Desafio Vitória Anchieta: 110km de praias, sinergia nas equipes e a força dos ultras

As praias de quatro cidades capixabas – Anchieta, Guarapari, Vila Velha e Vitória – serão percorridas por 626 atletas neste sábado (29), durante mais uma edição do Desafio Vitória Anchieta, maior ultramaratona e corrida de revezamento do Espírito Santo. 

A corrida tem como cenário os 110km que contornam o litoral sul do Estado e esbanja belezas naturais ao longo de seu percurso. Praias paradisíacas, trilhas, falésias, morros, trechos de areia, asfalto e calçadão, além de compor o visual, acrescentam dificuldades no trajeto e exigem a superação daqueles que aceitam o desafio.

A primeira largada será dada por volta das 4 horas da madrugada de sábado, na praça do Artesão, no distrito de Iriri, em Anchieta. A chegada é no final da orla de Camburi, na capital capixaba.

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Para dar conta de todo esse percurso, 112 equipes formadas por três a dez integrantes dividem os trechos de acordo com as suas habilidades, conhecimento e preparo físico. Mas há aqueles que encaram o trajeto na categoria solo em três distâncias – 110km, 69km e 50km. A competição terá a participação de 43 ultramaratonistas – 11 no solo 110km, 16 nos 69km e outros 16 nos 50km.

A competição reúne atletas com diferentes perfis de preparos físicos, devido ao número de competidores por equipe e a diversificação das categorias. Além disso, os inscritos se organizam e montam um esquema de transporte para facilitar o trajeto dos corredores próximo aos postos de troca das equipes de revezamento. É obrigatório o uso de carro de apoio não fornecido pelo evento.

Para o idealizador Alen Brandizzi, que comemora a quinta edição da prova em 2017, o grande diferencial do Desafio Vitória Anchieta é o espírito de equipe. “A prova é maior do que a organização. A gente tem a ideia, o trabalho de montar a estrutura e de dar a segurança, mas o grande diferencial é que as equipes, assessorias esportivas e as pessoas saem fortalecidas da prova”, avalia Brandizzi.

Além disso, o Desafio Vitória Anchieta apresenta aos corredores trechos turísticos ainda não explorados, embora acessíveis. “Vendemos a região mais bonita do Espírito Santo! Os corredores têm a oportunidade de conhecer praias de Anchieta, Iriri, Guarapari e Vila Velha que o grande público de turistas que visitam o nosso litoral não conhece normalmente, mesmo sendo áreas acessíveis”.

19951445841_bb92421532_oPercurso e sentido da prova – O trajeto do Desafio Vitória Anchieta vem sendo aperfeiçoado a cada ano. Desde 2013, quando foi criada, a corrida sofreu alterações para garantir ainda mais a segurança dos atletas. Como por exemplo, a retirada do trecho da avenida Carlos Lindenberg, em Vila Velha, com grande fluxo de veículos, e a substituição pela passagem via Terceira Ponte com os atletas utilizando os carros de apoio para fazer a travessia de um dos principais cartões postais capixabas.

O sentido da prova também é alterado de acordo com a avaliação da organização. Essa será a terceira edição com largada em Anchieta. Em outras duas, os atletas saíram de Vitória com destino à cidade histórica que abriga o Santuário Nacional São José de Anchieta. “Avaliamos que a prova nesse sentido fica bem rápida e melhora o controle da organização, gerando menos impacto. A inversão do percurso não tem um padrão a ser seguido. A gente sempre avalia o que mais funciona no ano. Talvez em 2018 a gente inverta a posição e largue em Vitória para chegar em Anchieta. O que a gente mais quer é que a prova gere segurança. A ideia é que o percurso vá mudando, se ajustando e passando por perfis mais fáceis para o corredor não se perder e ser mais seguro do ponto de vista corporal, onde os atletas consigam ter um equilíbrio entre a intensidade do esforço físico e a sua duração”, explica o organizador.

Processo de seleção de ultramaratonistas – O organizador do Desafio Vitória Anchieta, Alen Brandizzi, é conhecido pelo rigor na avaliação do processo de aceitação de inscrição dos ultramaratonistas nas categorias solo 110km, 69km e 50km. Postura que, segundo ele, é adotada única e exclusivamente visando garantir a segurança dos participantes. “Exijo que o atleta comprove a conclusão de treinos e provas oficiais compatíveis com as distâncias do Desafio Vitória Anchieta. Não adianta comparar maratona, que tem 42km, em percurso plano, com uma prova como o Desafio Vitória Anchieta que passa por trechos com terra, pedra, areia e calor. A prova é muito mais pesada do que as pessoas ousam a acreditar”, esclarece Alen.

Inspirações – Dois eventos – um “dentro de casa” e outro no sul do país – inspiraram o organizador Alen Brandizzi a criar a maior ultramaratona do Espírito Santo. Segundo ele, Passos de Anchieta, tradicional caminhada que reconstitui a trilha habitualmente percorrida pelo Padre Anchieta nos seus deslocamentos da Vila de Rerigtiba, atual cidade de Anchieta, à Vila de Nossa Senhora da Vitória, na capital Vitória, foi a primeira inspiração.

