O corredor capixaba Marcos Ladislau vai encarar, correndo, as montanhas da Serra da Mantiqueira, que cruzam os estados de São Paulo e Minas Gerais, e percorrer mais de 200 quilômetros em até 60 horas. Ele é o único representante do Espírito Santo aceito na Brazil 135+ Ultramarathon, corrida que reúne atletas de nove países nas modalidades de 135 e 160 milhas, ou seja, 217 e 253km, respectivamente. A largada da prova será dada às 8 horas desta quinta-feira (21), na cidade de São João da Boa Vista, em São Paulo.
Seguindo a doutrina dos ultramaratonistas – atletas que desafiam os limites do corpo para percorrer distâncias superiores a de uma maratona (42km) – Ladislau vai renovar suas crenças (em Deus, na vida, na corrida) no “Caminho da Fé”, trilha de peregrinação que atrai milhares de fiéis em romarias até Aparecida do Norte, no Vale do Paraíba, em São Paulo.
“Essa é uma corrida para renovar a fé. A cada montanha que a gente subir, vamos parar no topo e agradecer por tudo, por estar ali”, Marcos Ladislau.
O capixaba precisa percorrer, em no máximo 60 horas, o trajeto de 217 km, até a cidade de Paraisópolis, em Minas Gerais. Caso consiga concluir o primeiro trecho em menos de 48 horas com condições físicas favoráveis, Ladislau pode seguir correndo até a cidade de São Bento do Sapucaí, em São Paulo, fazendo o percurso completo de 253 quilômetros em aproximadamente 62,5 horas.
Bem treinado e orientado por nada mais nada menos que o mestre ultramaratonista capixaba, Carlos Gusmão, único brasileiro a concluir por duas vezes consecutivas a Spartathlon Ultra Race (246km em 33 horas), Marcos Ladislau foi selecionado há três meses e disputa com outros 69 atletas da categoria Solo – 60H.
Marcos Ladislau desafia
Como todo bom ultramaratonista, Marcos Ladislau carrega a bandeira da solidariedade. Além de incentivar o cadastro de doadores de medula óssea, a Brazil 135+ Ultramarathon o levou a criar um outro desafio. Em suas redes sociais, ele convoca os corredores capixabas a doarem 50g de alimentos para cada km percorrido por ele durante a prova. Os alimentos arrecadados serão levados para doação na APAE de Guarapari. Eu já aceitei o desafio! E você?!
Expectativa
Conversei com Marcos Ladislau na manhã desta quarta-feira (20), véspera da prova, enquanto o ultramaratonista participava da programação pré-prova. #ForçaLadislau
Confira a entrevista:
Quais são seus objetivos na BR 135+?
Fui aceito na categoria BR 135+ Solo – 60H. Isso significa que devo percorrer as 135 milhas (217km) em menos de 48 horas para ter a opção de seguir até as 160 milhas (253km). A minha equipe vai avaliar as minhas condições até o fim do primeiro trecho, que pretendo concluir em um tempo menor do que o estabelecido. Caso eu esteja apto, vou seguir para as 160 milhas.
Uma prova como essa exige um intenso planejamento e uma logística montada para você executar bem a prova. Quem está no seu apoio e como ele vai atuar?
Leonardo Seabra, atleta da minha equipe, será o pacer. A ideia é que ele siga do meu lado durante todo o tempo de prova. A minha esposa, Juliane Schmidt, vai conduzir o carro de apoio e o meu coach, Carlos Gusmão, vai me avaliar o tempo todo e, caso seja necessário, fazer um revezamento com o pacer.
Quais os atributos do seu currículo que o levaram a ser aceito pela banca examinadora da prova?
Comprovei a minha participação em ultramaratonas como a Ultramaratona Rio 24h – Fuzileiros Navais, o percurso double da Volta da Ilha e as 6 horas do Desafio Solidário da Nuts. Além disso, incluí as provas que realizei depois do processo de avaliação: Desafio da Serra, na categoria 80km, e as 12 horas do Exército, em Vila Velha.
Pra você, o que representa a participação na BR135+?
É uma conquista que não é apenas minha. A gente é muito bairrista e carregar a nossa bandeira para uma competição que tem a presença de apenas um capixaba dá muito orgulho. Estou aqui representando todos os corredores capixabas que me apoiaram.
Por ser percorrida dentro do chamado “Caminho da Fé”, rota conhecida por peregrinos, há muitas lendas sobre o clima místico dessa ultramaratona. Do que você tem medo?
De desistir. O Caminho da Fé é lindo e a cada cidade por onde vamos passar tem uma igreja. Essa é uma corrida para renovar a fé. A cada montanha que a gente subir, vamos parar no topo e agradecer por tudo, por estar ali.
E depois da BR135+. Quais serão seus próximos desafios?
No momento, a gente reza para que essa não seja a minha última corrida. Ou seja, não posso planejar nada até concluir a BR 135+. Quem sabe, ano que vem, faço a Ultramaratona Rio 24h – Fuzileiros Navais novamente.
Como ultramaratonista você carrega a bandeira da solidariedade. Além de incentivar o cadastro de doadores de medula óssea, a BR 135+ te levou a criar um outro desafio. Explique como a sua participação na prova vai ajudar as crianças da APAE.
Depois da prova vamos fazer um evento de doação de alimento na Praia do Morro, em Guarapari. Já lancei o desafio nas redes sociais e já tínhamos mais de 250kg arrecadados. No sábado, dia 30, estarei no Píer de Iemanjá, em Camburi, para juntar as doações.
Por fim, a pergunta que eu mais gosto de fazer a ultramaratonistas: o que te move a ser um ultra?
O desafio.
Sobre a prova
A Brazil 135+ Ultramarathom, ou BR 135+, é considerada a corrida a pé mais difícil do Brasil, com muitas subidas e descidas no trecho mais difícil do Caminho da Fé, na cadeia de montanhas da Serra da Mantiqueira.
Após a largada na cidade de São João da Boa Vista, em São Paulo, a corrida passa por Águas da Prata (Pico do Gavião), Andradas, Serra dos Limas, Barra, Crisólia, Ouro Fino, Inconfidentes, Borda da Mata, Tocos de Moji, Estiva, Consolação, Paraisópolis, Luminosa e São Bento do Sapucaí.
As categorias estão distribuídas em solo, revezamento, quartetos e duplas. A corrida segue pelas montanhas da Serra da Mantiqueira – Caminho da Fé – e termina no sábado, dia 23, às 8h, para a modalidade 135 milhas, em Paraisópolis, e às 22h30, para a modalidade 160 milhas, no Pesqueiro da Montanha, em São Bento do Sapucaí.
A competição faz parte do circuito de eventos de ultra-resistência e de esportes radicais que inclui a Badwater Ultramarathon (no Vale da Morte, na Califórnia) e Arrow (conhecido como Inferno Gelado no norte de Minnesota). A corrida do no Brasil é a prova de qualificação (4 pontos) para a The North Face Ultra Trail Du Mont-Blanc, nos alpes franceses.