Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? A minha foi no dia 12 de novembro! E, como em toda estreia, teve friozinho na barriga, medo e uma ansiedade que até me tirou o sono na véspera. Quatro anos depois de ter encontrado, no asfalto, o caminho e a inspiração para não voltar à obesidade, a corrida me oferece uma nova experiência e me mostra que é preciso ter ainda mais força, paciência, cautela e consciência na trilha que escolhi seguir.
Participei, pela primeira vez, de uma corrida de montanha. A prova escolhida foi a APTR Pedra Azul, em Domingos Martins, no cenário exuberante da Região Serrana do Espírito Santo. As opções de percursos eram 6km, 12km, 25km e 60km, passando por trilhas de Mata Atlântica, cachoeiras de águas cristalinas e piscinas naturais que cortam o Parque Estadual de Pedra Azul.
O convite para o desafio foi feito por uma pessoa da organização do evento através do Facebook. A princípio, resisti, pois achei que eu ainda não estava condicionada fisicamente para essa modalidade de prova. Depois de conversar com algumas pessoas que fizeram as edições anteriores e de ser encorajada pelo meu treinador, Carlos Gusmão, aceitei o convite e escolhi o percurso intermediário de 12km!
Saí de Vitória na madrugada de sábado e cheguei à Pousada Pedra Azul, local da largada, por volta das 5h, e fui direto retirar o meu kit. Logo na concentração da prova percebi um clima diferenciado de recepção aos atletas. Além de uma grande sinergia entre as equipes do staff, o próprio organizador do evento, Adevan Pereira, recepcionava os corredores da categoria ultratrail 60km, que seriam os primeiros a largarem, às 6h30, e conferia os itens obrigatórios um a um.
Enquanto aguardava o início da minha prova de 12km, que seria apenas às 8h30, acompanhei a largada dos corredores dos 60km e dos 27km. O clima estava agradável, com temperatura de 18 graus, mas parecia que a qualquer momento iria chover. Já alinhando para a largada, tentando controlar a ansiedade, encontrei uma colega corredora de Vila Velha, Viviane Simmer.
Combinamos de ir juntas, no mesmo pace, o percurso todo. Pronto! A tranquilidade tomou conta de mim. Eu tinha ela como companhia, que já conhecia o percurso, pois participou da edição 2015 da prova.
Início da contagem regressiva. É dada a minha largada. Enquanto filmava, fiz o mesmo ritual que sigo no asfalto. Agradeci a Deus por estar ali, pedi proteção e pensei nas pessoas que me levam e me inspiram a correr.
Larguei e segui lado a lado com Viviane. Acho que não tínhamos nem 1km de prova ainda, quando passando por um trecho de terra encharcado me vi resistindo e procurando espaços sem poças de água para pisar e não molhar o tênis. Até afundar o tornozelo inteiro na lama! “Bem-vinda, Dani. Trail Run é isso aqui”, gritou Viviane. Pronto, fui batizada!
Passamos por dentro de propriedades rurais, pastos, subidas íngremes e descemos “sentadas” por trilhas escorregadias. Eu só pensava em ter cautela, respeitando os meus limites e, claro, tentando curtir e absorver ao máximo a energia da natureza. Nos momentos em que não era possível correr, pela característica do percurso, e que o trote foi substituído pela caminhada, eu sentia a grandeza daquele cenário e, confesso, me sentia completamente conectada à natureza e sob sua tamanha proteção.
Mesmo sem domínio algum de técnica, com alguns tropeços, me senti muito bem ao longo dos 12 quilômetros de prova. Tive apenas princípios de câimbras, que quiseram dar seus primeiros sinais em minhas pernas. Mas foi só um desconforto, nada demais. Somente em duas ocasiões, nós perdemos o foco nas marcações do percurso, e erramos o caminho. Mas os trechos pelos quais passamos estavam muito bem sinalizados e apenas a falta de atenção nos fez ficar perdidas por poucos metros.
Entendi que trail run é conexão com a natureza, leveza e harmonia. No silêncio da trilha, onde só dava pra ouvir o som da minha respiração junto ao canto dos pássaros, eu aceitei o “chamado” para essa nova experiência na corrida.
Esse foi o meu primeiro degrau! E a APTR me mostrou que o caminho até a “chegada” da corrida de montanha tem centenas de degraus e eu não preciso dar um sprint para ir até lá. Posso olhar para trás, respirar fundo, apoiar as mãos nos joelhos, parar e até sorrir!
