O setor de serviços foi um dos que mais colaboraram com o PIB do Estado no primeiro semestre de 2024. O crescimento foi de 3,1% em relação ao mesmo período de 2023. E quando falamos de geração de empregos, os números impressionam. Foram 22.069 contratações, o que representa mais da metade (52,5%) de todos os empregos formais gerados em 2024, até novembro, segundo números do Connect Fecomércio-ES.
E neste segmento, é preciso falar do setor de shows e eventos e como ele pode mexer com a economia. Pelo menos é nisso que acredita Patrick Ribeiro, um dos principais expoentes do Espírito Santo quando se fala de eventos.
O baiano de Salvador veio novo para o Estado e começou no ramo de eventos em 1990, fazendo festas. As primeiras foram na casa da família dele e agora ele se consolidou como gestor de um espaço que abriga shows de grandes nomes da música nacional, além de eventos com humoristas, palestrantes diversos e até atrações internacionais.
Confira nesta Entrevista de Domingo
Qual é o tamanho do setor de eventos aqui no Espírito Santo?
Estamos muito felizes com o movimento pós-pandemia. O setor de eventos realmente estava com uma demanda reprimida.
Foram dois anos de muita dor, mas o setor de eventos e shows é, por natureza, de muito risco. Percebemos que a demanda reprimida se manifestou não apenas na área de shows, mas em eventos de uma forma geral.
No espaço que temos no Aeroporto de Vitória, é evidente a diversidade de eventos acontecendo: sociais, corporativos, religiosos, acadêmicos e outros. Hoje em dia, shows de humoristas e stand-ups são muito mais comuns, e essa diversificação ajuda bastante na oferta de serviços no espaço.
Como você divide os eventos que recebe no espaço?
Eu gosto de dividir os eventos em bilhetados, com vendas de ingressos, e não bilhetados. Nos bilhetados, temos infantis, stand-ups, teatro e eventos de conteúdo, como palestras com influencers.
Esses segmentos estão em alta e trazem novas oportunidades para o Espírito Santo. Os não bilhetados são normalmente eventos sociais, de empresas e fechados.
E sobre o tamanho do setor de eventos no Estado? Existe possibilidade de crescer?
O Espírito Santo tem limitações em relação a estados maiores, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Não conseguimos competir em grandes shows internacionais com espaços como o Allianz Parque ou Mineirão.
Em shows pequenos e médios, não há motivo para ficarmos atrás.
Espaços como o nosso comportam públicos de até 2.500 pessoas, dependendo do formato. Para crescermos, é preciso planejar melhor a malha aérea, a hotelaria e outros aspectos de infraestrutura.
O que é necessário para que o setor se desenvolva e o Estado seja palco de grandes shows?
O setor de turismo precisa estar preparado com restaurantes, hotéis e receptivos, além de locais apropriados. Existe uma questão de falta de espaços ou de bons eventos para ocupar esses espaços.
Tivemos o exemplo do show do Paul McCartney no Kleber Andrade. Foi um evento icônico, mas não fechou as contas devido às dificuldades logísticas e de infraestrutura.
É necessário um planejamento robusto e incentivos para viabilizar grandes shows
Existem incentivos para atrair grandes eventos ao Estado?
A pandemia gerou um movimento nacional por mais incentivos ao setor, que foi um dos mais afetados. Mesmo assim, os incentivos são insuficientes. Este é um setor de muito risco, mas com grande impacto econômico. Precisamos de um olhar mais atento para que a economia gerada pelo setor seja valorizada e estimulada.
Como você vê a reforma do Pavilhão de Carapina para transformá-lo em um centro de convenções?
Vejo essa decisão com muito entusiasmo. Um centro de convenções bem equipado pode colocar o Espírito Santo em condições de competir com outras capitais.
Não se trata apenas de uma grande plenária, mas de uma estrutura que inclua alimentos e bebidas, refrigeração e logística para acomodar milhares de pessoas. Esse é um passo essencial para o crescimento do setor.
Quais são os desafios e as oportunidades do setor de eventos no Estado?
Onde há desafios, há oportunidades. O Espírito Santo ainda carece de infraestrutura adequada para eventos, mas isso também significa que as possibilidades são enormes.
É preciso cuidado para evitar uma expansão desordenada. A geografia também limita as opções na cidade de Vitória, mas há possibilidades em regiões como Serra e Vila Velha.
E sobre o projeto de uma arena multiuso em Vila Velha, anunciada no ano passado pelo prefeito da cidade? O que você pensa?
Vila Velha tem grande potencial. O prefeito Arnaldinho está fazendo um excelente trabalho, e vejo a ideia de uma arena multiuso com bons olhos.
A infraestrutura para eventos não se limita a shows, mas também inclui esportes e outras atividades.
Como morador de Vila Velha, fico feliz com essa perspectiva e acredito que o município está preparado para receber projetos desse porte.
O que falta para termos um público mais fiel para eventos além da música, como shows de comédia?
Para cada perfil de evento existe um público específico, e esse consumo tem crescido, especialmente no pós-pandemia. Observamos aumento de plateia e também de pessoas que antes tinham receio de ir a eventos por desconfortos.
Nossa aposta no espaço Patrick Ribeiro sempre foi resolver isso, oferecendo conforto na chegada, durante o consumo do evento e na saída.
Trabalhamos com climatização, qualidade de som e audiovisual, pontualidade e alimentação de qualidade, garantindo uma experiência honesta e justa em relação ao valor pago.
Como você vê a entrada de influenciadores digitais, principalmente de canais no YouTube, nesse mercado? É uma tendência?
