Como fica a saúde mental dos corredores durante o isolamento social por conta da pandemia de coronavírus? Provas e sonhos adiados, planilhas estacionadas, angústia do confinamento, desânimo… São variados os sentimentos dos atletas.
Por isso, além de manter os exercícios físicos – dentro das condições de cada um -, é essencial dar atenção ao cuidado mental nesta época.
Para compreender as possíveis implicações emocionais da quarentena na vida dos “viciados em corrida de rua”, o blog conversou com a psicóloga Mayara Guzzo, que também é corredora.
Afinal, ficar parado nunca foi a nossa meta. Agora, então, é hora de movimentar ainda mais a mente, além do corpo.
Blog Corrida de Rua – Como superar esta fase de angústia e ansiedade para pessoas tão cheias de energia como nós, corredores?
Mayara: “Neste momento de quarentena, não precisamos entrar em pânico. Pessoas como nós, cheias de energia, veem-se obrigadas a reajustar o ritmo de vida e de nossa família por conta do novo coronavírus.
No entanto, este é o momento de seguirmos as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) para que voltemos o quanto antes à rotina de corredor e demais atividades físicas e laborais”.
Qual a importância de manter os exercícios físicos para a saúde mental neste momento de isolamento?
“Para que tenhamos a manutenção de nossa saúde física e mental, é fundamental fixarmos estratégias para mantermos nosso dia cheio de atividades. Por isso, neste momento de isolamento social, é essencial:
- Montarmos uma rotina
Busque manter o dia a dia mais semelhante possível ao que já estava habituado. Quanto mais energia a pessoa tiver, maior a quantidade de tarefas diárias para serem realizadas.
Acorde, trabalhe e se alimente sempre que possível nos mesmos horários. Tanto nas atividades domésticas quanto no home office (escritório remoto), é essencial respeitar as pausas e o fim de expediente. - Faça exercícios que se adaptem ao momento de quarentena
O exercício físico nos permite sair do sedentarismo e manter o condicionamento. Mas para que ele tenha o efeito desejado, é necessário reservarmos horários e quantidade de dias que consigamos efetivamente realizá-los. Por exemplo, consigo fazer exercícios aeróbicos 3 x por semana às 6 horas, antes dos demais membros da família acordarem. Aproveite o espaço que tenha e acione a sua criatividade.
Se mora em apartamento, aproveite e troque o elevador pelas escadas; faça treinos funcionais na varanda ou quintal de casa; dance e/ou faça ioga. Qualquer exercício físico é válido, e com a internet, nós temos infinitas possibilidades. - Faça atividades relaxantes
Monte uma playlist, separe filmes e séries que você sempre quis ver; cozinhe seu prato favorito; leia aquele livro que nunca deu tempo de começar; reúna a família e faça vídeo chamada para se aproximar daqueles que ama.
É importante frisar que todas estas atividades atreladas a uma alimentação saudável e a uma boa noite de sono ajudarão para quando nossa rotina voltar ao normal”.
É normal o abatimento de corredores que estavam em um alto nível de treinamento e focados em uma prova e agora tiveram que paralisar suas planilhas?
“É normal. Acredito que muitos, como eu, tinham provas alvo já pagas (ou que estavam sendo pagas) e que não poderão ser realizadas na data antes confirmada. Mas, como a maioria das provas foram remarcadas, a exemplo da Olimpíada de Tóquio (remarcada para 2021), nós, atletas amadores e profissionais, precisamos nos reinventar e aguardar até essa onda de pandemia baixar.
Sei o quanto é frustrante criarmos expectativas sobre aquilo que gostaríamos de realizar, mas está tudo bem se hoje não conseguiremos o objetivo anteriormente traçado. Na atual circunstância, estamos numa fase de olhar para dentro de nós, nos acalmar, compreender que a maioria está passando pela mesma dificuldade.
Entender que é uma fase e que, se o seu desempenho/performance nas corridas e demais atividades físicas não for o mesmo que o de antes da pandemia, quando tudo isso acabar, vocês e eu, resilientes que somos, nos motivaremos ainda mais para “correr” atrás do prejuízo.
Precisamos compreender que o momento pede para nos reinventar – seja no exercício, na limpeza da casa, no contato com os pais, esposa/ marido e filhos. O mais importante é se desconectar um pouco de informações excessivas que causam estresse e ansiedade para atividades que ativam o prazer.
Se ainda assim você sinta necessidade de buscar suporte psicológico para enfrentar este momento, busque profissionais inscritos no Conselho Federal de Psicologia, por meio do site https://e-psi.cfp.org.br, os quais podem prestar atendimento psicológico online, seguindo a Resolução CFP n°11/2018″.
Como você, enquanto corredora, está driblando o isolamento?
“Tento colocar em prática o que mencionei acima. Nem sempre consigo. Rotina é bom, mas, às vezes, estressa. Super normal. Tanto quem trabalha fora (no meu caso) quanto pessoas que trabalham em casa não estão acostumados a este ritmo de vida.
Mas, por conta do isolamento social e por morar com meus pais, que têm 60 anos e têm diabetes, conto com o apoio do meu namorado, que é personal e realiza treinos funcionais para seus alunos e o público em geral pelas redes sociais.
Enquanto a pós-graduação suspende as aulas, sigo lendo os livros e me atualizando, assistindo a filmes, treinando técnicas de respiração. Enfim, tentando aprender atividades novas e crescer também como pessoa.
A empatia é imprescindível neste momento. Cada um está vivendo de uma maneira única seu isolamento – uns mais facilmente, outros com mais dificuldade (até financeiramente). Mas acredito que passaremos por tudo isso com um olhar mais otimista pela vida, de maneira grata por tudo que temos e pensando mais no coletivo”.
Sigamos então as dicas da especialista para manter em ordem a nossa saúde mental. Tudo isso vai passar!!! A corrida está no nosso sangue e em nossa alma e, como estamos acostumados a superar metas e desafios, este problema será mais um a ser ultrapassado.
#fiquememcasa
#blogcorridaderua
Super matéria!
Abordagem extremamente importante.