradas, o governo do Estado tem sido bastante ativo, a Federação tem sido muito ativa e a gente carrega com uma necessidade grande de solução. 

Como a indústria deve receber o novo Porto Imetame e essas possibilidades em volta dele? 

Com certeza isso é extraordinário para o Espírito Santo, assim como lá na região tem o Portocel, que também está fazendo investimentos de ampliação.

É importante ver o capixaba investir e acreditar no Estado.

 

A indústria não só tem que apoiar como tem que estar junto na defesa exatamente desse ativo importantíssimo para o Estado, como tem o Porto Central lá no Sul também, tentando se desenvolver. 

Eu acho que nós vivemos um momento bastante interessante e como eu disse, pela nossa localização logística, se a gente conseguir melhorar muito a nossa malha, a nossa infraestrutura de ferroviária e rodoviária, com certeza o Espírito Santo passa a ser um lugar diferenciado no Brasil. Já é, né? 

Como você pretende direcionar sua gestão na Findes? Quais são os pontos que você acha que precisam ser atacados? 

Eu acho que o principal deles, como eu falei há pouco, é a gente dar força aos nossos acionistas, que são os nossos 38 sindicatos. Nós temos 19 mil empresas no Estado, que geram quase 250 mil empregos diretos.

E a gente precisa dar aos sindicatos uma condição de eles poderem crescer e se fortalecer. Como eu disse, são 38 sindicatos de 38 setores diferentes da indústria e cada sindicato muitas vezes representa vários outros segmentos. 

É um universo muito grande e a gente precisa fortalecer. Essa é uma das minhas pautas principais, fortalecer isso. E as outras pautas são pautas que estão aí também extremamente importantes, como a pauta do ESG, que as empresas e a indústria estão muito atentas, assim como pautas ambientais, como a descarbonização.

E a pauta da defesa de interesse, que eu já falei a pouco, que é a pauta exatamente da infraestrutura, para que o Estado possa se desenvolver mais rápido. 

A Findes vem desenvolvendo ao longo dos anos um processo de interiorização. Isso continua? 

Com certeza. Essa pauta também faz parte do meu projeto desse período de 2024 a 2028. A interiorização é extremamente importante, até porque hoje, se você tirar as grandes empresas como a Vale, a Arcelor, aqui da Grande Vitória, não tem outras tão grandes assim na região.

A indústria não está na Grande Vitória, ela está no interior. Nós precisamos exatamente capacitar pessoas, levar educação, qualificação técnica para poder atender as indústrias que hoje permeiam o nosso interior quase como um todo. 

Eu acho que esse processo de interiorização é extremamente importante porque você leva desenvolvimento a várias áreas do Estado que não têm, como a gente tem visto, especialmente no Norte do Estado, ali em São Mateus, Sooretama, Linhares, Aracruz.

São regiões que adquirem uma capacidade de se desenvolver, melhorar a qualidade de vida. A indústria é o setor que paga os melhores salários e é o setor também que desenvolve maior tecnologia. Então, estamos falando em empregos de ponta.

O que é preciso para ser bem sucedido na indústria? 

Educação, capacitação, visão de negócios. É a isso que o empresário precisa estar sempre atento e especialmente precisa se cercar de bons quadros.

Eu costumo dizer que a gente tem que se cercar de gente que é mais capacitada do que a gente.

 

Precisa ter visão, uma abertura grande, um grande diálogo. A forma de ser gestor hoje, de ser dirigente, passa por uma coisa que eu considero muito importante e aprendi muito isso com meu pai, que se chama ter respeito.

Respeito pelas pessoas, respeito por quem está do seu lado e isso faz toda a diferença para que você crie um ambiente bom em torno de você.

O segredo é sempre o respeito, interação e saber formar uma boa equipe. Trabalhar bastante também, né? 

Paulo Baraona é presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes)

Veja abaixo a entrevista completa:

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