Uma delegação de corredores capixabas de longas distâncias embarca, na próxima semana, para a ultramaratona “Caminhos de Rosa”, cujo percurso de 250km no sertão mineiro tem um forte apelo cultural e refaz o mesmo caminho feito por Guimarães Rosa em 1952, usado como inspiração para o premiado livro “Grande Sertão: Veredas”.
A equipe UltraSports, comandada pelo ultramaratonista Carlos Gusmão, estará representada por oito atletas. Gusmão, que tem no currículo a conclusão de grandes provas como a Spartathlon Ultra Race, com 246 km entre as cidades de Atenas e Esparta, e a Badwater no Deserto do Death Valley, quer se tornar o primeiro campeão da prova na distância de 250km e trazer o título para o Espírito Santo.
“Esta será a terceira edição da prova que ainda não houve um vencedor, já que nos dois primeiros anos nenhum atleta conseguiu vencer o calor do sertão mineiro e completar os 250km do percurso”, almeja Gusmão.
A largada será na quinta-feira, dia 18 de agosto, na cidade de Três Marias, e o ultramaratonista terá o máximo de 60 horas para fazer o percurso de 250km até chegar em Cordisburgo.
As dificuldades para representar o estado na competição mineira vão além das características do percurso e das condições climáticas. A falta de patrocínio é uma triste realidade e às vésperas do embarque, Gusmão ainda precisa de ajuda com o combustível do carro de apoio e com diárias de hospedagem na cidade de Três Marias.
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A delegação da UltraSports conta ainda com os atletas: Alonso Boasquevisque e Marcos Ladislau, na modalidade 140km Survivor, Rose Silva, na categoria Solo com apoio, Diana Bellon e Jorge Coutinho na dupla 250km e Rita de Cássia Fernandes e Leonardo Seabra, no revezamento 250km.
Com a experiência de finalista da Brasil 135, com 217km, Ladislau embarca para Minas Gerais e avalia: “será uma prova muito dura devido a modalidade que estou inscrito. Será a minha primeira experiência em ultramaratona sem apoio. Então pretendo completar a prova bem e vivo!”.
Sobre o Caminho de Rosas
Unindo literatura, cultura, tradição, natureza e esporte, a ultramaratona Caminhos de Rosa tem quatro provas: ultramaratona de atletismo, nas distâncias de 250km e 140km (com categorias solo, dupla e revezamento) e ultrabike, com 300km e 140km.
Os atletas passam por pequenas cidades de Minas Gerais cortadas por fazendas e matas abertas. Altas temperaturas, baixa umidade e sol escaldante compõem o cenário dessa jornada com percurso de paisagens secas. Caminhos com subidas e descidas com poeira chegando a 25 centímetros são adversidades vivenciadas na competição. Confira as informações sobre a prova!
De acordo com a organização, a prova sempre será realizada no mês de agosto, na lua cheia, para que os atletas possam usufruir de um belíssimo lual sertanejo, sempre com um céu limpo, afinal nessa época do ano não ocorrem chuvas na região.
A corrida de Mountain Bike é hoje a maior prova non stop do mundo, já a ultramaratona é considerada a mais dura da América Latina, não apresentando concluintes na categoria principal, a individual.
O mascote do Caminho de Rosas é o curupira. De acordo com a organização, ele foi cuidadosamente escolhido e redesenhado, com alguns traços mais esportivos. A escolha do personagem se deve ao fato do personagem ser um corredor nato, protetor da fauna e da flora e resgatar o folclore brasileiro.
“Grande Sertão: veredas”
A edição 2016 da Caminhos de Rosa será realizada quando se comemora os 60 anos do livro “Grande Sertão: veredas”. A história de Guimarães Rosa com o sertão mineiro tem na boiada de 1952 um de seus mais importantes marcos. O escritor decidiu reunir um grupo de vaqueiros para realizar um percurso de 240 quilômetros em 10 dias, da Fazenda Sirga, a 60 quilômetros de Andrequicé, até Araçaí (MG), município vizinho a Cordisburgo (MG). Ao longo do trajeto, o escritor fez anotações sobre lugares e pessoas. É dessa realidade que Guimarães Rosa vai extrair a matéria-prima para lançar, há exatos 60 anos, Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile, que posteriormente seria desmembrado em três volumes: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão.
A boiada também permitiu a Guimarães Rosa observar atentamente o linguajar sertanejo. “Ele anotou muitos termos, muitos ‘causos’ e muitos vocábulos sertanejos que vão ganhar vida na sua literatura. É através dessa linguagem que ele vai apresentar para o Brasil um país ainda desconhecido de si mesmo”, analisa Telma Borges, professora de literatura da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar de escrita, recheada de recursos linguísticos, que faz com que muitos leitores considerem a leitura difícil. Segundo Telma, ele criou uma linguagem original, mas com correspondência na linguagem sertaneja. A professora explica que o escritor mineiro usa a gramática, mas não a normativa e tradicional. “Ele desloca os termos da oração e se sente um estranhamento. O leitor tropeça nas palavras. É mais fácil entender o texto lendo devagar, voltando atrás para recuperar o sentido das frases, ou lendo em voz alta. Daí é interessante como a leitura em voz alta produz uma significação muito mais acelerada. A literatura de Guimarães Rosa tem uma marca de oralidade, que permite a identificação com o sertanejo”. Com informações da Agência Brasil.