Carro-chefe do país nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, o atletismo brasileiro alcançou, na noite de quarta-feira (14.09), sua 23ª medalha. A prata veio no revezamento 4 x 100m feminino, classe T11-13, para deficientes visuais. O time formado por Thalita Simplício, Alice Correia, Lorena Spoladore e Terezinha Guilhermina cruzou a linha de chegada com o tempo de 47s57. A China ficou com o ouro ao bater o recorde mundial fechando a prova em 47s18. A medalha de bronze foi para a Colômbia (51s93).
A equipe brasileira largou melhor e passou à frente logo no início da prova. A liderança durou até a terceira troca de bastão, quando as chinesas assumiram a ponta. “A gente sai com o sentimento de vitória. Nossos revezamentos, infelizmente, sempre tiveram problemas técnicos, mas desta vez a gente conseguiu. Não queimamos, conseguimos a medalha de prata e costumo dizer que é um passo de cada vez. Hoje a gente está na prata e amanhã, com muito treinamento, a gente vai estar com o ouro” analisa a brasileira Lorena Spoladore.
A prata do revezamento foi a primeira medalha de cada uma das quatro atletas nesta edição da Paralimpíada. Principal estrela do atletismo feminino, Terezinha Guilhermina já havia disputado as provas dos 100m e 200m rasos da categoria T11, mas foi desclassificada em ambas. Terezinha disse que o carinho oferecido pelo público nas provas anteriores lhe deu forças para buscar o pódio. “Na terça, eu já saí de cabeça erguida. Quando deixei a pista com a torcida inteira aplaudindo, já me senti suficientemente consolada e confortada para me reerguer e vir hoje em outra roupagem, mas com a mesma alegria e com a mesma motivação”.
Atleta mais experiente do time de atletismo brasileiro, Terezinha, que tem 38 anos, ressaltou a importância dos treinamentos e do trabalho em equipe para a conquista da medalha. “Eu sempre falei o seguinte: Essa é uma medalha que ninguém ganha sozinho. A gente tem que entrar como time. Para ser time tem que trabalhar junto, tem que treinar junto, tem que pensar junto. Nós todas estávamos nos dedicando, estávamos treinando na aclimatação durante dois períodos para fazer o treino individual e o de revezamento. Então, a prioridade era fazer o bastão correr”, conclui.
O bronze de Verônica Hipólito
Durante as provas da manhã, a velocista Verônica Hipólito conquistou sua segunda medalha nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Com o tempo de 1min03s14, a atleta garantiu o bronze na prova dos 400m rasos, classe T38, para atletas com paralisia cerebral. Antes, na sexta-feira (09.09), Verônica já havia ficado com a prata nos 100m rasos da mesma classe.
Aos 12 anos, Verônica foi diagnosticada com um tumor no cérebro. No início de 2013, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que afetou os movimentos do lado direito do corpo. Mais tarde, a atleta descobriu que tinha uma síndrome rara, chamada Polipose Adenomatosa Familiar e precisou retirar 90% do intestino grosso. No ano passado, voltou a ter um tumor no cérebro. Mesmo com todas as dificuldades, não desistiu.
“Quem falar para você que é impossível, não é. Falar o que pode e o que não pode, todo mundo fala, mas é você quem vai fazer, você que decide sua vida. Tinha gente que falava que eu não ia nem voltar a andar depois do AVC e estou correndo hoje e ganhando medalhas. Quero melhorar cada vez mais. Se tiver que operar de novo, eu vou operar. O problema não é a gripe, o AVC, o tumor, a lesão… Não é a isso que você tem que se apegar. Você tem que focar no tratamento, na cirurgia, no depois. Não deixem a dor ser maior que a solução. A solução é sempre maior e é isso que me faz estar aqui hoje”, ensina Verônica.
Realizada e feliz com o próprio desempenho, a paulistana disse que não imaginava participar dos Jogos Paralímpicos. “Eu não esperava nem vir. No dia 20 de agosto do ano passado, eu estava passando por cirurgia. No dia 1º de setembro (de 2015) eu devia estar chorando de dor. Agora, estou aqui comemorando”, conta.
As medalhas, segundo Verônica, são fruto de um trabalho em equipe. “Eu tenho de dividir essa medalha com várias pessoas. Elas estão ali fora e vou fazer questão de tirar foto com elas. Este bronze é meu ouro”, comemora a atleta, citando médicos, preparadores físicos e amigos.
Com a já conhecida irreverência, Verônica brinca e diz que não teve tempo para se preocupar com o tumor que tem no cérebro. “Eu tinha até esquecido, na verdade. Meu médico me mandou estes dias uma mensagem e eu pensei: ‘É mesmo, eu estou com um tumor na cabeça!”.
Verônica, que continuará com o tratamento para eliminar de vez o tumor, afirma que seu foco continua no esporte, mas que pretende voltar a estudar. A atleta cursa economia na Universidade Federal do ABC e conta que os alunos da faculdade fizeram uma mobilização para assisti-la competindo. “Houve até uma repercussão na minha faculdade que eu não esperava. Colocaram uma televisão para me assistirem, mas isso não foi o mais legal. O mais legal de tudo é que colocaram áudio-descrição, libras, espaço para cadeirante, aumentaram o número de rampas. Então, para mim, a Paralimpíada não ficou só na Paralimpíada. Minha faculdade já era muito acessível e agora vai ficar mais ainda”, ressalta.
Outros brasileiros
Além das mulheres medalhistas do dia no atletismo, outros brasileiros disputaram eliminatórias e finais. Aline Rocha competiu nos 5.000m classe T54 e, com a nona posição, não se classificou. Já Maria de Fátima Fonseca disputou a mesma prova e avançou à semifinal. Izabela Campos, do arremesso de peso F12, ficou na 11ª colocação na disputa final da modalidade.
Felipe Gomes e Daniel Silva conseguiram a classificação para a final dos 200m rasos T11. Felipe passou em segundo lugar, com o tempo de 22s50, e Daniel, em terceiro, com 23s01. Nos 100m masculino T12, Diogo Ualisson queimou a largada e foi eliminado. Na parte da tarde, João Victor não conseguiu pódio na final do arremesso de peso F37 e ficou na quinta colocação. Cotada como uma das favoritas para a decisão dos 400m T47, Teresinha de Jesus sentiu uma contratura muscular na panturrilha direita e não correu.
Com as 23 medalhas conquistadas no Rio de Janeiro, o atletismo brasileiro já tem a melhor campanha da história da modalidade em uma edição de Paralimpíada. Ao todo, são sete ouros, 10 pratas e seis bronzes.
Fonte: Ministério do Esporte
Foto capa: marcio_rodrigues_mpixcpb