Isso já é uma realidade. Tenho acompanhado o crescimento de creators como Enaldinho e Natan, que possuem grande relevância, especialmente no público infantil.
Por exemplo, o Enaldinho teve um aumento incrível desde sua primeira apresentação em 2017, com 37 pessoas, até sessões para 4 mil pessoas recentemente.
Ele é um caso de planejamento de carreira bem-sucedido, com a família ao lado. Isso demonstra que o segmento digital impacta tanto o público infantil quanto conteúdos adultos, como palestras e treinamentos.
Você acredita que o Espírito Santo pode reviver um movimento musical local forte, como nos anos 2000?
Acredito que sim. É necessário abrir espaço para esses movimentos. Em Salvador, por exemplo, há incentivo constante aos artistas locais, algo que devemos replicar aqui.
Eventos como o Festival Dia D e outros mostraram que existe potencial, e acredito que podemos investir novamente em artistas locais e festivais.
Como são os salários no setor de shows e eventos? É possível encontrar mão de obra qualificada?
No meu segmento, que inclui a produção e a administração de uma casa de eventos, há muita sazonalidade. A contratação de freelancers é comum, e é difícil manter uma equipe fixa por muito tempo.
Além disso, a qualificação é um desafio, especialmente após a pandemia. Ainda assim, com treinamento e esforço, temos conseguido boas entregas.
Como você conseguiu se manter 35 anos em um mercado tão volátil?
Comecei cedo, com 15 anos, organizando festas em residências e clubes. Minha paixão pelo trabalho me manteve resiliente, mesmo diante de desafios como a pandemia. Olhando para trás, sinto orgulho do que construí e das entregas realizadas.
O que a pandemia te ensinou?
A pandemia me trouxe algo que eu precisava: parar. No setor de eventos, estamos sempre pensando no próximo show, na próxima apresentação.
A pausa forçada me permitiu olhar para dentro de mim, estudar, me conhecer e valorizar mais minha família. Esse autoconhecimento foi o maior aprendizado.
Como a tecnologia mudou o setor de eventos e quais são suas previsões para o futuro?
A tecnologia transformou o setor. Por exemplo, hoje temos plataformas para venda de ingressos e comunicação digital eficiente.
As experiências ao vivo continuam essenciais, mas há integração com tecnologias avançadas, como sistemas de som e luz de alta definição.
Eventos como a Esfera em Las Vegas mostram que há um potencial enorme para melhorar a experiência do cliente com inovações.
O que você busca em um profissional para integrar sua equipe?
Procuro senso de dono e iniciativa. No setor de eventos, enfrentamos desafios constantes, e é essencial que o profissional seja resolutivo, enxergue soluções e não apenas os problemas.
Como as lideranças da área de eventos podem fazer a diferença no Estado?
Primeiro, acredito que as lideranças do setor de eventos precisam se unir. Hoje, existe uma percepção de falta de união no segmento.
Esse movimento de integração está começando agora e, com ele, a comunicação com o governo e com as autoridades poderá abrir caminhos mais direcionados e planejados para o futuro.
Na pandemia, a Abrape (Associação Brasileira de Profissionais de Eventos) ganhou força e hoje possui unidades estaduais. Esse movimento é recente, mas essencial para fortalecer o setor.
O turismo pode ser uma solução para o impacto da reforma tributária no Estado?
Acredito que sim. O turismo está diretamente ligado à mentalidade de receber bem. O Espírito Santo tem bons profissionais, mas ainda carece de treinamento e de uma mudança de mentalidade para acolher bem os turistas.
Para desenvolver o turismo, é necessário investir em infraestrutura, hotelaria, restaurantes, receptivos e centros de convenções adequados.
Acredito que esse foco em recepção de qualidade pode trazer ganhos significativos para o Estado.
A política pode atrapalhar os negócios no setor de eventos?
A política pode atrapalhar qualquer negócio, mas percebo um movimento positivo com novas lideranças e maior proatividade. Apesar dos desafios, vejo um cenário mais fluido e com oportunidades de avanços.
Qual o impacto da reforma tributária no setor de eventos?
A reforma tributária impactará todos os setores, incluindo o de eventos. Nosso segmento é desafiador e arriscado, mas também resiliente. Encaro as crises como oportunidades e acredito que o setor vai se preparar para lidar com as mudanças.
Incentivos fiscais poderiam ajudar, mas ainda há preocupação quanto a possíveis freios no mercado.
Como o setor de eventos se insere no atual momento econômico do Espírito Santo?
O Estado vive um momento de destaque nacional, com crescimento econômico acima da média. As federações, prefeituras e instituições estão alinhadas, o que cria um ambiente propício para o crescimento do setor de eventos.
O que o Espírito Santo precisa para transformar o turismo de negócios em turismo convencional?
Apesar da beleza natural do Estado, ainda perdemos eventos por falta de estrutura e serviços de qualidade. Melhorar o receptivo e a entrega de serviços é essencial para transformar o turismo de negócios em turismo convencional.
Você pensa em replicar seu modelo de negócios para outros lugares?
Sim, já recebi propostas de outros estados e países. A ideia é expandir o conceito do espaço, replicando em outras capitais do Brasil. Para 2025, o foco ainda está no Espírito Santo, com projetos específicos para novos segmentos de eventos.
Estou conseguindo fazer algumas realizações em Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Brasília, Goiânia. Enfim, estou encantado com o que estou percebendo e estou feliz com o que está acontecendo. Vem coisa boa por aí.
Patrick Ribeiro é produtor de shows e eventos e dono do Espaço Patrick Ribeiro
Veja abaixo a entrevista completa em vídeo: