Para Platini, estádios são o verdadeiro legado da Copa do Mundo
Platini é considerado como a principal ameaça ao reinado de Joseph Blatter na Fifa. Mas, por enquanto, não anunciou se será ou não candidato para a presidência da entidade, em 2015
Nyon, Suíça - O legado de uma Copa do Mundo são os estádios. A declaração é do presidente da Uefa e ex-craque francês, Michel Platini, que aponta que as doze arenas no Brasil serão as principais heranças do evento para o futebol brasileiro. Em entrevista exclusiva, o dirigente faz um raio X do estado do futebol mundial e coloca o Brasil como "o grande favorito" para vencer o Mundial, que começa no mês que vem. Mas alerta: o fato de jogar em casa não faz com que a bola entre no gol automaticamente.
Platini é considerado como a principal ameaça ao reinado de Joseph Blatter na Fifa. Mas, por enquanto, não anunciou se será ou não candidato para a presidência da entidade, em 2015. Eis os principais trechos da entrevista:
Agência Estado - Existe espaço para que uma seleção apareça como a grande surpresa da Copa?
Michel Platini - A surpresa serão as seleções europeias. Obviamente eu quero que os europeus ganhem. Afinal, eu sou o presidente da Uefa. Eu sei que os brasileiros não querem isso. Mas nós aqui vamos para disputar o título. Agora, é verdade que eu acredito que será muito difícil derrotar os sul-americanos. Já faz muito tempo que a América do Sul não ganha a Copa.
Agência Estado - Quem entra na Copa como favorito?
Platini - O Brasil é sem dúvida o favorito. Normalmente, em outros Mundiais, o Brasil já aparece sempre como um dos favoritos. Mas desta vez, eles (brasileiros) jogam no Brasil, o que reforça ainda mais essa condição.
Agência Estado - Mas jogar em casa uma Copa significa automaticamente um resultado melhor?
Platini - É verdade. Não significa necessariamente que um time marque mais gols em casa.
Agência Estado - E a pressão local, não seria um obstáculo?
Platini - Claro que a pressão é um fator. Mas nesse nível, todos os jogadores atuam em grandes clubes e estão mais que habituados a enfrentar a pressão. Existem jogadores que gostam da pressão. Depende do jogador. Mas o Brasil é favorito.
Agência Estado - Qual será o impacto da Copa do Mundo no Brasil para o futebol brasileiro?
Platini - Agora, o Brasil terá meios. Falamos muito de infraestrutura, dos estádios. No Brasil, eles representaram alguns problemas. Na verdade, muitos problemas. Mas agora estão lá e vão ficar lá. Agora, cabe aos brasileiros usar isso. Essa é a herança. Na França, na Itália, eles queriam ter esses estádios.
Agência Estado - Mas os melhores jogadores brasileiros ainda estão na Europa...
Platini - Claro. Mas talvez com maiores investimentos nos estádios, os jogadores brasileiros ficarão em seus países. O legado de uma Copa são os estádios. O legado da Eurocopa de 2016 na França serão os estádios. Todo mundo queria a Eurocopa para fazer estádios. Com o estádio, pode-se permitir que um clube e o futebol cheguem a um nível internacional de forma mais fácil.
Agência Estado - Muitos falam que o futebol é muito mais veloz hoje que há alguns anos. O que isso mudou o jogo?
Platini - Não acredito que os jogadores hoje sejam mais rápidos que no passado. Hoje, joga-se de uma forma diferente. Antes, você tinha mais tempo para descansar dentro do próprio campo. Quando a bola saia e até que ela voltasse, poderia levar 50 minutos se o jogo fosse em Nápoles e eles estivessem ganhando. Muitas vezes a bola voltava apenas amanhã. Havia ainda a troca de passes entre o zagueiro e o goleiro. Hoje, o jogo é disputado em todos os seus 90 minutos. Os jogadores não são mais rápidos. Mas jogam mais. Uma coisa é certa: hoje, o futebol é melhor que antes. Não digo que a seleção brasileira de hoje seja melhor que a de 1970. Mas quando vemos os campeonatos nacionais, na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, vemos um excelente futebol na base.
Agência Estado - Como o sr. vê os jogadores chegando hoje para a Copa do Mundo, depois de uma temporada desgastante para tantos atletas?
Platini - Alguns podem chegar cansados. Mas outros podem chegar em plena forma. Por experiência, é difícil saber quem vai chegar em plena forma. Vamos ver quando a Copa começar.
Agência Estado - Quem poderá ser a grande estrela da Copa?
Platini - Nos anos 50 ou 60, descobríamos jogadores durante uma Copa. Hoje, já conhecemos todos eles. Messi, Ronaldo e Ribery estarão na Copa e são os melhores do mundo hoje.