Ontem no perfil do Folha Vitória (@folhavitoria) fiz uma live recebendo Dra.Thaís Paste, médica psiquiatra que busca trabalhar aspectos da consciência humana, nos colocando numa dinâmica de observação das nossas emoções e pensamentos sem nos identificarmos e achar que somos eles.
O tema foi a “cultura do cancelamento” e o quanto é sensível a condição de julgar outras pessoas, tendo em vista que algumas vezes, na intensidade de conscientizar o outro de seu erro/ofensa em temas delicados, corremos o risco de nos tornarmos desumanos, de certo modo “aniquiliando” aquela figura e acabando com suas trajetórias.
Dra.Thaís começou reforçando como é forte este tema de “cancelar” pessoas, mesmo no meio digital, e que isso pode revelar algo sobre nós mesmos a partir da psique humana. Citou Jung ao dizer que “o processo de vida é se individualizar e tornar-se quem realmente é” e isso não tem nada a ver com a perfeição, mas muito mais com ser completo, inteiro, e isso inclui olhar para nossas próprias sombras.
Nessas sombras existem muitas coisas que a gente não gosta sobre nós mesmos, que julgamos e criticamos no outro, que a sociedade também não valoriza, mas que faz parte da nossa complexidade humana. Ao negar nossas próprias sombras, projetamos no outro, que funciona como um espelho e nos ajuda a ver aquilo que escondemos. É possível que aquilo que nos irrite em alguém, também habite dentro de nós. Nem tudo está perdido: na sombra também há muito potencial não vivido e coisas boas.
Para que possamos entrar nesse processo, é preciso “desconstruir nossa imagem”, a “persona” que criamos a partir do que a sociedade quer para gente, das expectativas de amigos, familiares e até nossas próprias. Ao nos identificarmos com essa imagem, é bastante difícil e requer coragem olhar para si próprio e assumir nossa humanidade, acolhendo defeitos e falhas.
Como ferramentas sugeriu a compaixão e o perdão, para conosco e para com os outros. Na compaixão há o espaço para reconhecer nossas sombras, aceita-las, e mais importante, acolhe-las como sendo parte de nós. Isso não significa nos orgulhar de defeitos, mas diminuir a auto-crítica e permitir atenção para nos aprimorarmos.
No perdão há espaço para vir a termos com os momentos que erramos, que não fizemos o bem, e nos conectar com nossa maturidade, ou consciência, do momento presente, onde conseguimos nos colocar no lugar de auto-observação.
Pra quem ainda achava que tudo isso era auto-ajuda e amorosidade, vale se atualizar: a ciência estuda e segue comprovando.
*artigo escrito por Rafael Ottaiano, fundador da Positiv Network.
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Um dos melhores artigos da coluna disparado. Acredito que valha mais aprofundamento, afinal vejo que saúde mental é a prisão moderna, QE > QI
Ótimo artigo! Pena que breve.
Que todos tenham mais empatia e se coloquem no lugar do outro. Steve Jobs já dizia: “só é possível conectar os pontos olhando para trás”. Hoje podemos perceber que determinada atitude de alguma pessoa pode ter sido “errada”, mas é possível que você, inserido no mesmo contexto, sem as informações de hoje, também tome alguma atitude inadequada.
Acho que cabe a quem percebe dar um toque com o objetivo de auxiliar, dando a chance de rever o erro, e não de acabar com a pessoa pra sempre.
Gostei muito da matéria, e não tinha pensando nisso ainda, sobre cancelar pessoas no meio digital. Essa questão do espelho, eu sempre me policio desde que comecei a perceber essa questão numa colega de trabalho. Tudo que ela criticava no cliente eram atitudes que ela próprio tinha. Eu nunca comentou com ela isso, mas passei a me observar mais toda vez que criticava alguém. Agora, outro dia entrei por acaso num grupo que não tinha nada ver com o que eu penso. Até fiquei um tempo para tentar entender como eles pensavam, mas não deu. Não dou conta de tudo nos meios virtuais. Sai.