“Se eu consigo com uma perna só, por que uma pessoa que tem duas pernas não consegue? Todo mundo tem problema, mas basta saber como encará-lo. Tem que sair da zona de conforto”. Essa é a lição deixada pelo corredor e policial penal Rodrigo Alves, de 41 anos, ao completar o percurso de 7km no Circuito Capixaba de Montanhas (CCM), em Venda Nova do Imigrante, no último domingo (16).
Usando uma muleta, ele encarou ladeiras, trilhas, mato e pedras de cabeça erguida, arrancando aplausos dos corredores e do público que prestigiava o evento. Na chegada, a emoção foi grande. Ele confessa que não esperava tamanha repercussão.
“Não tem como não ser notado, né (risos), mas não achava que seria tão legal a receptividade. Todo mundo batendo foto e palmas. Me senti uma celebridade. Foi uma reviravolta em minha vida. Foi minha primeira prova após a amputação da perna. Era trilha, mas tive a ajuda de amigos e consegui concluir, apesar de ser bem difícil”, contou Rodrigo.
Superação faz parte do percurso de vida de Rodrigo. Morando em Vargem Alta, ele trabalhava como policial penal no complexo penitenciário de Viana, onde cumpria a escala 24h/72h.
No dia 19 de janeiro de 2019, ele pegou sua moto e partiu para mais um dia de trabalho. Ele lembra que não estava legal na viagem. “Saí de casa por volta das 21 horas, mas estava cansado, pois não tinha dormido bem. Quando cheguei à BR 262, depois do trevo da PRF, sentido Viana, por volta das 23h20, cochilei na moto e bati no poste, pegando perna esquerda. Tive fratura exposta na tíbia e fui socorrido”, recordou o corredor.
Rodrigo passou por cirurgia e, depois de três dias, teve uma infecção hospitalar. “Foi quando o médico avisou que eu tive uma amputação acima do joelho. Foi um baque. Fiquei 32 dias no São Lucas. Quando tive alta, a ficha caiu e fiquei mal”.
Foi aí que ele começou a levantar poeira. “Fui vendo que tudo tem propósito. Fui transformando isso em superação. Depois de três meses, voltei para a academia. Considero aquele dia como minha segunda data de nascimento. Podia ser bem pior, mas tive uma nova oportunidade e me reergui”, afirmou o guerreiro.
Ajuda
O apoio que recebeu também foi fundamental. Amigos de Castelo se mobilizaram para organizar uma corrida solidária visando arrecadar fundos para a compra da prótese de Rodrigo. Também teve rifa com o mesmo propósito. Até que, em agosto de 2019, foi para Belo Horizonte e colocou a prótese.
Mudanças
Após quase um ano afastado do trabalho, ele pediu transferência para a unidade prisional de Cachoeiro de Itapemirim, diminuindo o percurso casa (Vargem Alta) x trabalho e voltou ao serviço, em fevereiro de 2020.
Corredor há uma década, ele passou a seguir atletas com deficiência nas redes sociais. “Conheci um cara da Bahia que não tem uma perna. Ele correu 42km em uma prova de triathlon. Aí pensei: “Posso fazer também””.
Rodrigo começou a correr de muleta no ano passado, mas alega que doía tudo: perna, mão, braços. Confessa que desistiu e ficou cinco meses sem treinar.
No início deste ano, um amigo o chamou para participar da prova do CCM e o inscreveu. “Mesmo estando em cima da hora, treinei uma semana e uns dias. Como tenho estrutura boa de academia, encarei e consegui completar. Agora, vou me preparar para correr a Dez Milhas Garoto, em setembro”, disse Rodrigo.