“A ideia do formato da prova nasceu a partir do desejo que eu tinha de fazer, correndo, o Passos de Anchieta. Já conhecia algumas provas de longas distâncias, inclusive de nível internacional, e achei que o Passos de Anchieta poderia se transformar em uma corrida. Essa foi a primeira inspiração. A segunda veio há sete anos quando conheci a Volta a Ilha de Florianópolis. Percebi que o formato se encaixava perfeitamente naquilo que eu tinha idealizado para o Espírito Santo. Ouvi muitos “nãos”, mas consegui realizar o projeto piloto e hoje já estamos na quinta edição”, diz Alen.

Consolidação – A prova piloto do Desafio Vitória Anchieta foi realizada em 2011 com apenas cinco equipes participantes. Apenas três concluíram. A primeira edição oficial ocorreu em 2013. Agora, em sua quinta edição, são 112 equipes inscritas.

Atenção ao percurso! São 15 pontos de troca e 17 pontos de controle ao longo dos 110km do Desafio Vitória Anchieta. Através de GPS, a organização é informada sobre a situação de cada atleta: quando anda, pára, se entrou no carro de apoio e pegou carona, a que velocidade vai, etc.

“Não adianta o atleta correr o mais rápido possível. Ele tem que passar efetivamente pelos trechos demarcados no mapa. Ou seja, além de conhecer o percurso ou de ter acesso ao mapa, é preciso ficar atento às marcações no solo e no asfalto, com setas indicativas”, alerta o organizador.

O GPS, segundo Alen Brandizzi, possui entre 150 e 220 pontos. Mede curva a curva. São dois equipamentos que controlam todo o deslocamento do corredor e os dados ficam disponíveis online pelo aferidor em até três dias após a prova.

“Desde que implantamos o GPS, o número de corredores que burlam ou cortam o caminho reduziu bastante, pois eles sabem que a punição é severa e limpa. Atinge a todos. Teve ano que os vencedores da prova cortaram o caminho, mesmo sem saber, e foram desclassificados. O GPS, em 95% do percurso, mostra com precisão. Apenas em 5% ele tem alguma variação, mas que é corrigida por um segundo equipamento, que mostra que o trajeto original foi preservado”, detalha Alen.

Estrutura – A organização da prova movimenta dezenas de pessoas. As prefeituras das cidades dão apoio com efetivo no trânsito, Bombeiros e Polícia Militar. Apesar da prova não deixar impacto de lixo por onde passa, já que não há distribuição de copinhos e garrafas, ela gera volume no trânsito de pessoas nas cidades.

Por isso, nos pontos de controle, equipes de staff ficam posicionadas para dar informações aos corredores, desde a existência de perigos no trajeto, alterações de percurso, fluxo de veículos e etc.

1240646_1483505985200852_9185516772562975376_nBlog Corrida de Rua embarca no carro de apoio de ultramaratonista – Vou fazer parte da equipe de apoio do ultramaratonista Elcio Alvares Neto, único atleta que participou de todas as edições do Desafio Vitória Anchieta na categoria solo com mais de 100km.

O meu objetivo é captar a essência da ultramaratona ao longo das 18 horas (tempo limite para a conclusão da prova) e depois tentar transformar em palavras o que se passa na cabeça, no corpo e no coração do atleta que comemora, em 2017, a marca de mais de 500 quilômetros percorridos ao longo das cinco provas.

Na cabeça de Elcio, a filosofia de concluir o percurso dentro do tempo determinado pela organização. Sem pressa e no melhor estilo “enjoy!”. Nas pernas, as marcas eternizadas de suas principais conquistas (Jungle Marathon, ultramaratona de 275km na Selva Amazônica, e Trilha dos Carijós, ultramaratona com 450km no litoral do Rio Grande do Sul) e, claro, a força para vencer os  110km que contornam o litoral sul capixaba.

13151779_1729357470615701_6973669387851655413_n“Vou brindar essa bela conquista de me sagrar o único ultramaratonista a ter o privilégio de correr essa ultramaratona desde sua primeira edição oficial. E isso me põe muito estimulado e feliz a cruzar essa linha de chegada novamente. Satisfação enorme por fazer parte da história desse evento que, na minha opinião, é o mais desafiador do estado do Espírito Santo”, comemora Elcio Alvares Neto.

A cobertura, que prevê a produção de fotos, vídeos e texto, começa às 4 horas da madrugada e só termina após o atleta cruzar a linha de chegada. Credenciada e sob o aval da organização da prova, vou me deslocar pelos 110km do percurso para captar imagens ao longo de todo o dia e os momentos de superação, dor e alegria do atleta.

(Crédito das fotos que ilustram a reportagem: Treine Certo, Esporte Vix e Arquivo Pessoal).

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