Em busca da primeira estrela

*Este conteúdo faz parte da campanha em parceria entre Museu do Futebol e ONU Mulheres para dar visibilidade às mulheres do futebol durante a Copa do Mundo de Futebol Feminino da Austrália e Nova Zelândia

Começou a maior Copa do Mundo de Futebol Feminino de todos os tempos! A bola rolou na última quinta (20), na Austrália e na Nova Zelândia, inaugurando a nona edição do Mundial organizado pela FIFA – a primeira a ter 32 seleções na disputa desde sua criação em 1991.

O Brasil, que  vai em busca de seu primeiro título sob o comando da treinadora sueca Pia Sundhage, derrotou nesta segunda-feira (24), a seleção do Panamá por 4×0: uma estreia de gala, que teve hat-trick de Ary Borges.

Esta edição marca também a última participação de Marta nas Copas. Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo e atualmente Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, a “Rainha” do futebol anunciou que esta será sua despedida dos Mundiais.

Em entrevista à ONU Mulheres, Marta falou sobre a preparação da Seleção Feminina, as expectativas para disputar um Mundial pela última vez e sobre como o futebol feminino tem se consolidado como um espaço de protestos e reivindicações pela igualdade de gênero e pelos direitos das mulheres.

“É a Copa do Mundo da virada, veremos um nível altíssimo de futebol em campo e com muitas lutas fora dele também, com mulheres cada vez mais cientes do seu papel na sociedade e empoderadas com suas falas”, avaliou a camisa 10.

 

Marta é a maior artilheira da história das Copas, com 17 gols em cinco edições. Foto: Thaís Magalhães/CBF

Marta vai disputar sua sexta Copa do Mundo. A primeira foi em 2003, com apenas 17 anos, e ela balançou as redes em todas as edições do torneio desde então. Em duas décadas, se tornou a artilheira da Seleção Feminina, com 122 gols, conquistou duas medalhas olímpicas de prata (2004 e 2008), uma de prata em Copa do Mundo (2007) e duas de ouro em Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007). Na Austrália, pode ser tornar a primeira futebolista entre homens e mulheres a marcar em seis edições de Copa do Mundo.

“Me sinto mais experiente. Aos 37 anos, sei que não tenho mais a mesma forma física da minha primeira Copa do Mundo com 17 anos, mas estou aqui com muita vontade de ajudar e trazer esse título. É também uma Marta mais consciente do seu papel no time, com certeza com muita vontade de construir algo especial com esse grupo que é tão forte, unido e disposto a jogar de igual para a igual com todas as seleções. Podem ter certeza que o Brasil vai dar o melhor nessa Copa do Mundo”, explicou.

 

Um dos trunfos da Seleção Feminina nesta competição é ter um elenco forte que mescla o talento e a velocidade de jogadoras mais jovens, que vão disputar um Mundial pela primeira vez – como Antônia, Ary Borges, Gabi Nunes e Kerolin -, com nomes mais experientes – como Marta e Tamires -, que passam maior confiança para o grupo nos momentos de pressão. Tamires, que também atuou como atleta de referencia do programa Uma Vitória Leva à Outra, programa implementado por ONU Mulheres em parceria com o Comitê Olímpico Internacional e a ONG Empodera, analisou o momento da equipe:

“Estamos com um grupo muito unido e trabalhando muito para levar o título. De 2019 pra cá, a Seleção mudou muito, temos uma equipe com novas caras e com jogadoras também muito talentosas para assumir essa responsabilidade de defender o Brasil em uma Copa do Mundo. O futebol feminino tem crescido muito na performance e em suas lutas. Essa vai ser a Copa do Mundo da virada para a modalidade, dentro e fora de campo. Vamos ver seleções muito preparadas e jogando no mais alto nível, mas fora dele veremos mulheres fortes e, que depois de muito lutarem, têm seu lugar de fala na sociedade, que hoje são tratadas com profissionalismo e como o alto nível também chegou aos clubes”, afirmou Tamires à ONU Mulheres.

A melhor classificação do Brasil na história da Copa do Mundo foi em 2007, quando a Seleção chegou à final, mas perdeu o ouro para a Alemanha. Na ocasião, as atletas brasileiras subiram ao pódio com uma faixa de protesto em que se lia “Brasil, precisamos de apoio”, um alerta para a falta de investimento, de estrutura e de oportunidades no futebol feminino. Foi uma das muitas manifestações feitas por futebolistas em prol da igualdade de gênero e dos direitos das mulheres no esporte. Por ter sido um espaço historicamente dominado por homens em muitos países, o futebol tem se consolidado como uma plataforma e um palco em que as jogadoras chamam atenção para esses problemas.

Nesse sentido, a ONU Mulheres se uniu à FIFA em uma iniciativa para tornar um dos maiores espetáculos esportivos do planeta também um palco para fortalecer os direitos humanos das mulheres.  Na campanha global “Futebol Une o Mundo”, as capitãs das seleções que disputarão o Mundial usarão braçadeiras com mensagens ligadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, como união pela igualdade de gênero, pelo fim da violência contra meninas e mulheres, pela paz, pelos povos indígenas, pela educação, pela erradicação da fome, entre outros.

A ONU Mulheres Brasil reconhece o potencial do esporte como ferramenta para empoderar meninas e mulheres e eliminar a violência de gênero. Em 2023, a entidade iniciou uma nova fase da parceria com o Comitê Olímpico Internacional (COI), intitulada “Igualdade de Gênero por meio do Esporte”, que aproveita o legado do programa Uma Vitória Leva à Outra e oferece uma plataforma de intercâmbio de boas práticas para inclusão de gênero no esporte, além de incentivar governos, agências da ONU, organizações de esporte para o desenvolvimento e a paz e outros agentes do ecossistema esportivo a se comprometerem com os princípios do Esporte para a Geração Igualdade.

Seleção Feminina vai em busca de seu primeiro título na Copa do Mundo. Foto: Thaís Magalhães/CBF

“As manifestações são muito importantes, o futebol feminino é um espaço de luta e de fala. Quanto mais as mulheres tiverem espaço para expor suas opiniões e defenderem suas convicções, a sociedade será beneficiada como um todo”, avalia Marta.

Além de Marta, a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia também marca a despedida de outra grande estrela: a estadunidense Megan Rapinoe, que ganhou os holofotes na última edição do Mundial em 2019 não apenas por seus gols, mas por usar sua voz para exigir melhores condições para o futebol de mulheres, inclusive eliminação da desigualdade salarial, de premiações e de patrocínios. Maior campeã da Copa do Mundo e da Olimpíada, a seleção feminina de futebol dos Estados Unidos processou a Federação (US Soccer), que foi obrigada pela Justiça a pagar indenização e garantir salários igualitários para homens e mulheres no futebol.

A Copa do Mundo da Austrália e da Nova Zelândia terá um recorde de premiação da FIFA para o : o time campeão receberá US$ 15,7 milhões, quatro vezes mais do que o valor da última edição da Copa, em 2019, que foi de US$ 4 milhões). Também serão distribuídos US$ 110 milhões em premiações para as seleções e as jogadoras receberão prêmios individuais de até US$ 270 mil por sua participação. Apesar de serem valores inéditos para a modalidade, ainda é extremamente baixo na comparação com o futebol masculino – campeã da Copa em 2022, a Argentina faturou US$ 42 milhões pelo título, quase três vezes mais do que as mulheres receberão.

Além de Rapinoe, Marta também se manifestou pela igualdade salarial em 2019. Após marcar seu primeiro gol, a atleta apontou para a chuteira, que não tinha patrocínio de fornecedor de material esportivo – apenas um símbolo azul e rosa do movimento– para protestar pela diferença dos valores de patrocínio oferecidos para homens e para mulheres.

Em sua sexta e última Copa do Mundo, ela espera seguir inspirando jogadoras dentro e fora do gramado.

“Esse trabalho de inspirar meninas e mulheres como Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, é um trabalho diário. Como jogadora da seleção brasileira, sei que já ganhei muitos título individuais, mas eu jogo um esporte coletivo e isso é uma construção diária com as minhas companheiras e também uma troca. Eu aprendo muito com elas e elas aprendem comigo. E é muito especial estar sempre aberta para ter essa troca. Mas, sempre que posso, passo da minha experiência e da nossa história pra chegar até aqui”, arrematou a camisa 10.

 

Por Olga Bagatini, especialista em comunicação na ONU Mulheres Brasil

 Museu do Futebol

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