Atleta conta curiosidades e benefícios da corrida reversa

Você já ouviu falar em corrida reversa? É a prática de correr de costas? Parece difícil, não? Quem responde é Nivaldo Macalé, que se intitula como “o único Soteropolitano que sobe correndo as ladeiras de Salvador (BA) de costas”.

Ele procurou o Blog Corrida de Rua para falar um pouco sobre seu estilo de corrida. Para completar, ele ainda gosta de fazer isso em ladeiras. A mais alta que já subiu foi a Ladeira da Barra, com 860 metros.

Bati um papo com ele para entender um pouco mais. Veja abaixo:

– Há quanto tempo começou nessa modalidade?
“Já perdi as contas, mas com certeza pratico essa modalidade há uns 07 anos e costumo chamar de corrida reversa. Comecei quando eu tinha 57 anos, hoje estou com 62, e nesse meio tempo dei algumas paradas por problemas de saúde, após duas hérnias de disco, nervo ciático em situação crítica, quase 20 dias ou mais um pouco de cama sem poder sentar ou andar, estou de volta! O médico mandou fazer cirurgia. Me apresentaram um quiropraxista, e com apenas 5 manipulações fiquei bom a ponto de voltar a praticar”.

– Por que escolheu a marcha?
“Na verdade, foi a marcha reversa que me encontrou, estava eu descendo uma ladeira aqui de Salvador quando, de repente, um jovem de estatura mediana, forte, vinha correndo de costas, em sentido contrário com muita elegância. Fiquei olhando e pensando como uma pessoa consegue subir ladeira de costas? Aquela cena ficou em minha cabeça por muito tempo. Nessa época, eu praticava a corrida convencional e também subia ladeira.

Resolvi tentar e…foi uma decepção. Eta troço difícil, haha. Me faltava coordenação e forças nas panturrilhas.

Nos primeiros dias, eu não conseguia correr nem 50 metros, e as panturrilhas queimavam de uma forma absurda. Bom, durante um bom tempo eu fiquei tentando pegar a prática e aprendendo a não me esbarrar no meio-fio, no acostamento da via, mas confesso já ter caído algumas vezes, sendo que uma foi um tanto séria. Fui mudar minha rota sem conhecer, tropecei no meio-fio, caí e bati com a cabeça em um poste de ferro. Fiquei tonto por alguns dias, mas tá tudo bem.

Voltando às subidas, finalmente depois de meses praticando e aprimorando os movimentos, cheguei quase à metade de uma ladeira que mede aproximadamente uns 860 metros. Continuei por quase um ano subindo até quase a metade da ladeira. Certo dia, umas 22 horas, tomei uma decisão: vou subir toda a ladeira de uma única vez. Me arrumei e sair. Fiz meu trote até o Cristo da Barra e encarei de uma só vez 860 metros de ladeira correndo de costas.
Também “cheguei aos trancos e barrancos” e as minhas pernas estavam totalmente sem comando.

Objetivo alcançado, Graças a Deus! Daí em diante, passei a subir toda a ladeira correndo de costas umas duas vezes por semana, e, com o passar dos anos, de uns três, quatro anos pra cá, quase todos os dias.

Quando fiquei bom em subir ladeiras e comentava com as pessoas, quase ninguém acreditava, acho que só tiveram mesmo certeza de que fazia esse tipo de esporte, depois que passou a matéria na TV. Pronto! Agora todos sabem que eu pratico a marcha reversa, ou melhor, corrida reversa. Digo isso porque ela pode até ser marcha durante a subida e descidas de ladeiras, mas quando eu pego o terreno plano se torna corrida, pois emprego mais velocidade nessa fase”.

Assista a um vídeo dele

– Quais são as maiores dificuldades de praticar essa modalidade?
“As maiores dificuldades em praticar essa modalidade são a falta de espaço aberto para treinar, trânsito intenso, buracos nas vias, asfalto irregular e veículos que entram e saem das garagens, fora o cansaço físico e mental.

A parte boa é que seus sentidos ficam mais apurados ou aguçados, a exemplo da nossa visão periférica, coordenação motora resistência física, sistema cardiovascular dentre outros”.

– Você diz que corre sozinho. Faltam competições, divulgação e apoio?
“Para quem pratica um esporte amador tanto aqui em Salvador quanto no Brasil como um todo, é uma dificuldade surreal pra se conseguir apoio. O atletismo, o karatê e outros esportes são alguns exemplos. Com a Marcha Reversa, que é uma modalidade totalmente desconhecida do grande público, não é diferente, é ainda mais difícil de se conseguir apoio. Até pra fazer camisas as empresas especializadas exigem uma certa quantidade.

Poucos países praticam, a exemplo do Reino Unido, Portugal, Alemanha, México e outros. O México tem um representante chamado Diego Pollin. O Brasil tem o campeão de marcha reversiva, o Carlos Henrique de Souza, mais conhecido como “Etron”. Ele já subiu o maior pico de Portugal de costas. Esse é fera.

Tem um brasileiro ex-praticante de boxe que é recordista mundial em subidas e corridas de costas. Ele treina e concorre utilizando protetor de cabeça e luvas, seu nome entrou para o Guiness Book.

Tem outro brasileiro que costuma difundir o esporte no seu estado e até tem campeonatos, a própria mídia não fala a respeito, apesar de já ter participado de dois programas aqui em Salvador: TV Bahia e Rede Record portanto, não temos apoio e muito menos competições.

Costumo correr sozinho porque não conheço ninguém que pratica essa modalidade aqui na minha cidade (Salvador-BA).

Curiosidades
Coisas que costumo ouvir, ditas por pessoas que passam andando, de moto, de veículos ou das janelas dos seus apartamentos:
– “Vai maluco”
– “Procura um psiquiatra”
– “Andar de costas faz mal”
– “Você está atrasando a sua vida”
– “Está agorando a sua mãe”
Eu faço apenas sorrir, pois acho tudo isso muito engraçado e ao mesmo tempo inusitado, pois as pessoas não estão habituadas a ver alguém correndo de costas e ainda mais subindo ladeira.
Por outro lado, tem os que manda boas energias:
– “É isso aí, coroa”
– “Buzina e dá tchau”
– “Só no talento em coroa?”
– “Parabéns, coroa”
– “Bora Papai Noel”
– “Papai Noel chegou cedo esse ano”
Me divirto muito com tudo isso.
Nivaldo Macalé
Quer acompanhar a rotina de Nivaldo? Ele tem o Instagram @corrida.reversa .

4 Replies to “Atleta conta curiosidades e benefícios da corrida reversa

  1. Matheus, ficou show a matéria. Muitíssimo obrigado. Foi uma honra muito grande participar desse papo. Gratidão!

  2. Sou seu fã, Macalé!
    Você é um exemplo de persistência e resignação.
    Sinta-se fortemente abraçado

  3. Eu prático aqui em Guarulhos SP. Comecei porque, ouvi uma voz: ande de costa. Achei que tava louco. Mas dei crédito a voz do espírito santo!. Aí comecei caindo,levantando. Começava reto terminava do outro lado da rua. Resumindo eu estava ficando travado, andava se arrastando, nervo ciático, lombar e colina. Hoje ando normal
    Melhorou muito. Faço dois mil metros, recomendo! Se tiver uma quadrada, pratique ao redor. Ou numa rua sem saída. Aqui tem o Rodoanel, que não está terminando então prático lá. Tem uma marcação na rodovia do 0 ao 500 metros. No começo só fazia 1000 agora faço 2000 metros.

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