Basta chover que pinta aquela dúvida: encaro o tempo ruim na pista ou recorro à esteira? Muitos corredores até gostam de treinar na chuva e vão sem medo. Outros preferem aquela corridinha “indoor”, sem chance de deixar o tênis pesado e ficar todo encharcado. Certamente é um assunto que divide os entusiastas das corridas.
Em um estudo feito pela Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha, o professor Andrew Jones levou nove corredores para correr em uma rua, medindo o gasto de energia. Depois, ele os levou para correr na mesma velocidade em uma esteira, mas com inclinações diferentes. Qual foi o resultado? Os corredores podem compensar de forma adequada o esforço extra de correr ao ar livre colocando a esteira a uma inclinação de 1%.
Em uma nova pesquisa publicada na revista Sports Medicine, cientistas da Austrália investigaram as diferenças no desempenho de corrida em uma esteira e no chão. Para coletar esses dados, eles analisaram 34 estudos que compararam a corrida em esteira com corridas “externas”. Doze dos estudos pediram que os participantes corressem em um grau de 1% na esteira, enquanto os outros usavam inclinações mais altas ou mais baixas.
Os pesquisadores concentraram-se em três medidas principais de comparação: fisiológicas (como os corpos dos corredores se esforçavam para manter o ritmo e terminar os treinos, medidos pela frequência cardíaca, níveis de lactato no sangue e VO2 max), de percepção (quão duro o treino era para os corredores) e desempenho (performance dos corredores no tempo).
Curiosamente, o estudo constatou que, quando os corredores corriam mais rápido – mas não todos – na esteira, eles exibiam maiores frequências cardíacas e relatavam níveis mais altos de percepção de esforço (ou seja, a corrida era mais difícil) do que quando realizavam o mesmo exercício ao ar livre. Embora tivessem menores níveis de lactato no sangue em comparação com o exterior. Mas quando os corredores andavam mais devagar na esteira, os batimentos cardíacos e os níveis percebidos de esforço eram menores do que quando corriam da mesma forma na rua.
Para algumas medidas de desempenho, como VO2 max, corrida em esteira e corrida ao ar livre foram muito semelhantes. O estudo constatou que os participantes alcançaram o mesmo VO2 máximo (quanto oxigênio seu corpo pode usar durante a atividade física), correndo em 0 ou 1% como no chão. Os corredores também atingiram uma velocidade de tiro similar na pista e na esteira.
Os corredores nos estudos mostraram mais resistência correndo na rua do que na esteira. Ou seja, eles poderiam colocar mais força e por mais tempo.
Isso foi uma surpresa para o autor do estudo, Joel Fuller, à Runner’s World. Uma vez que grande parte da corrida em esteira pode ser controlada (como vento, clima, altitude e velocidade), parece que os corredores teriam melhor desempenho em esteiras. “Ainda assim, quando os corredores são solicitados a simular uma corrida do lado de fora, eles são capazes de atingir tempos mais rápidos”, explicou ele.
Por que isso acontece? A pesquisa sugere que, como as pessoas acham que correr em uma esteira mais difícil, elas tendem a selecionar velocidades mais baixas do que são capazes de fazer.
Velocidade
Um estudo realizado em Cingapura, que pediu que algumas pessoas corressem ao ar livre e então corressem na mesma velocidade em uma esteira, descobriu que quando as pessoas correram na esteira elas foram significativamente mais devagar, mesmo pensando que estavam na mesma velocidade.
Os cientistas responsáveis pelo estudo sugerem que isso acontece provavelmente porque, ao correr dentro de uma academia, você não tem o mesmo visual. Qualquer que seja a causa, parece que, quando corremos ao ar livre, nós, inconscientemente, nos esforçamos mais.
Lesões
Quando se fala de lesões, existe uma ameaça que é comum entre os usuários de esteiras: lesões causadas pelo uso excessivo e a repetição sem variações.
Quando você está em uma esteira, a tendência é se distrair. Repetir os mesmos movimentos aumenta o risco de danos nas juntas ou ligamentos. Então, se você usa uma esteira, é uma boa ideia misturar um pouco, variando a velocidade e a inclinação.
Se você corre ao ar livre, especialmente se você corre fora de áreas asfaltadas, a variedade será muito maior. Cada passo será diferente simplesmente porque você está correndo em uma superfície desigual e variada. As pesquisas sugerem que esse desafio constante não apenas fortalece os ligamentos e ativa uma variedade maior de músculos, mas também melhora o senso de equilíbrio da pessoa.
Seja na esteira ou na pista, o que importa é não deixar de correr!