Vira-lata percorre 450km ao lado de ultramaratonistas na Trilha dos Carijós

Uma vira-lata percorreu 450km entre o litoral sul e o norte do Rio Grande do Sul, ao lado de corredores que encararam durante seis dias a jornada da Trilha dos Carijós, considerada a maior ultramaratona da América Latina. Entre eles, estava o capixaba Elcio Alvares Neto.

4370e0c6-9a45-46e2-872a-e40e023ea44bA “Pretinha Carijó”, como foi batizada carinhosamente pelos atletas, correu uma média de 80km por dia, recebeu carinho e alimentação e no final da jornada foi homenageada e ainda ganhou um lar.

O ultramaratonista Marcio Iasniewicz contou que a cadela largou junto dos atletas no dia 23 de julho, na cidade de São José do Norte. Mas a companhia só foi percebida realmente no segundo estágio da prova, quando ela e os ultramaratonistas já tinham percorrido 86km. “No 1º e no 4º estágio ela esteve o tempo todo comigo. Nos demais, ela correu ao lado do Pedro Silva, o uruguaio que cruzou a linha de chegada da Trilha dos Carijós em 1º lugar”.

Pretinha Carijó, além de fazer companhia, foi “staff” dos atletas. “Quando voava algum boné, touca e luvas dos atletas ela ia correndo buscar e entregava na nossa mão. Nos rios, ela nadava na nossa frente e ia abrindo caminho. Também nos defendia dos leões marinhos, gaivotas e de outros cães que passavam pelo percurso. E quando não sabíamos se estávamos no caminho certo seguíamos as patinhas dela”, relata Marcio.

8df08613-b088-4b49-a0c3-f23a649e3894Segundo Marcio Iasniewicz, no final de cada estágio, quando os corredores chegavam aos acampamentos montados em pousadas ou casas de pescadores, a primeira providência era saber o estado de saúde dos amigos e da cachorra. “Era foi tratada como uma competidora. A ultramaratonista Magda Chagas fazia massagens, passava cremes, na janta separávamos sempre uma porção de comida para ela. Em alguns locais ela chegou a dormir conosco, em outros, ela ficava na frente aguardando a largada do dia seguinte”.

“Abandonar uma amiga não seria justo. Por isso, não queremos que ela fuja depois dessa linda história que vivemos. Não posso defini-la como animal irracional. O que ela fez é mais racional do que muitas atitudes daqueles que chamamos de racionais”, diz Márcio Iasniewicz.

A Trilha dos Carijós foi uma prova de auto-suficiência, onde os atletas precisavam carregar a sua alimentação ao longo do percurso. Mesmo com pouca quantidade de comida, os corredores faziam questão de dividir seus itens de sobrevivência com Pretinha. “Em um dos dias, deixei de comer salame e dei pra ela. Ela também ganhava quase a metade do meu miojo e meus salgadinhos eram divididos meio a meio”, conta Márcio.

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Pretinha, a “Guerreira Carijó”

Homenagem
E, como qualquer competidora, Pretinha Carijó foi homenageada na solenidade de premiação da Trilha dos Carijós. “Depois que cruzamos a linha de chegada ela ficou na porta do hotel e recebeu alimentação e água. Naquele momento especial, em um hotel, enquanto participávamos das homenagens todos nós questionávamos a presença da cachorra. Afinal, ela fez parte de tudo. Conseguimos, junto a direção do hotel e com a organização da prova, liberar a entrada dela na premiação e ela recebeu a sua “medalha”, disse Iasniewicz.

Adoção
Márcio Iasniewicz, 4º colocado na Trilha dos Carijós, decidiu dar um lar temporário para “Pretinha Carijó” e a levou de carro de Torres até a cidade de Rio Grande. O uruguaio Pedro Silva, com quem Pretinha correu a maior parte do tempo, quer adotá-la e Márcio vai levá-la até Punta Del Este no mês que vem. “O Pedro não iria conseguir levá-la de ônibus, então eu me propus a trazê-la e me comprometi de levá-la pra ele até o Uruguai. Eu estava com o carro lotado com os equipamentos da prova, mas mesmo assim fiz questão de adotá-la por esse período. Eu fiz a viagem toda apertado, com cãibras e com ferimentos, e ela veio deitada no banco de trás”, explica.

E a recepção da cachorra em seu novo lar foi em grande estilo! “Domingo fiz um tradicional churrasco gaúcho pra ela e a apresentei para a minha família”.

“Ela só pensa em correr”
Márcio Iasniewicz disse que Pretinha Carijó já tentou fugir algumas vezes e que só pensa em correr. “Sinto que ela não está feliz, mesmo estando no pátio de casa. Parece sentir saudades do uruguaio. É uma típica cachorra de rua, tem muita dificuldade de ficar presa em corrente e está fugindo, mas a gente consegue resgatá-la”.

O ultramaratonista disse que Pretinha Carijó foi mais do que uma companheira, foi um amuleto para os atletas que encararam o desafio de 450km da Trilha dos Carijós. “Abandonar uma amiga não seria justo. Por isso, não queremos que ela fuja depois dessa linda história que vivemos. Não posso defini-la como animal irracional. O que ela fez é mais racional do que muitas atitudes daqueles que chamamos de racionais”, conclui Iasniewicz.

One Reply to “Vira-lata percorre 450km ao lado de ultramaratonistas na Trilha dos Carijós”

  1. Essa é uma linda história. Amo animais em especial cachorro e amor muito as corridas e em especial montanha, Trail e Ultramaratona de longas distâncias. Em treinos de montanha normalmente um cachorro me acompanha, essa energia é muito boa e sempre é super bem vinda. A Ultramaratona da CARIJOS é um dos objetivos, pois a Ultra Maratona da CASSINO eu já participei e quem sabe voltarei nessa praia linda. Abraço a todos e bons treinos.

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