Corrida Correndo Para Vencer é exemplo de que todos merecem novas oportunidades

A corrida como ferramenta de transformação social e reflexão. Esse é um dos caminhos percorridos pelo projeto Correndo Para Vencer, criado pela Vara de Execuções Penais de Vila Velha.

A prova deste domingo (27), que leva o mesmo nome do projeto, provou que ele está mudando a vida de mulheres e homens que cumprem pena em unidades prisionais do regime semiaberto.

Além de melhorarem as habilidades no esporte, os apenados desenvolvem o autoconhecimento, o cuidado com a saúde física, mental e emocional. Em contrapartida, a sociedade desperta para um novo olhar, de mais compaixão, esperança e confiança de que eles podem sair melhores do presídio.

Flávia e Severino: exemplos de ressocialização

E foi exatamente isso que vivenciamos neste último final de semana. Durante a entrega dos kits aos egressos, no último sábado (26), no Shopping Vila Velha, o Blog Corrida de Rua conversou com dois deles: Flávia e Severino. São lições de que a vida dá novas chances.

Flávia

“Meu nome é Flávia. Cumpro pena no Complexo de Bubu, em Cariacica, por homicídio e uma tentativa há doze anos. Já vai fazer cinco meses que eu estou no regime semiaberto.

Eu já ouvia falar do projeto e sempre tive curiosidade e vontade de participar. Vejo as meninas que entram no projeto é uma boa pra elas, porque elas ocupam e voltam a mente pra coisas boas, porque, infelizmente, a gente comete um delito e acaba pagando por ele. Hoje, graças a Deus, nós temos a oportunidade de voltar para a sociedade.

Eu treino na praia com a juíza Patrícia Faroni duas vezes na semana. Nesses 12 anos, eu passei por muita coisa lá dentro, foi preciso para eu ser a pessoa que eu sou hoje. Me transformei. Hoje eu sou outra pessoa”.

Severino

“Cumpro pena há 13 anos por homicídio, tráfico, tentativa, porte ilegal e formação de quadrilha. Cheguei à CASCUVV (Casa de Custódia de Vila Velha), onde fui indicado para o projeto de corrida. Eu era tranquilo, não tinha problema de indisciplina. São oportunidades que surgem durante o tempo em que você está preso.

O esporte é uma ferramenta de inclusão social. Faz com que a gente pense sobre tudo que você fez na vida. O que queremos daqui pra frente? A gente quer se reconstruir, se reconstruir novamente como pessoa, sempre melhorando.

Sem o erro, não tem como você melhorar. Você erra pra depois acertar. Para mim, o projeto está sendo muito importante, porque eu pude repensar. Por meio da doutora Patrícia Faroni, consegui uma bolsa de estudo na faculdade de Farmácia.

Já penso em ter o meu próprio negócio quando terminar o curso. O que ficou pra trás é aprendizado. Hoje conheço os dois lados, o bom e o ruim. Hoje, consegui me desvencilhar, sendo que muitos não tiveram essa oportunidade e acabaram perdendo a vida.

A sociedade luta contra o homicídio, o tráfico… numa luta do mal contra o bem. O ser humano, infelizmente, precisa sofrer o dano para aprender. Então, isso foi bem construtivo pra mim. Tive oportunidade de parar pra pensar e rever os meus conceitos como ser humano”.

Projeto Tocando em Frente fez apresentação musical na chegada da corrida

Na Corrida Correndo Pra Vencer, eles não escondiam a satisfação por deixar o passado para trás e correr em busca de novos horizontes e caminhos. Uma celebração do esporte e da ressocialização.

Após os percursos de 5 e 10km, todos os atletas ainda tiveram a oportunidade de curtir uma apresentação musical do projeto “Tocando em frente”, cujo grupo também é formado por apenados, no Parque da Prainha, em Vila Velha.

Histórico

Desde 2020, quando foi criado o “Correndo Para Vencer”, vários grupos diferentes foram formados, conta a idealizadora e também corredora, juíza Patrícia Faroni. “São grupos dinâmicos, já que muitos progridem para o regime aberto e saem do sistema. E o resultado é de zero reincidência, nenhuma dessas pessoas retornou ao sistema prisional com cometimento de crime”, comemora a magistrada.

O sucesso da iniciativa também se deve às parcerias e aos voluntários. Ministério Público, Defensoria Pública, Comissão de Direitos Humanos da OAB/ES, educadores físicos, agentes penitenciários, policiais, empresas privadas. Todos ajudam como podem, doando treino, tempo, roupas e materiais.

A corrida deste final de semana foi realizada pela empresa Resultado Final. Confira os resultados. Ao todo, foram 600 inscritos e, entre os que correrão, estão 26 reeducandos, sendo 15 homens e 11 mulheres, além de outros que já são egressos.

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