E foi sorrindo, feliz e de mãos dadas com Viviane, minha parceira de prova, que cruzei a linha de chegada! Na categoria faixa etária – 30 a 39 anos – fui a 5ª colocada, com o tempo de prova de 2h21min46seg. Como dizem os apaixonados por trail run, “semente plantada”! Agora já era… virei trail runner! Obrigada APTR, por me conectar com a trilha e por oferecer uma estrutura que me fez sentir segurança ao longo de toda a jornada. Obrigada, Viviane Simmer, por dividir comigo a sua experiência, me guiar pelo percurso e consagrar o meu batismo no trail run. Ganhei uma madrinha na corrida! 🙂
E além do desafio de encarar uma nova modalidade, o evento me permitiu estar entre grandes nomes do trail run nacional, como Rosália Camargo, vencedora das principais provas de montanha do Brasil, e de Cal Nogueira, considerada a “Dama de Ferro”, por sua força e competitividade no seu vasto currículo de provas de rua, trail e ultramaratonas. As duas fizeram a prova principal da APTR, na distância de 60km, que teve como vencedora a capixaba Diana Bellon, minha colega de equipe na Ultra Sports, com o tempo de 7h22min49seg. Gostei tanto do formato do evento que assisti a todas as premiações e só saí de lá quando o último corredor cruzou a linha de chegada.
O relato de quem correu os 60km!
Convidei e o ultramaratonista Elcio Alvares Neto aceitou fazer um relato sobre a sua experiência na prova principal da APTR Pedra Azul. Com a experiência de quem já fez grandes provas de trail run, nas mais variadas distâncias pelo país, o atleta faz as suas considerações técnicas sobre a estrutura, organização e sobre a prova. Confira:
Escolhi correr os 60 quilômetros e as observações que tenho para fazer sobre a APTR Pedra Azul são:
Estrutura: Evento muito bem estruturado, visando sempre o bem-estar dos atletas participantes e seus acompanhantes; Pontualidade na largada; Pontos de controle com hidratação e alimentação em abundância; Equipes médicas e de resgates sempre alertas; Excelente localidade para realização do evento com opção de hospedagem cinco estrelas.
Organização: Staff de primeira, formada por uma equipe preocupada, o tempo inteiro, com a integridade física e psicológica de todos os atletas. Equipe motivada e alinhada com pessoas sempre bem humoradas e a todo tempo estimulando os atletas a dar o seu melhor. Obrigatoriedade e conferência do kit primeiros socorros feitos pelo próprio organizador (o que é de suma importância em um evento desse porte).
Prova: A largada ocorreu pontualmente às 6h30. Tínhamos 4h30 para chegar até o ponto de corte, localizado no km 20, e 12 horas para cruzar a linha de chegada dos 60 km.
O percurso foi variado e super técnico e os terrenos foram: estrada de chão, asfalto, paralelepípedo, trilhas, morros, pirambeiras, pastos, plantações e cachoeiras. As demarcações foram feitas por fitas coloridas e em abundância ao longo de todo o percurso.
Cenários de tirar o fôlego, que enalteceram a espiritualidade dos atletas e deixaram de boca aberta até mesmo os ultramaratonistas mais experientes do país.
Compartilhar tudo isso com tantos turistas, foi um espetáculo à parte. Nunca vi uma prova no Espírito Santo reunir tantos atletas de estados diferentes competindo e interagindo uns com os outros.
Um dos fatos que me chamou a atenção foi a felicidade de todos os que por mim cruzaram o caminho. Era comum ouvir palavras como: “sensacional”, “fenomenal”, “maravilha”! A todo tempo encontrava com pessoas que agradeciam a Deus por estarem ali, logo, entendo a credibilidade e o respeito que os ultras do nosso país têm com os eventos assinados pela APTR.
Conclusão: Cruzar a linha de chegada na APTR tem um sabor especial, pois o profissionalismo, o envolvimento, a paixão e o entusiasmo de toda a organização são tão impressionantes que até quando não temos mais forcas para seguir em frente, conseguimos reverter a situação, organizar a cabeça, encher o coração de amor e seguir, com a certeza de que mesmo se não der certo você fez o seu melhor. Parabéns, Adevan Pereira e toda a equipe!
Elcio Alvares Neto, atleta da equipe Ultra Sports/APPTO/Habitat SportWear, é capixaba, ultramaratonista e corredor trail. Desde criança, tem o esporte como qualidade de vida e, além da ultramaratona terrestre, se especializou em algumas modalidades, tais como: jiu-jitsu, maratona aquática e apneia havaiana. Entre as suas principais conquistas, além da realização de uma série de eventos de corrida solidários, estão: a Trilha dos Carijós 2016 (450km), Jungle Marathon 2014 (275km); Brazil 135 Ultramarathon 2013 (217km); Desafio Vitória-Anchieta (107km) 2013|2014|2015|2016.
Se você, assim como eu, já está definindo o seu calendário de provas para 2017, não deixe de conferir as etapas da APTR que já estão confirmadas e com inscrições abertas pelo país. A de Pedra Azul, por exemplo, oferece até desconto na inscrição por tempo limitado.
25/03/2017: APTR ILHA GRANDE – RJ
29/04/2017: APTR ULTRA DE VIDEIRAS – RJ
05/08/2017: APTR ULTRA DE OURO PRETO – MG
23/09/2017: APTR ULTRA PEDRA AZUL – ES
07/10/2017: APTR 3 PINHEIROS – RJ
25/11/2017: APTR ARRAIAL DO CABO – RJ
=>Mais informações pelo site: www.aptrailrun.com.br